Já fazia muito tempo que eu não fazia visita. Eu já estava achando que a Pinguinho nunca mais ia aparecer. Mas hoje eu acordei com uma certeza muito grande de que eu devia ir lá, mesmo que fosse pra confirmar que meus tempos de palhaça haviam terminado. Cheguei no Albert Sabin e já estava quase todo mundo lá. De longe dava pra ver que eles estavam com aquele frio na barriga, aquela ansiedade boa que a gente tem antes dos momentos importantes.
Fomos levados para aquela parte que tem uma cidade de brinquedos e lá mesmo nos arrumamos. Enquanto eu me pintava lembrei o quanto eu adorava fazer isso. Os novatos me pediram idéias de maquiagem e eu fiquei feliz em ajudar a pintar aqueles rostos ansiosos.
Começamos a interagir com as crianças que estavam naquele local. Era muito palhaço e pouca criança, comecei a ficar com medo porque quando é assim eu sempre travo. Procurei um menino que estava quietinho no banco com um carro de brinquedo no colo.
- Esse carro é seu?
- É, sim.
- Você me dá uma carona?
- Hum rum.
Eu sentei ao seu lado no banco e alguns Novylhos se aproximaram.
- Eles também podem pagar carona com a gente?
- Pode.
Vários doutores-palhaços entraram no nosso carro e nós andamos fazendo o barulho do motor. Os espelhinhos que tínhamos usado na hora da maquiagem tinham virado espelhos retrovisores. Após algum tempo pedi pra parar o carro porque já tinha chegado onde eu queria descer.
Depois eu fui até a janela que dava para o bloco C (nesse nós não podíamos entrar) e vi que a janela tinha braços. “Que coisa estranha!” e tinha também cabeça. Era a Dona Janela. Não falava muito, apenas ria, principalmente quando a Dra. Cartola Joaquina prendia a mão na janela. Depois Dra. Cartola, apesar de ser muito esbelta (“esbelta é a mesma coisa que feia, né?”), ficou entalada na janela. Vários doutores foram chamados para ajudá-la.
Fomos passear no outro bloco. A Dra. que ainda não foi batizada (vamos chamá-la de Ilze por enquanto ;P) teve a idéia de fazer entrevista com os pacientes. Ilze filmava e eu, com meu microfone, perguntava aos pacientes e acompanhantes o que eles estavam achando da estadia no hotel, do serviço de quarto e se os companheiros de quarto roncavam. Encerramos a nossa transmissão “Ao vivo do hospital Alberto Sabido, Dra. Pinguinho, Boa Tarde!”
Mais tarde, uma enfermeira chamou eu, Ilze e Dra. Cartola pra entrar no bloco C, onde tinha uma menina que não queria deixar que colhessem seu sangue. A gente entrou no bloco, mas não podia entrar nos quartos. Ficamos no corredor fazendo brincadeiras na frente das janelas. Ilze, olhando pro seu reflexo, disse: ‘Olha, ela ta lá dentro. Não pode!”. Nós três ficamos brincando com aqueles palhaços teimosos, que não obedeciam quando a gente mandava eles saírem, mas ficavam imitando nossos movimentos. Depois, já com muita fome, fomos ao balcão do posto de enfermagem pedir nosso lanche: pizza, sanduíches, sucos e refrigerantes. A enfermeira anotou tudo e mandou a gente esperar. (Infelizmente nosso pedido não chegou)
Um outro momento legal foi com a Dra. Metidinha. A gente brincava com a boquinha que ficava mordendo o dedo e o nariz das pessoas. Dra. Metidinha sentia cócegas com a mordida no nariz e as crianças, principalmente as pequenas, adoraram.
Hoje foi especial. Eu queria parabenizar os Novylhos pela excelente estréia (Vocês foram ótimos!) e também agradecer, por que o nascimento de vocês fez a Pinguinho renascer.
Mel (Dra. Pinguinho)