sábado, 18 de agosto de 2012

Transcendêncya na Ymanência

É um conceito filosófico tão grandioso e tão cotidiano.

É tudo que não se separa do que é visível, mas que se precisa um pouco mais de espírito para enxergar.

É a criança por trás do sorrisso
E o sorriso por trás do adulto
É o menino por trás da gente grande.

É o que pode brincar por trás do que está doente
E o que está doente, mas ainda tem forças
São as forças que surgem mesmo depois das cinzas.

São as lágrimas que escorrem da areia dos olhos
São os olhos que refletem o lago da alma
É a alma que faz correr as lágrimas do nosso sangue de areia.

É o brilho do sol
Que não precisava ser tão dourado para ser sol
Mas, só assim nos encanta vê-lo ao deitar.

É o encanto
Que não deveria existir em um mundo cheio de dores
Mas, é a própria dor por trás desse encanto

É o vento e a areia nas costas
Que sozinhos não são nada
Mas juntos, vento, areia, costas e pôr-do-sol
Me fazem mesmo nascer de novo

É o ventre
Preenchido por quase nada
É um nada que me deixa feito um coração de menino
É esse menino que daqui a pouco virá
E, por trás desse menino (menina talvez - será linda!), o sopro, o choro, o brilho da lágrima, o próprio menino, ou aquela menina, o universo inteiro, o Deus...

E eu deitado no ventre dela a já muito ouvi-lo dizer quase nada de tudo, tudo, tudo que eu ainda não sei ao vivermos juntos.

Somos nós três.

(Poesia em homenagem a nossa gravidez)

Allan Denizard (Dr. Acelora, ops, Acerola)

domingo, 12 de agosto de 2012

A tragicomédia do século XXI: sobre narizes, palhaços e sociedade.

Primeiramente, olá.
Antes de postar o relato queria pedir desculpas em avanço por qualquer ofença que eu possa causar. =P
Sinceramente, espero que isso não aconteça. Qualquer generalização é mera licença poética. xD


"Bafo. Desabafo.

O que existe debaixo dessa máscara?! Bem, minha mãe sempre me disse que eu tenho mal hálito, um verdadeiro bafo, pela manhã. E assim eu acordo com o descomforto do meu hálito e dessa pergunta. A resposta é fácil. Um abismo. Trágico, não é mesmo?! Porque ninguém o vê?! Porque a máscara o disfarça. Um abismo no qual não desabo pelo simples fato de estar acostumado a ficar pendurado em sua beirada. O que me segura?! As interacções.

E por sinal a primeira, entre farofa de biscoito, amor e muita saliva, ocorre. Entretanto, ela não é vista. Ou melhor, não é sentida. Mas como não, se ela foi logo à altura dos seus olhos?! Será que a ela faltou algo?! Será que em mim faltou algo?!

É melhor esperar para descobrir o que me falta. Vamos seguir o caminho até o fim e ver o que me espera. Vamos seguir a listra amarela.

Mas até nesse simples gesto descobrimos o quão a vida é mesmo sem sentido, traiçoeira. Que nada é completo. Porque a listra amarela, embora um guia, lhe segue só até certo ponto da jornada, e então ela lhe abandona, acaba, do nada.

Você se sente desamparado, sem conhecer nada nem ninguém. Sem ideia de onde está nem de para onde ir. "Onde, em minha jornada, foi que eu errei?! Porque você teve que ir!? Como foi que eu vim parar aqui?!"

Cada passo parece em falso. Cada segundo desamparado cresce a certeza de que se está no caminho errado. Então um frio percorre a tua espinha. E é nesse momento que você descobre o quão grande é a sua força interior, mesmo com as adversidade e incertezas, para continuar adiante. Sempre radiante.

E então aparece a luz no fim do túnel. As luzes da cidade. Da cidade da criança. As luzes são seus habitantes. Rostos conhecidos, brilhantes mesmo na claridade da manhã. E então você percebe que não está mais sozinho e talvez nunca tenha estado. A verdade é que, ofuscado pelo medo, você simplesmente não queria enxergar. Talvez era isso o que me faltava, ou o que faltaram a mim, a visão.

E então começa a correria. E aqui confirmo minha teoria. Estou rodeado por cegos. Cegos que, como qualquer deficiente, procuram a sua cura. Cegos que, mesmo sem saber, são a minha cura. Mal percebem eles que o que mais procuram está logo em baixo dos seus narizes. Ou melhor dizendo. São os seus narizes.

E assim, entre lápis preto, amor e tinta, muita tinta, começa a terapia comunitária. As vozes vão afinando, os narizes vão aparecendo e as interacções, antes ignoradas, agora começam a serem vistas e sentidas! E assim, com os seus narizes, é que finalmente eles me encontram. Só com os narizes eu consigo ser visto!

Então adentramos o hospital. A linha amarela está lá novamente. Mas dessa vez, ninguém se importa com ela. Porque não mais estamos preocupados com o nosso destino. Qualquer lugar é justamente onde queremos estar. Em casa, juntos, no nosso lar.

E eu vou te contar, essa casa nossa tá com uma praga que é de todo tipo e tá em todo lugar. São os palhaços. E parece que eles vieram pra ficar. E aqui mais uma vez reforço a minha teoria. Só tinha um  requisito pra ser palhaço, bastava ser gente! E agora, que alegria!, todos viam o mesmo. Todos os palhaços reconheciam os palhaços! Sempre soube que o que falta ao mundo é reconhecimento.

E assim a manhã veio, e, juntos, enxergamos esse mundo maravilhoso que nos cerca. Mas infelizmente o tempo não quis ficar ao nosso lado e foi embora. E a manhã acabou. E então, curiosamente, alguns voltaram a procurar a linha amarela. E as pessoas começaram a tirar seus óculos. Desculpem, quero dizer, seus narizes. E simples assim, alguns palhaços foram embora, ficando somente os que já povoavam aquela nossa nova casa antes da nossa chegada.

Minto. Todos os palhaços continuavam lá. O que aconteceu é que os que perderam os seus narizes ficaram cegos novamente! E além de cegos, parece que ainda perderam a memória! Será que elas esqueceram que todos os outros palhaços do hospital não tinham narizes?!

Esta é a minha teoria. Esses narizes são mágicos. Na verdade, eles são óculos especiais, que permitem o seu usuário ver através da máscara do próximo e enxergar, além do seu próprio nariz, o nariz alheio. Mas é engraçado, essa é uma habilidade inerente ao ser humano. Porque então ele precisa que alguém use um nariz pra poder usá-la?! Porque você nega o seu nariz?! Ele ainda estão aí, eu o vejo mesmo através de sua máscara, e ele está bem fixo ao seu rosto, ele é o seu rosto. Será que você não consegue senti-lo?!

Não deixem que a sociedade lhes dite a normalidade, pois esta é uma ilusão imbecil e estéril. Não deixem que a sociedade diga que as palhaçadas, ou as interações, sem um nariz para tal, são, na verdade, aberrações. Engraçado, isso. Quando se tem um palhaço por perto, todos se permitem e querem ser palhaços. Mas quando o palhaço está ausente, todos tem medo de serem os palhaços.

Por isso, os suplico mais uma vez. Não deixem que a sociedade tire de você o seu nariz. Não deixe, nem por um segundo, de enxergar ele. Na verdade, seja como o Rudolph. Deixe o seu nariz bilhar, vermelho e intenso. Faça questão que o mundo o veja e que ele lhe seja motivo de orgulho. E ajude o mundo a ver que ele também tem o seu próprio nariz, e que ele é lindo!

E, mais importante ainda, nunca deixe de enxergar e reconhecer o nariz do próximo. Pois, talvez, esse nariz seja a única coisa que ele tem e que o mantêm seguro à beira do abismo.

Cá estou novamente. Por uma máscara tornado invisível em meio a uma multidão de cegos. Por quanto tempo?! Pelo tempo que meu naryz me sustentar.

Bar. Desabar."

Dr. Zynho

Primeira vysyta

Ô coisa difícil é começar. Todo começo parece meio sem caminho, meio torto, meio malfeito, mas não menos esperado, não menos alegre, não menos animado. Dormir foi complicado. Era a sentença de um dia que teimou, teimou, mas chegou. 

Ninguém acorda animado as 6:30 da manhã, mas aquele dia, já cheio de magya, era sim diferenciado. Fiquei pensando se eu deveria mesmo ter dito que iria na faculdade pegar os apetrechos. Sono, muito sono, fazendo jus ao Z, zzzzz.

Mas acho que nada melhor que o começo ser na salynha, linda, pequena, minha, nossa. Parece que ali era mesmo lugar certo de começar.

Cheguei ao Sabin, quase lugar sagrado, se o mundo é cheio de cheiros, ali tem um que é só dele (e é bom!). Achar a casa da criança era o primeiro mistério do dia, cadê a linha amarela Dr. Píncipe? Mais tarde acho que a gente ia descobrir mesmo era que tinha uma ruma de píncesa nesse caminho.

Arruma, arruma, arruma! CADÊ O LÁPIS PRETO, PELO AMOR DE DEUS? Ali, montada, lynda! Mas cadê o nome, dra? Não sei ,não faz pregunta difícil, dra fofolete, essa eu passo. Na dúvida, me chama de ei! opa, pera, ey!

Você sai meio tímido. E se ninguém rir? Mas é assim, mesmo no sem querer que se faz um sorriso. Muito corredor, MUITO corredor! Gente, brincadeiras, capitães. Cadê as crianças? ELAS TÃO ALI, alguém disse.

E ao abrir a porta, o mundo ali era dyferente. A enfermaria era a 201, 2+1=3, eu nasci no dia 3, acho que tava acontecendo ali um outro nascimento, talvez apenas com um pouco mais de panqueique, né, angel do céu?

Posso entrar? Aprendi que assim é mais educado. SIM!! Em coro. Que alegria!

Em meio a muita zuada, alguém não olhava pra mim de jeito de nenhum, mas eu tinha um nariz vermelho, grande, por que ela não olha pra mim? Ela é cega, alguém diz. Ahhh, tá explicado, ela só me vê é diferente. Cheguei perto, falei pra ela pegar em mim, esse era o jeitinho dela de me ver. Eu conheci um palhaço que nem via moscas volantes com os olhos, mas via mais nas pessoas do que eu mesmo vejo, certo?

Além dessa bonita, tinha um menino com o olho mais lindo do mundo, que queria porque queria saber qual era meu nome. Não tenho nome, já te disse! Mas eu quero saber o teu nome de verdade! Gente, eu não tenho nome! Vamo fazer assim, concurso pro nome do palhaço!! YYYAAYY, pessoal adora concurso, sempre soube.

Em meio a muita confusão e até um pouquinho de briga, chegamos à conclusão que eu deveria ter um nome quadruplo, porque eles gostavam de mim e gente com muito nome é fino. Meu nome era Dra. Anna Sabrina Evelyn Rayanne.

Tudo que é bom dura (bem!) pouco e eu tinha outros quartos pra passar! Era hora de dá tchau. Não, fica mais um pouco. Quem resiste? E além do prolongamento, todo mundo quis tirar foto. Não é que nome quadruplo te deixa on top mesmo...

Tive que ir, mas antes cheguei no ouvido de quem me via melhor, a que falaram ser cega, e disse que aquele era o meu primeiro dia e que ela tinha tornado ele ainda mais especial. O que eu recebi em troca, foi o sorriso mais sincero desse mundo. Isso é amor e ele se escreve mesmo com y.

Lááááá na frente encontrei uma senhora que era a cara da riqueza e falou que eu era a cara da riqueza na favela!! menino, o que um nome quadruplo não faz com a gente, tô estrela hoje. Escuto alguém perguntando se podia entrar, quem era? Dr. Foca, claro que pode, deve! Com emoção ou sem emoção? COM EMOÇÃO!

Dr. Foca, eu e a ryca acompanhante dançamos muito “it’s my love”, éramos as novas empreguetes! Dr. Baby chegou pra ganhar o coração da nossa acompanhante, ela não se segurava de tanto amor, tomara que uma pimentynhaynhaynha e zynha aculá não escute isso! (corre, baby!). Dr. Caldinho (ui!) veio ainda muito bem acompanhado com a Dra. Zoa.

A gente tem que subir, vaaaamo subir! Pra qual andar? Sei não, aperte aí qualquer um. 4!
Lá chegamos e um rapazinho cismou com o pobre amigo Foca. Essa Foca apanhou, apanhou, apanhou, até eu fiquei meio sensibilizada com o pobre amygo, mas já passou.

Lá eu conheci a Maria Luiza, que era tal qual a gabrielinha, sua boneca. Fofa que dava vontade de apertar todinha. Conversamos, brincamos, sentamos no chão, mas já era 11, era hora de partir. Ô abraço gostoso eu ganhei mesmo assim.

Vamos, vamos, vamos, vamos pela linha amarela! Me senti em oz!

Ainda teve só um tempinho de achar um irmão gêmeo de pança da pessoa nirvânica do grupo e achar, ainda, um casa toda bonita pra Dra. Zoa. Lá é mesmo a casa da criança, pode ser nossa também, né?
Achei ainda um interno, meio capenga, bichinho, só o cybyto.

É hora de dá tchau!
Tchau!


(Por: Lorena Vasconcelos, uma Dra ainda sem nome definido :D)

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A segunda primeyra vez.

Dizem os veteranos que a primeira vez a gente nunca esquece. Eu concordo e ainda acrescento: a segunda primeYra vez também não.




Ausente há seis meses, é hora da Nyna retornar. Retornar? Não, vez que ela nunca foi realmente embora. Via que nas suas andanças pelo mundo sempre tinha algo que a mantinha acordada: um palhaço no meio da rua ou da praça, bolhas de sabão que apareciam como mágica, uma criança que trocava um olhar como se soubesse que ali existia alguma coisa diferente, uma risada ou piada frouxa que escapulia meio que sem querer e várias placas espalhadas na cidade dizendo "há 10 anos a receitar alegria" de um outro projeto. Então ela ficava mais sossegada. Sem o nariz, ela ficava ali, caladinha, esperando quase que ansiosamente uma oportunidade de aparecer.

E a saudade aumentava. Saudade de ver mágica diante dos olhos, de sorriso frouxo, abraço apertado como quem nunca quer soltar.
Mas essa que teimava em apertar dentro do peito estava com os dias contados, logo era hora de de voltar.
Ih. Voltar. "Será que ainda é tudo daquele mesmo jeito?" Que mesmo jeito, se tudo era novo o tempo todo? Expectativas altas, que lembravam a primeyra vez, mas eram mais intensas, pois era a segunda primeyra vez.




E a tranquilidade começa a aparecer, junto com a salynha que vai se (re)desvendando ao abrir a porta. Parede laranja, colchão, Sr. Cão, Nemo, lousa. Home. E você se sente como se estivesse recebendo um abraço de coala. Um coala laranja de 2x2.

Cada parte da preparação é aproveitada como quem desfaz as malas, tirando presente por presente, querendo aproveitar e relembrar tudo. Nem tudo é como antes e isso não é necessariamente ruim. Nem bom. É diferente. A linha que separa a Karine da Nyna fica mais tênue do que normalmente é e fica uma confusão de Karinyna que ninguém sabe quem é quem. Aliás, algum dia já soube?

A boa e velha mágica acontece: o naryz. E a voz começa a afinar, a ficar mais gasguita, os pés com 2 dedinhos a mais que escutam começam a entortar e então Nyna retorna à casa, sentindo como se nunca tivesse partido.

Rostos conhecidos facilitam a vyda e matam a danada da saudade: Bonner, Pitoco e Groselha, vocês não imaginam o quanto é bom revê-los!

E rostos ainda não-conhecidos que permitem ouvir uma besteira,  um "olá boa tarde", que se permitem deixar conhecer, como é bom vê-los. O novo, de novo.
Aqueles que se deixam levar pela presença do nariz vermelho, que deixam (ou não) seus livrinhos de lado, que se dispõem até a desfilar no meio do corredor, que conseguem deixar que o sorriso seja arrancado, que fazem com que o foco seja na sobrinha modelo de 4 nomes que diz que vai pro North Shopping, mas vai pro hospital e todas aqueles que dividem o que é tão precioso: seu sorriso.

E vai acontecendo, naturalmente, como deve ser. Interação que tem um começo difícil, tem como meio uma risada frouxa e leve e termina com um "tchau, até logo."

É coração, já pode acalmar, você está em casa. De novo.


Karine Aderaldo,
Dra Nyna Piquininyna Esmeraldyna.