quarta-feira, 18 de julho de 2007

O Amor que cuida daqueles que precisam do nosso amor

O dia exato? Não sei... acho que foi 13 de junho. Já faz mais de um mês e, por isso, eu tava quase desistindo de escrever este depoimento. Mas foram tantas as riquezas que a visita desse dia trouxe ao meu coração, que eu não as posso guardar só pra mim. Tenho certeza de que minha memória vai falhar em relação aos detalhes dos acontecimentos, mas a essência da lição que aprendi nesse dia com certeza virá à tona, pois ela é tão simples e tão linda que eu jamais a esqueceria.
Pois então, era uma quarta-feira como as outras, hora do almoço, correria, de tarde ia ter aula... Mas fomos nós 3, Dra Fulô, Dra Lalyta e Dra Fuynha visytar as crianças.
O caminho até a pediatria estava sendo animado, nós estávamos à vontade, mas não me recordo bem de cada coisa que aconteceu. Só me lembro direitinho do momento em que, já na pediatria, as palhacinhas perceberam uns pedaços de isopor jogados no chão. Acho que tinham sido usados pra proteger uma geladeira nova... Mas, enfim, o importante é q um deles tinha o formato de uma TV, daquelas antigas, com um buraco grande e quadrado para ser a tela e um espaço ao seu lado, onde ficariam os botões para mudar o canal. Logo surgiu a idéia de fazer um canal de televisão, mas, no vai-e-vem dos jogos de clown, a gente acabou deixando a televisão de lado.
Muito bem, fomos aos leitos e brincamos muito com muitas crianças, elas estavam bem receptivas e nós estávamos muito livres.
Bem, o importante é que havia um leito no qual não podíamos entrar. Já quase na hora de ir embora, passamos em frente a ele e lá dentro havia um garoto que estava cheio de vontade de sair e ir brincar com a gente no corredor, mas que foi barrado pela sua mãe. "Não pode", disse ela. E os olhinhos dele ficaram tristes... :(
Eu já o conhecia, apesar de não saber o seu nome. Ele já estava internado no hospital há bastante tempo e sempre foi um garoto esperto, cheio de energia. Ele brincava por todo o corredor, correndo atrás de nós, inventando jogos e mais jogos, e sempre com seu abdómen globoso, elevado, indicando que havia algo errado com seu corpo.
Ficamos tristes tb ao ver q ele queria brincar, mas ñ podia. Naquele momento de impasse, sem saber o q fazer, veio a interna e nos disse q ele realmente ñ podia entrar em contato conosco, pois havia sido submetido a um transplante hepático e estava tomando imunossupressores.
Foi então q nos veio à lembrança a televisão, ou melhor, a tevelisão!!!!!!!!
Tudo, a partir daí, começou a ser mágico!!!!! Fomos buscar o isopor e o colocamos na janela de seu leito (a qual é toda fechada e de vidro transparente, barrando o contato, mas não a visão nem o som). Começamos com um programa de entrevistas apresentado pela Dra Lalyta, e logo fomos a um programa de música, depois a um de ballet (ops! mas ele é menino, não menina), então passamos a um jogo de futebol... Tentamos tb fazer as propagandas... E era ele quem mudava os canais, conforme queria ou conforme sugeríamos. Todos ao redor assistiam com admiração e tb participavam!!!!!!!! Foi simplesmente maravilhoso! Os olhos dele brilhavam de encanto!
Na hora de ir embora, pedimos, autorização para levarmos a tevelisão à palhaçolândia. E, no caminho de volta, a Dra Fuynha foi fazendo entrevistas com as pessoas que passavam e as apresentava em seu programa. Ah! Elas tb mandavam beijo pros parentes q as estavam assistindo em casa!
Foi engrandecedor!!!!!!!!! Tanta liberdade!!!!!!!!!! Tanta alegria!!!!!!!!!! Tanta certeza de estar sendo importante para fazer o outro sorrir!!!!!!!!!!!!!
Mas o q mais me marcou nisso tudo e o q mais me impulsionou a escrever este relato foi o comentário da Elaine (a Dra Lalyta) já na sala do Y, já sem maquiagem e já indo embora. "Nayan, vc percebe como as coisas são? Como as coisas q têm q ser são? Por que a gente encontrou aquele isopor? Não foi coincidência... Vc entende? Não é?"
E essas palavras trouxeram ainda mais alegria ao meu coração, pois trouxeram sentido pra tudo aquilo q tínhamos acabado de viver... E eu tive, mais uma vez, certeza de q o Amor realmente existe, zela por nós e nos utiliza como instrumentos para cuidar do outro. Se estamos disponíveis a doar o nosso amor e tomamos essa decisão livremente, o Amor conduz o nosso amor aos corações que necessitam de carinho e de atenção, preenchendo-os. Louvado seja o Amor, q nos consola, q nos dá sentido e q faz novas todas as coisas!

A frase q ñ saiu da minha cabeça em nenhum momento daquela tarde foi: "Eu sou felyz porque eu sou palhaço!!!!!!!!!!!!!!"
Nayan Cristina (Dra Fulô)

domingo, 8 de julho de 2007

Essa vai para os no vYlhos sentirem um pouco do estranhamento que sentimos ao iniciarmos as visitas !
>> Quarta-feira. 22/11/2006
Foi um dia de reflexão. Foi a primeira vez que eu entrei no HU de jaleco, como Daniella e não como dra. GasguYta.Passar pela roleta da entrada sem a preparação física e psicológica característica da entrada da paYaça, ver toooooodas aquelas pessoas sentadas esperando e não poder (ou ter vergonha de) brincar, subir as escadas, descer a rampa, subir mais escadas, sempre andando muito rápido quase correndo, atrás da professora que , como ambulatório lotado , queria chegar logo. Foi a primeira vez que eu entrei no HU como estudante de medicina, mas senti no fundo do coração a dra. GasguYta pulsando, doida para gritar um "AIIIII !!! ". Penso que isso reflete um pouco do trabalho de humanização e dedicação que realizamos. Talvez nós, principalmente os novatos, que ainda estamos em fase de experimentação de sentimentos e situações novas, não tenhamos ainda muito claroo quanto o palhaço é parte de nós. Essa ficha caiu em mim nessa quarta-feira. Daí , fui para a visita. Foi um dia especial, fomos em 5 !!! Os jogos surgiram, usamos o estetoscópYo para mostrar às crianças o som do próprio coração (Será que pelo menos uma delas já sabia pra quê serve aquele colar esquisito que o doutor usa e encosta no peito dela ???), brincamos de balão, de examinar a Barata/Formiga/Joaninha do Eugênio, de operar o nariz da dr.a Gasguyta.... O Victor estava se sentindo um médico, colocando o estetoscópio no ouvido da dra. Gasguyta e fazendo-a escutar seu coração. A cada "tum-tum" que a palhaça transformava em careta ele abria um sorriso tão lindo que escondia o lábio todo ferido. Aquela risada gostosa junto com o brilho nos olhos a paYaça nunca vai esquecer. E ao final da visita, chega um pedido (infelizmente não lembro o nome da criança): " Ei quando vcs vierem de novo, traz o TELESCÓPIO !" . Gasguyta,Lalita e Junim se entreolharam com ar de interrogação.... Mas que telescópio ?!?!? , perguntaram-se os palhaços. Quando daí chega o Victor trazendo na mão o tal telescópio, que nada mais era do que o estetoscópio !!! "AAAAAAAAAAAHHHHhhhhhhh !!! O telescópio !!! " , disseram os palhaços, "pode deixar que a gente traz de novo!" . Foi um dia especial. Nunca vou esquecer.