terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O Carinho


Criança

Cabecinha boa de menino triste,
de menino triste que sofre sozinho,
que sozinho sofre, — e resiste.

Cabecinha boa de menino ausente,
que de sofrer tanto se fez pensativo,
e não sabe mais o que sente...

Cabecinha boa de menino mudo
que não teve nada, que não pediu nada,
pelo medo de perder tudo.

Cabecinha boa de menino santo
que do alto se inclina sobre a água do mundo
para mirar seu desencanto.

Para ver passar numa onda lenta e fria
a estrela perdida da felicidade
que soube que não possuiria.

Cecília Meireles, em "Viagem".


Para Ângelo:


Se o Carinho fosse gente, ele seria um homem tranquilo, de poucas palavras. Nem alto e nem baixo, nem gordo e nem magro. Seria esbelto, na medida, no ponto certo. Sem exageros e sem efusão. Seria exemplo de sobriedade. Seria um homem agradável, de presença discreta e espírito leve. Uma voz mansa, de alguém que fala com calma, sem pressa, sairia de sua boca de lábios também discretos, nem grossos e nem finos, na medida. Cabelos e olhos pretos, mansos, profundos, lentos (os olhos, não os cabelos. Estes, além de pretos, seriam poucos e, naturalmente, disciplinados). Acontece que o Carinho, esse Carinho feito gente, faz palpitar o coração, mas é também de um jeitinho leve, sem sobressaltos, bem de-va-ga-ri-nho, desafiando a lerdeza do tempo quando o mundo parece que está parando. Aí fica tudo deste jeito: você, o Carinho e eu, todo mundo saboreando a morosidade do tempo, enquanto um olha para o outro, tentando dizer que não é preciso ter medo. Com o Carinho presente, tudo vai ficar bem.

RebYs.