E eu acordei em um pulo, num sobressalto. Que horas? Que
horas? 7:43. O despertador estava pras 7:45. É hoje, enfim. Tinha separado umas
roupas que eu gostava e que ao mesmo tempo poderiam fazer de mim uma
palhacynha. Meias roxas, tênis branco com dourado, jaleco com uma flor roxa, blusa
xadrez azul... e de repente os apetrechos foram surgindo. E era pra ser um
teste... mas acabou sendo eu mesma. Saí daquele jeito, mas fui de carro, Ytalo.
– “Mãe, eu vou ser palhaça hoje, eu preciso chegar logo, é quase urgente.”
Cheguei na salynha! *-* Cheiro de salynha, cor de salynha, amor de salynha. O
Ytalo já estava lá e depois chegaram mais a Hotência e o Roger. ;) – Cadê a
maquiaagem? Ah, comecei com a pancake branca.. fui passando por todo o rosto e
vendo no que se transformava. E eu me sentia passando uma borracha, como se eu
estive me desconstruindo, pra me reconstruir. Depois aquele rosto todo branco, que
se parecia mais com uma gueixa. Então vieram as cores, alquimia de cores. Fui
testando, pincelando, transformando... “Criava as mais falsas dificuldades para
aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser
clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como demorei! Eu vivia no
ar... Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma rainha delicada.” (Trecho do
conto “Felicidade Clandestina” de Clarice Lispector) E aquilo foi surgindo... flores
brotaram no meu rosto e hoje sei que preciso de borboletas. Trans-forma-ação. Era
eu, mas era ela também, que nascera de mim e em mim. E veio a pergunta: E aí,
qual o seu nome? E as palavras pularam da minha boca como se eu tivesse
planejado aquilo uma vida inteira: Tem alguma Lylica aqui? Disseram-me que não
e assim eu espero. :) E, então, estava eu lá, pintada... ainda sem muita graça,
ainda sem muito jeito. Sabe quando o bebê começa a andar? E ainda anda meio
torto, meio confuso quando a que pé usar e às vezes tropeça. Foi assim. Mas eu
sei que tem uma hora que você consegue andar naturalmente e nem para pra
pensar... Não é que nem a centopéia que parou pra pensar em que pé devia ir na frente
e nunca mais andou. Emoçãozinha ao sair da salynha e ir pro mundo. Eu e as
bolynhas de sabão, minha paixão de infância... Tão lindas e frágeis... Como
tanta coisa na vida. E de tudo aquilo o melhor foi ouvir: “Só vocês mesmo pra
fazer o meu filho sorrir.” E então o sentydo se fez presente. Presente que ao
mesmo tempo que se dá, recebe-se. A emoção foi tão grande quanto quando eu vi
os meus narizes, com a inscrição “India” nas caixinhas. E lembrei da música que
escutei na salynha antes de sair: “E pela minha lei a gente era obrigado a ser
felyz.”
por Lorena Stephanie