quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Dia de Marília

A long, long, long, long time ago!


Hoje a visita poderia ter sido do Manuel, o menino que se diverte com um aperto de mão mega-ultra-hiper-moderno (tapa, murro, cotovelada, bundada, e volta ao início); Poderia ter sido do Vítor, o menino quieto, um tanto emburrado, que se mostrou o maior fazedor de bolas de sabão do universo (tchram!!); Poderia ter sido da Luana, banana, montana, ou tantos outros nomes que ela me falou; Poderia ter sido da Diana, a menina que se empolga com o tambor e toca que parece gente; Poderia ter sido da Gabriela, menina gasguita, das calças amarelas, que grita que só ela, corre feito uma gazela, e que tem um gato com nariz vermelho que não é um PALHAAAAAÇO ("É só um gato, palhaço BURRO"), ou poderia ter sido do Francisco wesley, que eu ainda não sei se o Francisco tá em cima ou se é o Wesley que está embaixo; ou até poderia ter sido o DIA DAS MÃES (coisa que essa palhaça que vos fala só lembrou quando viu um coração enorme na pediatria), mas não hoje não foi o dia de nenhum deles...

Hoje foi o dia de Marília!!!

(Recapitulando)

Antes visita haviam feito um pedido (ou dado uma ordem): "Visitem a Marília!" A resposta, um NÃO, mas o pedido foi explicado e na cabeça surgiram várias ?????? "Tá, a gente visita, mas vou fazer o que?"

(recapitulando II)

A Marília tem uma história difícil. Marília não resposndeu em nenhuma das visitas, nenhum contato, nenhuma resposta. Marília não interage, Marília se isolou do mundo pois o mundo se mostrou pra ela com sua face ruim. Mundo ruim de se viver, nada bom de se conhecer. E talvez no seu estado de catatonia, no seu mundo (só dela) paralelo, ela encontre algo melhor. Até onde eu sei, Marília teve sua vida mudada logo as 13-14-15 anos. Cedo ela teve que encarar o lado ruim da vida. Perdeu a mãe, pelas mãos do pai. perdendo assim o pai também. E logo hoje, no dia das mães, a visita foi dela. (irônico, não?)

Talvez tenha sido mais fácil 9foi mais fácil) por ela já estar desperta. Um caminho apareceu, caminho que através da música (que alguns chamam apenas de barulho), danças malucas e palhaças surtadas fez aparecer "um sorriso", uma interação. Dança que fez entrar na dança, Sorriso que tirou sorrisos, abraço que ganhou um abraço (eu ganhei um abraço, e o dia, e o mês, e um monte de coisa pra pensar). E olhares, troca de olhares...significam tanto né?

No fim?
O dia foi dela, não podia ser diferente, mas ainda é difícil falar de Marília, é difícil falar alguém que já sofreu tanto. Alguém que por sofrer se isola e "ao se isolar" é "obrigada" a lembrar e quando lembra...sofre. Jamais vou conseguir entender a dor de Marília e talvez por isso seja tão difícil e contraditório falar de felicidade ao ver a reação num rosto de alguém que perdeu tudo.
É uma benção poder proporcionar um minuto, um momento de algo bom a alguém que tá tentando esquecer tudo.
Será que por alguem segundo ela esqueceu? Vou sempre me perguntar isso.

O que fica?
Uma lição de vida, e uma dúvida: será que ela quer sair do mundo que ela criou pra enfrentar esse mundo que nem sempre é feito de maquiagem ou balões? esse mundo que principalmente pra ela não foi tão belo assim?
Será?

...

É, podem ter sido ditos vários "feliz dia das mães, dos pais, dos filhos, dos tios, dos palhaços, de tudo que é coisa", mas definitivamente o certo é "Feliz dia de Marília"...é, dia de Marília.


Lorena William (Dra. XyXyRyCa)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Hoje tem visita! Já reagi a esse pensamento de tantas formas diferentes... Correndo entre minha casa e os campi, passando tempo com amigos ou namorada, pertubando os vizinhos tentando aprender a tocar bateria e até vivendo no meio de tudo isso. Quantos 30 minutos teriam passado desde a última visita até 30 minutos antes dessa de hoje? Difícil dizer. O fato é que o humor variou muito nesses tempos e estar “louco pra começar logo” ou “nem tão afim assim” não muda muita coisa, pois já passou da hora de começar a se arrumar. A roupa e a maquiagem não é a que eu idealizava, talvez nunca seja... enfim: -Boh simbora boh que nós tâmo atrasado!

Humanizar, horizontalizar as relações, melhorar o ambiente hospitalar. Com o tempo essas diretrizes tem se incorporado as minhas crenças mais firmes, sem dúvida. Mas a impressão que tenho é que sempre vai haver uma pontada de insegurança: - Meu Deus, quê que eu to fazendo aqui!? Meus amigos nunca riram muito das minhas piadas... e se não der certo hoje? – Te vira, Birimbelo! Qualquer coisa bota a culpa nos loucos que te selecionaram!

Tentamos então distrair, interagir, fazer rir: acompanhados, acompanhantes, cuidadores, guardas, mulher dos bomboms... Assim, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. E quantas vezes não é nem um pouco fácil, hein? Mas, penso que mesmo quando a tentativa é frustada, quando aparentemente somos rejeitados, a mera tentativa de trazer a tona, por debaixo de tamanha carga de sentimentos ruins, um sorriso, será sempre louvável.

Mas de vez em quando tem Aquele Momento. Aquela hora que você brinca com qualquer coisa e sente os olhos a sua volta, falando com você. Eles anseiam por sua próxima ação, pela sua aproximação, de fato. E você, o que faz? Bom, ser você mesmo (você-Seu-palhaço) nunca foi uma opção tão boa, talvez simplesmente porque não exista outra mesmo...

E para a sensação que sentimos quando conseguimos realmente interagir com os pacientes ou acompanhantes, sentindo que eles estão curtindo de verdade, existe alguma palavra que explique de forma mais precisa do que inexplicável? Creio que não... Na capacitação, fomos orientados: “o palhaço sente todas as emoções no último nível, sempre no máximo, e com o corpo todo!” É engraçado como essa informação é automaticamente incorporada (de fato) à atitude do Ipsloniano na visita. Imersos num enovelado de euforia e energia que emana de nós palhaços e dos rostos que nos olham (ah! Como eles só precisavam de um toquezinho para emanar essa energia...), é fácil sentir e fazer tudo “no máximo”, simplesmente porque alí estamos nos fazendo intensidade, sendo ela. Não poderia ser diferente. Não quando feito com amor, de ambas as partes.

Então é isso: o quarto da enfermaria está preenchido totalmente por um ar que nitidamente já não é mais transparente: -Num tá vendo? – o ar está denso de tantos sentimentos leves e belos, não mais de tédio, desconforto e dor. – O Chefinho tá chamando! – despedidas rápidas disfarçam a falta que aquele momento vai fazer e a imensidão que ele representa. Sala do Y, paninhos umedecidos, roupa umedecida (por um líquido não tão cheiroso, é verdade), coração vazando de sentimentos positivos, tempestade de felicidade. Pena que acabou. Festa, por que semana que vem tem de novo.




Esse texto é do meio de 2009. Tava mexendo aqui e o encontrei. Resolvi postar. Beijos!
Humberto Miná (Dr. Birimbelo)