sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Eram os olhos...

Eram duas palhacinhas (ou seriam palhaçonas????) mais uma vez atrasadas correndo pelo hospital, que apesar de sempre prometerem não fazer barulho, já chegavam com o timbal na mão, fazendo batucadas e cantarolando musiquinhas.
Enquanto elas gastavam toda sua energia, que para ambas parece não ter fim, ouvia-se um som, talvez o som mais desanimador de todos nas suas visitas. Não é o choro de uma criança, este é só um desafio que as instiga a transformá-lo em outro som, o emitido por uma gargalhada. O som era o chefe. Aquele que diz por hoje é o fim; aquele que as tiram de um mundo paralelo, um mundo de sonhos, de alegria, a “Terra do Nunca”, uma dimensão talvez só conhecida pelas crianças e palhaços; aquele que diz é hora de voltar para realidade; aquele capaz de trazer um pouquinho de tristeza para o rosto de todos que estavam naquele mundo. A ordem que, infelizmente, deve ser cumprida.
Xyxyryca, como sempre não atendia ao chamado do chefe, deixando Cartola louca. Cartola tentava, tentava, tentava, mas a Xyxyryca é teimosa. E depois de muito, mas muuuuuuuito tempo, Xyxyryca saía da pediatria com um sorriso na cara, o sorriso que Cartola já conhecia bem, que diz aprontei outra vez. Equanto as duas corriam mais uma vez atrasadas, Cartola correndo o triplo que Xyxyryca, ouviu-se um novo som.
“Ei, palhaços!!! Palhaço?!?! Tem algum palhaço aqui?!?!” Talvez seja esse o bordão do Y, mas é essa pequena brincadeira que mostra que ele está sempre pronto para interagir. Em pouco tempo elas descobriram que havia um aniversariante ali. Mas e o chefe?? Ah! Que chefe?!?! Ambas estavam de volta ao mundo delas.
Elas foram então arrastadas. Cartola estava totalmente perdida. Ela nunca estivera naquele lugar antes. Ssshhh!!! É aqui! E naquele clima de silêncio, surpresa e ansiedade, elas entraram no leito cantando Parabéns!
Os olhos do aniversariante brilhavam e transmitiam a felicidade que ele sentia naquele momento. As palhacinhas cantavam e batucavam todas as músicas de parabéns que elas conheciam. E logo apareceram várias máquinas. Foto, foto, foto!! As palhacinhas, como num reflexo, se colocaram ao lado do aniversariante e fizeram pose. E ele, tão feliz, fazia carinho nelas. Cartola também queria registrar aquele momento, era um momento de felicidade plena, e pediu para baterem uma foto no seu celular. Todos estavam bastante felizes. Talvez as pessoas não saibam como um sorriso é importante para a felicidade daqueles palhacinhos que levam alegria para os outros. Não saibam que tudo não passe de uma troca, uma transmissão de felicidade mútua e como os palhaços tiram sua energia de um sorriso.
Naquele caso, contudo, eram os olhos. Eram os olhos que brilhavam, os olhos que transmitiam uma boa energia. E não importava o tamanho daquela pessoa que olhava as palhacinhas. Eram os olhos inocentes e alegres de uma criança. Cartola e Xyxyryca retornaram mais uma vez de sua visita, não houve tempo perdido, mas sim a sensação de felicidade e missão cumprida.

Carla Oliveira