terça-feira, 21 de abril de 2009

Sobre a Realydade das Coysas

Os Doutores Palhaços estiveram em Fortaleza! Tinham parceria com os Doutores da Alegria quando estes ainda estavam no Rio. Fundaram o Grupo de Teatro Roda Gigante(1) e inventaram o espetáculo "Inventário". Fantástico! Que graça e que crítica!

Na peça, misturaram com destreza as doçuras do relacionamento com as crianças, os percalços de um ofício que não é só flores, a crítica a palhaços de hospitais bem intencionados, mas insensatos, e a denúncia ao descaso com a saúde pública geratriz de profissionais frustrados e desumanizados.

Ao final do espetáculo, tivemos o prazer de ouvi-los responder às nossas perguntas. Respostas polêmicas que comentamos aqui particularmente duas.

Confessamos que por aqui éramos palhaços de muito improviso. Aprendemos a ser assim. Não tínhamos o palhaço como profissão e revelamos nossa falta, muitas vezes, de “cartas na manga” para sairmos de ou entrarmos em situações difíceis.
A
Responderam que o treinamento era necessário. Eles tinham reuniões semanais com trocas de experiência e auto-capacitação, estudando também teorias que lhes fizessem entender o significado do trabalho deles. Falaram que era ciência o que faziam.

Em um documentário recentemente divulgado, já tinha ouvido a afirmação e re-afirmação dos Doutores da Alegria em querer deixar claro que fazer o que faziam não era só inspiração e dom, mas engenho e esforço. Não era mágica.
A
Essas falas seguem um discurso de uma civilização moderna que quis romper com um antigo regime de privilégios divinos (pré-moldados) e sangue azul para fazer surgir a democracia do mérito. Mais importante que a revelação era a experimentação racional da natureza. E como símbolo dessa emancipação: a ciência.

Percebemos, contudo, que a ciência, embora revolucionária e criadora de uma nova forma de lidar com a realidade, se tornou tirana da verdade e, democrata que era, passou a assumir o poder sobre o que deve ser e o que não deve ser o que se vê, ou pior, o que se vive. Alertou um dia Cecília na sua Anatomia: “E’ triste ver-se o homem por dentro: / Tudo arrumado, cerrado, dobrado/ Como objetos num armário.
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“A alma, não.”
A
Porque palhaços teriam essa pretensão de querer ser científicos se eles têm mais que isso: arte?

O cotidiano da nossa ciência revelou-se a serviço da manutenção de uma realidade já vista. Uma realidade que havia sido descoberta com a ousadia de seres inspirados que deram pulos mágicos para alcançar a originalidade. A ciência só veio preencher os espaços que separavam o gênio da média da humanidade.
A
A arte – e o gênio é artista – não prova realidade nenhuma. Materializa uma realidade que ainda não existia, mas que o espírito entrevia nas malhas de seu coração.
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A segunda crítica vai a como alguns deles abordaram a identidade do trabalho que exerciam no hospital.
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Quando lhes perguntavam, numa abordagem bem monótona, se achavam, sim, que a alegria era o melhor remédio. Respondia-se que não. Que o melhor remédio era ter remédio no hospital, ter exame no hospital, ter papel para enxugar a mão no hospital. Quando lhes perguntavam se o palhaço era figura essencial no hospital. Respondia-se que não. Que em um hospital bem administrado, com profissionais bem remunerados e com pessoas que fizessem bem o seu trabalho, o palhaço não precisava entrar. E quando lhes perguntavam se eles estavam ali para dar amor. Era dito que não. Que o médico estava para dar a medicina dele e eles, a arte.

A nossa Dra. Tampinha, em uma conversa particular, havia concordado que eles haviam dito certo para a realidade deles. Contudo, para nossa realidade de meros estudantes metidos a palhaços, o amor, já que nossa arte é pífia, era ferramenta primeira. E última.

O amor, todavia, é ferramenta primeira, e última. Para qualquer realidade!

Luc Ferry, filósofo contemporâneo francês, escavou uma pesquisa feita pelo Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) daquele país, revelando que “mais de 50% dos franceses fizeram doações em 1994, chegando a um montante global de 14,3 bilhões de francos, o que representa um aumento de 50% se comparado com 1990”(2). Um quarto dos doadores era isento de imposto de renda, só para acrescentar a imagem da caridade per se e não pelo desejo de desconto fiscal.

O que pareceria, a priori, o aumento da caridade no mundo, analisa Ferry, pode não representar bem a essência do amor. É fácil que uma população razoavelmente estável dê um pouco do seu excedente para somar bilhões sem nenhum sacrifício. A força da parábola de Jesus sobre a viúva que deu de si o que lhe faltava sobrevive como um arquétipo da humanidade que quer mais do que esmola para amar dignamente o próximo.

É verdade que precisamos de meios materiais para realizar um trabalho digno. O que sentimos, de outro modo, é que isso não basta. Não nos basta realizar uma boa medicina ou fazer rir com boa arte, se não tiver amor...
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Não deveríamos, junto com o governo de privilégios, ter jogado fora tudo o que nos escapasse o controle (o crepúsculo dos ídolos). O amor é dessas realidades arredias que nos surpreende apaixonados e nos faz realizar coisas irracionais, mas cheias de graça. Há amor no palhaço. O amor é desses espíritos que nos tomam e nos fazem cuidar do outro sofrido. Há amor na medicina.
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Se somos movidos com razão para a construção de um mundo melhor, com não menos razão nos entregamos a essa luta por amor.
A
De outro modo, citando a palhaça do grupo Dra. Leonoura: "Hay que pegar la veia, perder la ternura jamás!".
A
(1)
(2) FERRY, Luc. trad: Jorge Batos. O Home Deus ou O Sentido da Vida. 2ª edição. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007.


Allan Denizard

domingo, 5 de abril de 2009

O número 11

Meu primeiro Relato de vysyta público... então tenham paciência comigo... =]


Segunda, dia de Vysita!
A Marmota e o Gagologo foram na frente pra não atrasar, e a Patolina ficou pra esperar a Aspirina...as atrasadas saíram da palhaçolândia correndo os 100 metros rasos! :P
Ai la na entrada do HU tinha uma menininha levando a mãe pelo braço... as palhaças conversaram, pegaram dicas de cabelos com alguém nas escadas e quando sobem... vixe! Ai que susto! A menininha aqui também! Ta dando copia! Será que tem mais espalhadas pelo hospitaaal? Vamo procurar, Patolina, vamo!
E corre, e corre, e corre...
- La vem as barulhentas..
- Noooos, barulhentas? Tu é barulhenta, Aspirina?
- Eu nãaao! Tu é, Patolina?
- Eu tbm não... acho que não era com a gente não...hihi
Alguém da enfermaria da endócrino chama pra gente falar com uma bebê... uma bebê maior que a gente!
- Essa é a bebê da gente aqui..
- Viiiiixe! Essa bebê da trabalho pra botar no colo nééé! =) A bebê foi bem receptiva com as palhaças...
E enquanto isso, já tinha umas dez rostinhos de criança espiando pela porta. Uma carinha já conhecida foi logo me desafiando pra correr a trás dela... eu te peeeeego, Paloma! As mães adoraram ver a palhaça correndo de um lado pro outro sem conseguir pegar a Paloma. A Aspirina nãoachou nenhuma graça nisso..
- Eeeeei, teu sapato ta errado! Tu calçou o par errado! - Crianças
- Seeeerio?!!!! Nacreditonãaaao! Então, então, então... CADê MEU SAPATINHO certoo?? – Aspirina.
- Peera, eu vou te ajudar a procurar!
- Huuun, tu vai ser meu assistente?
- Unrrum!
- E como é teu nome?
- Sei la!
- Huuun, ta bom, Sei La! Ta contratado pra seu meu assistente! Vamo procurar!
- Vamo, vamo!
Procuramos dentro do lixo, debaixo dos leitos, debaixo do suvaco das mães, dentro do vidrinho de álcool, dentro dos prontuários, e nada do sapato...
- Vamo procurar La na sala dos brinquedos!
Quando chego La, mais um rostinho conhecido! Não, não era o Ronaldinho, era o Romário!
- Romaaaaario! Tu lembra de miiim? A gente brincou do Capitão Jack contra o Transformer!
- Lembrooo! [Sorrisão!]
E ai, de repente, todas as crianças foram chegando e chegando e de repente não mais que de repente a gente já tinha gente suficiente pra fazer uma banda! Ebaaa!
- Gente, todo mundo tem que participar!
- éé, e quem não toca dança viu, Aspirina! Hihihi – Patolina.
E a banda se formou:
- Na sanfonaaaa: Palomaaa!
Nos pandeiroos: Julio (bem pequeninho, do tamanho do pandeiro!!), Patolina e Romariooo!
No Tambor: Igooor!
Nas guitarras: Gardeeeel!
Nos birimbelinhooos: Ana!
No tambor com as mãaaaos: Sei La!
E quem sobrou pra dançaaaar foi a Aspirina...
E um, dois, meia e já!
Ficou lyyyyndo! :~ Estavam todos tão participativos!
Depois chegou o Gagologo e a Marmorta, os dois todos marmotentos, não conseguiam passar pela porta, não cabia os dois! Depois de alguns minutos de dificuldade eles passaram e vieram fazer parte da banda tbm... ai a banda se formou de novo e cantou o grande hit “Beijinho Doce”...cantou dentro dos limites do conhecimento da musicas pelos payaços, que não La dos maiores...:P

Ai la veio o Romário e deu uma batidinha nas costas da Aspirina.
- Romaario? Foi tu?
- Fui eu! Mas tu nem ta me vendo...
- é mesmo! Vaaalha, eu nem to te vendo! E agoraaa? Cadê tuuu? Tu virou invisiiivel? – E procura e procura, procura atrás da porta, embaixo do sapato, dentro da casinha de boneca...
- Eu to aquii, bem atrás de ti!
- Bem atraas? Não to vendo! – E procura nas costas, rodando, rodando, rodando... ah! Deve ta grudado no jaleco! Tira o jaleco pra procurar o Romário!
- Nem te achei, Romário! Aparece logooo!
- Pliiiiim! Agora tu pode me ver!
- Aaaaaaaaaaaaaih Romariozinho! Me da um abraço, que eu tava era preocupada contigo, não some mais assim não viu...! Ora mar mininooo! =)
Ai ele ficou 2 minutinhos parado, enquanto a Aspirina batia um papo com o Sei La e o Gagologo, e la esta ele de novo chamando a Aspirina! Vixe! O Romário ta do outro lado da porta de vidro! E agora não da pra gente se falar! So com gestos... ai ele botou a mãozinha pequeninha aberta no vidro, e a Aspirina entendeu a dele e colocou a mãozona no vidro tbm... e elas se encaixaram! Ai ele encostou a bochecha no vidro, e Tham! Ganhou uma beyjoca da Aspirina! Oops, sujou o vidro da sala de brinquedos... limpa logo com o jaleco antes que alguém veja! hihihi

[ Pausa dramática: Eu sinto uma coisa tão boa no Romário...ele é uma criança muito especial...não que as outras não sejam, e são, mas eu acho que Romario e a Aspirina tiveram uma conexão muito forte. Essas coisas acontecem as vezes na vida, essas conexões aparentemente inexplicáveis... e ele ta sempre inventando jogos.. nem precisa se preocupar em tentar criar alguma coisa com ele, em tentar ser palhaço, é so entrar na viagem dele. Na ultima vez que ele estava internado, há alguns meses, a gente passou muuito tempo viajando, falando da CSA dele que tinha as paredes de biscoito, os degraus de doce de leite e o telhado de pedacinhos de morango, e fazendo um duelo cheio de dialogo dos dois bonecos-companheiros dele, o capitão Jack, do bem, e o Transformer, do mal. E no fim das contas o Capitão Jack nem precisou destruir o Transformer, porque o Transformer virou bonzinho! :~ E eles dois, o Capitão Jack e o Transformer ficaram super amigos da Aspirina e da Marmota! ]

Eitaaa, hora de ir embora! Já estão chamando a gente de volta pra Palhaçolândia! Vamo vamo, arruma as trouxas e vamo!
Espeeera, a Cintia ta terminando um desenho que vai dar de presente pra gente! Obaaa! Tem o Gagologo, a Patolina e a Aspirina! :~ E a Cintia foi super generosa, nos ficamos até bonitos no desenho! :P
Agora siiiim, hora de ir! E tem coisa melhor que ir embora e ser deixado na porta por tantas carinhas sorridentes pedindo pros payaços prometerem que voltam?
So mesmo o Romário chamando a Aspirina, pra contar so mais uma coisa, bem baixinho...:
- Ei Aspirina, eu vou dizer pro Capitão Jack e pro Transformer que tu veio aqui hoje, ta! Eles vão gostar..!
- Obaa, ta bom! Manda um beijão meu pra eles, viu..! =)

Um beijão pro Romariozinho, onde quer que ele esteja agora... e que ele esteja Yluminado...

Dra Aspirina