sábado, 26 de abril de 2008

O Relato

Ainda cedo, depois de umas provas...
-Aí, visita hj??
-Não, visito não!
-Ei, vamo visitar hj??
-Não, hj não.
-Vamo vai ser rapidinho.
Eu tenho aula do Marcelus, tenho de sair cedo!
-Não.
-Vamo, vamo, vamo?
-Eu não já disse que não, mala!
-Vamo, por favor?
-Ow zé mané, hj não, não tou afim.
-Mas, pq?? É tão bom! Eu te defendo.
-Não tou em clima, tou super estressada!
E não tou a fim de ser saco de pancada de novo!!
-Eu disse, te defendo!
-Té parece, ué....
-Tá.. tou indo almoçar Mas, vamo visitar?
-Não, não e não.

E tudo começou assim...

Xyxyryca já estava quase pronta quanda Cartola entra na sala. Oba, vamo visitar!!! Fuinha aparece logo em seguida. Só o Sybylus que tava com problema existencial, recusou ir. Xyxy resolveu levar tudo que podia e até um sapato meio ronald mcdonald's que encontrou. Cartola com raiva gritava, quem escondeu o prandero?? Quem escondeu o prandero?? E fuinha, em cima da cadeira, fazia da cartola da cartola, uma cesta de basquete para bola de malabaris. Confuso? Acho que não! E lá foram as 3.

Cartola, que havia prometido defender Xyxyryca, pegava o cacetete do segurança pra bater nela, que fugia. Enquanto, Cartola devolvia o objeto, Fuinha e Necessidade Fisiológica Número 1 socializavam. Cartola, que não é Cambota, chega de mansinho e Fuinha lhe mostra uma criança. Oops, ela não podia descobrir que tinha sido descoberta. Tudo continua calmo, até a Fuinha puxar a cartola da Cartola.

Bolas, Bolas, de todas as cores, para todos os lados. O menino vira o peru, as bolas viram bolas de futebol, a cartola vira a cesta, e as bolas viram armas na mão da Cartola. Guerra! E advinha quem é o alvo??? Xyxy se esconde com medo, Cartola erra a mira e quase acerta a cabeça de uma mulher. Xyxyrica responde, cartola desvia e a bola acerta um homem. Todos entram na brincadeira e o alvo verde-laranja continua escondido. Um pé fora da trincheira e... é acertado de todos os lados.

Calma , elas ainda tinham de ir para a pediatria, depois de catarem todas as bolinhas, se despediram. Xyxy derruba a cartola obejto, foge sequestrando a Fuinha e lah se vão todas as bolinhas.

Mais na frente, as palhacinhas se encontram e um "pequeno" sapato rubro-amarelo se desemancha. Um pediatra, um pediatra, socorro, socorro!! Tem algum pediatra aí?? O Pé da Xyxyryca tá doente. Um pediatra, socorro!! Um louco sai correndo do refeitorio e pula em cima das palhaças. Necessidade Fisiológica com um pé a menos já nao se agüenta em pé, ainda mais com o louco em cima dela que não sabe onde tem pediatra. E a busca continua.

Cartola, de repente, está sozinha quando recebe um comprimido. Ah ela quer outro. Dois comprimidos! Oba!! Depois ela vê fuinha tentando entrar num quarto se batendo no vidro. Ow burra, não é assim, tá vendo aquele espaço lá em cima, é por lá que se entra. Oh, eu te ajudo, sobe aqui! Eis que do banheiro lá de dentro, perseguida por uma toalha, surge ela, Sarinha, "é por aqui"! E a gente pode entrar? "Pode".

Uuuuh,aaaaaai,uuui, ai. Não dá, não passa! Ai, ui, ai!!!
"É uma de cada vez".
Ah tah, primeiro tu, não primeiro tu. Primeiro tu. Não, primeiro tu! Eu disse q era primeiro tu, então é primeiro tu! Não, primeiro tu! Primeiro tu. Eu sou gentil, primeiro tu!
"Não, são as duas de uma vez".
Huum, ui, ai, ui. Não dá, não passa.
"Dá pra vocês duas parar de besteira??"
Ah, então tá. Primeiro tu, não primeiro tu....
"Ai meu Deus"
Entrei, entrei. Tá, vou em segundo então.

Sarinha começa a examinar as palhaças, quando, um fantasma aparece: BUUH! Aaaah... eu tenho medo. Aaah. BUUH! Aaah.O exame continuou quando descobriu-se que o fantasma tinha comido um menino. E tudo corria bem e alto, mt alto.

Ei, ei a mentirinha tah chamando vocês. Mentira, que a mentira não veio hj. Tah sim. Mentira. Por causa do barulho foram as palhaças expulsas do quarto.

Descobrimos que a suposta mentirinha era a Xyxyryca que se encontrava no meio do leito, em cima de um palanque, protestando num microfone. Aparentemente, ela também tinha sido expulsa de um quarto, não só ela como todas as camas e crianças. O quarto estava vazio e ela protestava.

Ei Cartola, vem aqui. Senhoras e senhores eu apresento para vocês CAMBOTA, olha as pernas tortas dela. Eu não sou Cambota. É, sim. Não. Sim. Não.

Sarinha vai ser a juíza e afirma Cartola NÃO tem as pernas tortas.

Concurso de poesia, valendooooooo. Iane ganha com nunca troque o olhar de quem te ama por um beijo de quem te engana!

Valendo uma TV, quem vai cantar, quem vai cantar?? Cri, cri, cri..

Valendo um dia perfeito a sós com a Xyxyryca, quem vai dançar?? Cri, cri..

Se ninguém dança, vai Xyxyryca...

Xyxyryca vira o piso molhado. Cartola lê piso molhado. Então ela pisa no molhado e pisa molhado, acidentalmente, nas costas da Xyxy. Oops, ninguém viu e nao sujou naaada.

Volta com o concurso, Sarinha é a juíza. Quem é a mais bonita? Cartola. A mais legal? Cartola. A mais séria? Cartola. A mãe dela afirma, ela não sabe mentir.

Volta a bagunça, Xyxyryca quebra o outro pé e mais confusão. O chefe chama. Mais confusão. Xyxyryca anda agora com os pés na bunda e a marca de um nas costas. E a bagunça continua.

Fuinha e Cartola sequestram Xyxy. Duas crianças as esperavam lá fora. Comprimidos e tchau. Xyxyryca some. Sarinha se despede das palhaças e pergunta pela a outra. Quase ao choro, ela só queria se despedir, aquele poderia ser seu último dia ali. Cartola tinha um plano. Ela levaria Sarinha até o encontro de Xyxyryca que iria voltar trazendo a garota. Pode ser? Pode!

Elas já iam embora quando escutam, ei esperem por mim!! Aparece a gaiata com um copo na mão. Pronto feita a despedida. Um paradoxo. A felicidade é enorme, sarinha vai-se embora dali. A tristeza é enorme, sarinha vai-se embora dali. Nada de egoísmo. Alegria, alegria.

Elas estão indo, afinal o chefe já gritava ha tempos. Mas surge um convite, hemodialise. E lá vão elas. Prometendo que ia ser bem breve, era só oi e tchau. Mas é impossível, simplesmente impossível. É tão bom ver o sorriso de uma criança num adulto. Um sorriso ingênuo, espontâneo que surgia ali, naquele ambiente totalmente impropício.

A volta, correndo, rápido. Mais uma vez, Fuinha e Cartola arrastando Xyxyryca.

Na saída mais um louco... E aí cara??

Rápido, rápido, rápido. Enfim, pontuais como sempre.

Alguns minutos depois:

-Ei muito boa a visita hoje!
-Demais,tou esgotada!
-Silvanaaa, uma agua e um nescauzinho.
-Água Silvana, água!
Tou lascada, minha aula do Marcelus.
-Tu vai ser esganada.
-Pois é, eu sei. Ai meu Deus.
-Vai logo, vai.
-Tou indo... oops mó barulho na minha sala.
Vou correndo pra aproveitar...
-Tchau-Tchau.

Na sala:
"As camisas do bichurrasco serão..."
Ei cadê o Marcelus? Chegou ainda não.

Mais alguns minutos:
"Gente, desculpe mas eu tava numa reunião do departamento..."

Existem dias que começam mal, mas basta um pouco de alegria para modificá-lo totalmente, tudo flui ao seu favor, tudo parece dar certo. E são esses dias inesperados que se tornam simplesmente perfeitos.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Brincante

Brincava já grande
com as crianças

Até sobrevir as rodas
Quando
então
passou a brincar de roda



Mas
se foram os braços
E se meteu a brincar de guia
Era guiado o tempo todo
por um bando de moleques

E sorria!



A roda acabou
Lhe tiraram as rodas

E teve de parar

Inventaram de inventar nova brincadeira
Que era a dos olhos

Seus olhos eram detetives sem par

Abertos. Fechados. Abertos

Comandavam
os moleques
a dançar



Ficando depois cego
Teve medo de ficar
sozinho
Mas
quão grande alegria
Não deve ter ele sentido
Quando
todo desprevinido
Sentiu milhões de toques vizinhos
!



Morreu
então
o bricante

- Enfim e sem pressa -

E como se esperassem algo
Sentados
passaram a bater palmas
Para uma alma que girava

De pernas saltitantes e braços soltos

Olhos fulgurantes
e
tronco mamulengo

A brincar e brincar

Levando ao delírio
um bocado de moleques.

Allan Denizard

domingo, 6 de abril de 2008

" ... eles sempre se encontram no final, num lugar chamado sorriso."


Visita 4 de abril de 2008


E logo no início os palhaços se perderam. Doutor Cenoura acostumado com os terrenos íngrimes e difíceis daquelas escadas que levam até os pódios chamados enfermarias se distanciou na frente. Atrás seguiam dra Metidinha, dra Chapolinha(é assim né) e dr Batatinha com seu detector de ruínas vibrando muito com aquela estrutura que os cercava. E quando finalmente chegamos demos de cara com aquela que, nem sabia eu, seria o meu inesquecível do dia. Logo ficamos sabendo que era o aniversário da Sara, mas que ela tava dormindo e era melhor não cantar parabéns num volume acima de 2 decibéis. Mas eu juro que pensei que ela preferia o sono do que palhaços. Minha pequenez me fez pensar que era o máximo que um corpo todo marcado poderia oferecer.
Assim sendo, seguimos viagem e na enfermaria seguinte ví um Dr Cenoura impressionado com a possibilidade de fazer churrasco com uma das crianças, bem carnuda por sinal, no ponto de abate. Juntos tentamos convencer a criança que seria um sacrifício nobre em favor dos palhaços famintos.Ele não gostou muito e começou a chorar. Acho que era vegetariano.
Seguimos até outra enfermaria. A Maria, tão pequenininha, mas um sorriso tão grande, tão encantador. E o gabriel, já se preparando pras Olimpíadas de Pequim exercitando suas pernas com sua fisioterapeuta doida, insistindo em dizer que era a mãe do atleta.E ficamos em dúvida de quem era mais doido naquela enfermaria, se o gabriel por correr deitado ou se a Sarinha, que durmia de olhos abertos. E o sorriso dela, ainda escuto agora, enquanto imito ela, acordando com meus olhos bem fechados e vejo um rosto de anjo, a despeito de toda marca, um anjo marcado enfim, um anjo que marca principalmente.
A viagem continuou e a próxima estação foi uma enfermaria lotada de criança e de palhaço.Metidinha foi olhar pela janela e ficou colada no vidro, Dr Batatinha, solícito como é, foi ajudá-la a se descolar e acabou colado também.Quando finalmente ambos se soltaram, descobriram que tudo se tratava de uma enfermidade do vidro e que era contagiosa. Os dois pegaram a colagemia aguda e quando Dr. Batatinha tentou levantar Dra Metidinha do chão, ficaram colados em posição de bazuca, a bunda de um na no outro. Dr Cenoura, um pesquisador de curas, logo descobriu o antídoto para aquela doença, o bom e velho peido bunda a bunda, porque boca a boca seria muito nojento. Funcionou, Dra Metidinha ficou boa bem rapidim, deu tempo nem do Batatinha peidar. Acho que era psicosomático né!
Entre peidos e curas, recebemos uma chamada urgente da Mãe da Sara. Ela tinha tido um súbito acesso de raiva e tava saindo pra bater raio X ( pobre coitado. Consentimos né, um X é sempre um possível rival para um Y ). Mas antes disso queria que os palhaços cantassem parabéns pra ela. Lá estavamos nós dois(Metidinha e Batatinha), mostrando todo o nosso talento cantando parabéns em operetas, depois em rap e por fim em baladas melódicas. Não tinha velas de aniversário, mas tinha uma soprano pra ajudar a aniversariante entender que o mais importante não é apagar a luz com um sopro, mas fazer vibrar a esperança cantando a vida.
E eu ainda escuto o sorriso dela!!
Quando Dr. Batatinha foi embora e deixou pra trás os sorrisos que vagarosamente íam perdendo o volume, fez com que um som diferente ressoasse não mais nos ouvidos do palhaço, mas na alma dele. E eu ainda escuto o sorriso da Sara. E ele teve a sensação de que os palhaços podem até se perder um dos outros no início, mas eles sempre se encontram no final, num lugar chamado sorriso de criança.

Dr. Batatinha (Lucas Tavares)