Permitam-me, senhores, que eu vos conte sobre determinadas entidades que começam a surgir em nossa cidade. Reza a lenda que sempre existiram, mas nunca se revelaram. Estava como que a fazer ocultas solidariedade pelos cantos em que não eram reconhecidas e tão pouco divulgadas.
Estranha marca as acompanha: um Y tatuado em suas testas por forças divinas. Digo assim, porque nenhuma mão humana poderia tatuar com tanta excelência aquela letra em tão suave tom de dourado cintilante.
O vento que as trouxe, trouxe também parte dessa história. Diz o sopro da noite em que apareceram que o Y é uma marca de todos os seres humanos indistintamente. Assim, todas as crianças o tem. Com o passar do tempo, máscaras e máscaras são aceitas pelos pequenos em sua difícil jornada de crescimento. Para sobreviver na sociedade, tem de esconder o sinal de nascença. Por que esconder algo tão belo?
Parece que essa conduta vem de há muitos séculos na história de nossa civilização. O Estado Natural em que vivíamos, sem muitas necessidades e ambições, deixava que o Y frontal se revelasse desde o nascimento até a morte. Com o tempo, as sociedades foram se constituindo, as ambições aumentando, e os vícios tomando conta das atitudes dos que antes eram mais fraternos. As máscaras de convenções foram sendo forjadas e se moldando no rosto de cada um como forma de proteção contra o egoísmo do outro. Embora continuassem a viver juntos, partilhando o mesmo espaço, cada um começa a construir seu ninho e a expulsar, revelada ou disfarçadamente, os indesejáveis. Nessa malfadada sina em que a marcha do orgulho e do egoísmo levantava a poeira da discórdia, o Y, tão nítido no princípio da criação, começa a ser velado e a perder o brilho.
Conta-se ainda a história de vários seres que tentaram reacender a chama em Y. Eram mulheres e homens que tinham de mover céu e terra, mar e fogo, suor e sangue contra um povo que rejeitava a dura verdade de que teriam se perdido no labirinto da desumanidade. Esses gênios da ysperança tentaram reverter de tal forma a agonia social promovida pela indiferença e pelas separações que acabavam sendo considerados subversivos e, não raras vezes, mortos de formas cruéis. Um deles, de participação memorável, ensinou as práticas de um Reino Y de amor e carydade com tal afinco e coragem que acabou por ser morto em um Y de braços quebrados. Morrera em um T.
Embora as palavras em Y tenham conseguido vencer o tempo e tenham feito mártires, muitos dos que diziam ser Y, não faziam mais do que quebrar cada vez mais Y, transformando em T. Eram os hipócritas que de Y nada entendiam. Tanto era a falta da compreensão dessa letra inata ao ser humano que até mesmo aqueles que defendiam o Y em sua maior pureza eram perseguidos pelos que se diziam detentores da verdade Ypsiloniana.
O Y, embora tenha tido momentos de revivificação de sua luz, voltava a ser banido da conduta humana por aqueles que nunca o entenderam. As perseguições físicas ou ideológicas aos pueris Ypsilonianos verdadeiros culminaram na necessidade de praticar as condutas Y em segredo.
Os tempos são outros. E eis que surgem das sombras dos clowns um punhado de jovens que teimam em falar a língua do Y, há tanto tempo rejeitada dos círculos acadêmicos. Para deixar o Y da fronte transparecer, descobriram eles a técnica de tirar a maioria das máscaras, colocando aquela que é considerada a menor máscara do mundo: um nariz vermelho. Quem não entende o Y, não vê o Y.
Aviso-lhes logo, que a visão do Y não é privilégio desses palhaços. Ela está nos pequenos, está nos simples, está nos alegres, está nos misericordiosos, está até naquele verdureiro da feira do dia de sexta que deixa o olho brilhar quando vê as piruetas de alguns augustos e brancos que percorrem a rua sem medo e felizes.
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