Pois então, era uma quarta-feira como as outras, hora do almoço, correria, de tarde ia ter aula... Mas fomos nós 3, Dra Fulô, Dra Lalyta e Dra Fuynha visytar as crianças.
O caminho até a pediatria estava sendo animado, nós estávamos à vontade, mas não me recordo bem de cada coisa que aconteceu. Só me lembro direitinho do momento em que, já na pediatria, as palhacinhas perceberam uns pedaços de isopor jogados no chão. Acho que tinham sido usados pra proteger uma geladeira nova... Mas, enfim, o importante é q um deles tinha o formato de uma TV, daquelas antigas, com um buraco grande e quadrado para ser a tela e um espaço ao seu lado, onde ficariam os botões para mudar o canal. Logo surgiu a idéia de fazer um canal de televisão, mas, no vai-e-vem dos jogos de clown, a gente acabou deixando a televisão de lado.
Muito bem, fomos aos leitos e brincamos muito com muitas crianças, elas estavam bem receptivas e nós estávamos muito livres.
Bem, o importante é que havia um leito no qual não podíamos entrar. Já quase na hora de ir embora, passamos em frente a ele e lá dentro havia um garoto que estava cheio de vontade de sair e ir brincar com a gente no corredor, mas que foi barrado pela sua mãe. "Não pode", disse ela. E os olhinhos dele ficaram tristes... :(
Eu já o conhecia, apesar de não saber o seu nome. Ele já estava internado no hospital há bastante tempo e sempre foi um garoto esperto, cheio de energia. Ele brincava por todo o corredor, correndo atrás de nós, inventando jogos e mais jogos, e sempre com seu abdómen globoso, elevado, indicando que havia algo errado com seu corpo.
Ficamos tristes tb ao ver q ele queria brincar, mas ñ podia. Naquele momento de impasse, sem saber o q fazer, veio a interna e nos disse q ele realmente ñ podia entrar em contato conosco, pois havia sido submetido a um transplante hepático e estava tomando imunossupressores.
Foi então q nos veio à lembrança a televisão, ou melhor, a tevelisão!!!!!!!!
Tudo, a partir daí, começou a ser mágico!!!!! Fomos buscar o isopor e o colocamos na janela de seu leito (a qual é toda fechada e de vidro transparente, barrando o contato, mas não a visão nem o som). Começamos com um programa de entrevistas apresentado pela Dra Lalyta, e logo fomos a um programa de música, depois a um de ballet (ops! mas ele é menino, não menina), então passamos a um jogo de futebol... Tentamos tb fazer as propagandas... E era ele quem mudava os canais, conforme queria ou conforme sugeríamos. Todos ao redor assistiam com admiração e tb participavam!!!!!!!! Foi simplesmente maravilhoso! Os olhos dele brilhavam de encanto!
Na hora de ir embora, pedimos, autorização para levarmos a tevelisão à palhaçolândia. E, no caminho de volta, a Dra Fuynha foi fazendo entrevistas com as pessoas que passavam e as apresentava em seu programa. Ah! Elas tb mandavam beijo pros parentes q as estavam assistindo em casa!
Foi engrandecedor!!!!!!!!! Tanta liberdade!!!!!!!!!! Tanta alegria!!!!!!!!!! Tanta certeza de estar sendo importante para fazer o outro sorrir!!!!!!!!!!!!!
Mas o q mais me marcou nisso tudo e o q mais me impulsionou a escrever este relato foi o comentário da Elaine (a Dra Lalyta) já na sala do Y, já sem maquiagem e já indo embora. "Nayan, vc percebe como as coisas são? Como as coisas q têm q ser são? Por que a gente encontrou aquele isopor? Não foi coincidência... Vc entende? Não é?"
E essas palavras trouxeram ainda mais alegria ao meu coração, pois trouxeram sentido pra tudo aquilo q tínhamos acabado de viver... E eu tive, mais uma vez, certeza de q o Amor realmente existe, zela por nós e nos utiliza como instrumentos para cuidar do outro. Se estamos disponíveis a doar o nosso amor e tomamos essa decisão livremente, o Amor conduz o nosso amor aos corações que necessitam de carinho e de atenção, preenchendo-os. Louvado seja o Amor, q nos consola, q nos dá sentido e q faz novas todas as coisas!
A frase q ñ saiu da minha cabeça em nenhum momento daquela tarde foi: "Eu sou felyz porque eu sou palhaço!!!!!!!!!!!!!!"
Nayan Cristina (Dra Fulô)