sábado, 31 de março de 2007

...há brinquedos que também fazem pipi.



O Dr. Acerola chegou e, como de costume, quiseram fazer dele suco. E ele assustado. E os promissores assassinos rindo.
O susto e o medo foram os sentimentos que mais nos travaram no começo de nossa atividade de palhaços no hospital. A imagem de eles fazerem suco de nós é bem o que pensávamos que poderia acontecer. Moer-nos de críticas. Liquidificar nossos ideais. Fazer um coquetel de indiferença. Trágico! Foi bem o contrário que aconteceu, ainda que a ameaça de pegar o Dr. Acerola para fazer dele suco tenha surgido e se perpetuado. Se nos leitos o jogo já não rola, dê uma olhada no corredor que estarão tentando pegar o palhaço para fazerem suco de acerola.
Engraçado como conquistamos nosso espaço lá dentro, as simpatias, o território. Os palhaços têm amigos entre os funcionários. É mais belo que isso! Os funcionários mais amigos dos palhaços são os mais humildes na escala hierárquica. É o moço do lixo, é a senhora da vassoura e do rodo, são os cozinheiros.
Dessa vez, tão logo ele chegou no início do corredor e lá no final um grito e um riso: "O Acerola!". Tão logo ele se aproximou da cozinha e já tinha uma das cozinheiras com seus braços armados para lhe dar um abraço. Outra lhe deu um susto e segurou sua gravata a fim de arrastá-lo para dentro do liquidificador.
As crianças já estavam a postos olhando sequiosas os palhaços se aproximarem. Depois de alguns mungangos e cumprimentos introdutórios, o Dr. Acerola acompanhou uma delas até a brinquedoteca. Ficou admirado, nunca tinha reparado nas possibilidades de jogo lá dentro. Dessa vez decidiu que brincaria mais ali. Uma menininha chega perguntando pelo Acerola. Ela o convida para ir ao balancê. Ele senta e ela o balança. Depois se inverte. O palhaço se empolga e sobe em cima do balanço, se pendura no teto, fica balançando por lá. Cai. A pequena, que já havia presenciado milhares de quedas do Acerola desde que se havia internado, pergunta:
- Falando sério, certo? Falando sério. Você sente dor quando cai?
- Não.
- Sério?
- É.
Um dos meninos filósofos que ouvia a conversa encontra o motivo:
- Ele é feito de borracha.
- Preciso lavar minha mão. - diz o Acerola mostrando a mão toda suja.
- Por aqui! - levando ele ao banheiro mais próximo.
- Preciso de sabão.
- Aqui. - vai em outro banheiro que naquele não tinha.
- Mas a torneira não funciona aqui.
- Então vem cá. - vai guiando o Acerola como se ele fosse o brinquedo falante dela.
Acerola lava as mãos com sabão. Não sabe onde enxugar. A pequena aponta pra um varal onde tinha uma roupa estendida. O palhaço não pensa duas vezes e enxuga lá mesmo. Enquanto ele enxuga, ela faz pipi do lado.
Quando foi a última vez que eu fiz pipi do lado de alguém? Foi quando criança, depois de ter andando muito de bicicleta com meu primo. Na beira de uma ponte. Foi numa noite, depois de a molecada ter jogado bola até a exaustão. Na beira de uma calçada. Foi numa tarde, depois de termos escalado todos os galhos possíveis de uma cajarana. Na beira do quintal.
O que essas cenas têm em comum? A inocência das crianças que até o pipi tornam uma atividade social. E os brinquedos que nunca vão criticá-las por estarem fazendo o que não devem. Faziam pipi ao lado da bicicleta, da bola, da cajarana. Por que não fazer pipi ao lado do Acerola?
Mas os brinquedos não curam a criança de uma doença. Mas quem é que a criança faz questão de levar para todos os cantos, para o pipi ou para o hospital? Deve haver alguma influência nessa vontade dessa presença, desse amigo.
Finda a atividade, passa-se lá pela cozinha para bater o ponto - um beijo de uma das cozinheiras, um copo de água de coco para sair no pipi mais tarde. Ora, há brinquedos que também fazem pipi.

Deus nos deu mãos para libertar borboletas...




Sobre as pequenas coisas.
Eu estava atravessando um dos corredores do hospital-escola, por onde passam várias vidas em construção ou em recuperação e vi uma vida estranha, debatendo-se nas janelas de vidro. Uma borboleta alaranjada com pingos pretos nas asas. Entrara no hospital por aqueles espaços que se confundem com a transparência dos vidros e não mais encontrou outro espaço que não fosse ilusão de saída. Ora, porque aquelas transparências passam a idéia de uma liberdade ilusória para a visão leiga. É mais belo o mundo sendo visto no meio de seu ar quente e úmido que nasce da terra mesmo, nua, do que apreciá-lo de dentro de uma estufa. Devia ser por isso que a borboleta se debatia. Ela queria o mundo que transcendia aquele corredor, aquele hospital todo. Queria mais que o hospital, porque ela não se desviava pro lado que não tivesse visão de céu. Pra dentro do hospital há escuro de prédio, ela queria aquele azul anil.
Eu passei e encontrei aquela luta. Admirei aquele enorme desejo flutuando inquieto por ali. Pensei em soltá-la. Tive medo e passei direto. Pensei, então, que a luta solitária dela a tornaria mais forte. Passei direto, mas fiquei olhando de soslaio como se aquela luta me ferisse, me convidasse para lutar com ela, por ela, me convocasse. Não, estaria impedindo de ela crescer vencendo aquelas ilusões em rumo da liberdade maior. Não adiantava só voar, aquele voar tinha de ter espaço, e carecia de estética, uma beleza que estava longe daquele corredor. Mas a dor a faria maior. E quando conquistasse o vôo sereno, seria ela mais feliz para além daquele cansado debater. O mérito deveria ser dela e dela só.
Ah! Maldito coração. Ele ficou pequeno. E disse que quanto mais eu andasse dali pra longe, quanto mais eu adquirisse o espaço que aquele pequeno ser pelejava adquirir, quanto mais eu o fizesse só, menos ele me seguiria, meu coração iria me abandonar. Iria ficar pequeno em cada passo avante até desaparecer.
Já estava virando a esquina e parei. Olhei pra trás. Diz um provérbio antigo para nunca fazer isso - deve ser por isso que ele é antigo. Fui até a pequenina e ela começou a bater mais forte. Não queria minha mão amiga. Quantas mãos já não a prenderam! Quantas outras não a mataram! Mas a mão que está dentro do hospital só quer devolver vida - me apercebi dessa verdade. Deve devolver vida. Deve querer constantemente isso.
- Para que Deus nos deu mãos?
- Para libertar borboletas.
Eis minha primeira paciente desses últimos quatro anos. Minha do começo ao fim. Desde a aceitação em tratá-la até a glória de vê-la livre. Tudo bem que ela não requisitou consulta, nem agendada estava. Mas aquelas asas intranqüilas poderiam caracterizar um pedido. Poderíamos colocar na categoria de Demanda Espontânea Inconsciente ou Instintiva.
Ela nem me agradeceu também. A não ser que quisessem me dizer alguma coisa aquelas curvas que se delinearam no ar lá de fora.
É... Pelo menos tenho meu coração comigo.

quinta-feira, 29 de março de 2007

Carta de motivação para tentarmos ser selecionados pelos Doutores da Alegria para o curso PALHAÇOS EM REDE ! ain ! agora é só esperar !

Nosso trabalho teve início do desejo primordial contido no coração de alguns acadêmicos de saúde de ir além das barreiras da hierarquia hospitalar, de modo a, pelo menos, tornar aquele ambiente a que os enfermos têm de reduzir o seu mundo, um pouco mais agradável.
Tendo, então, conhecimento acerca de grupos de palhaços de hospital já atuantes no Brasil e no mundo, percebemos que, apesar de não termos nenhuma formação artística maior, possuíamos já em nossa essência o principal: a forte vontade de doar os nossos sonhos em prol daqueles que, muitas vezes, vêem-se perdendo até mesmo seus sonhos de vida.
Sonhos...lembra-se daqueles que você tinha quando criança? O mundo da criança é repleto de fantasia, de imaginação...de sonhos. Tendo ou não sido retirados de nós pelas asperezas da vida, esses são, certamente, os mais puros e verdadeiros. São aqueles que realmente nos fazem felizes, simplesmente por tê-los.
Pensando nisso e em nossos ideais, notamos que nosso trabalho deveria ser direcionado à Pediatria, de modo a tentar levar o que pudermos da imensidão do mundo da criança a seu leito. Afinal, o mundo, sobretudo da criança, não depende de espaço. Basta darmos o estímulo, que ele é infinito.
Com apenas cerca de 2 anos trabalhando para tornar cada vez mais concreta a transformação do ambiente hospitalar através da máscara do palhaço, apesar de alguns investimentos na área artística, percebemos grande carência nessa área, afinal, não somos profissionais e temos relativamente pouco tempo de trabalho. Nesse campo, então, precisamos ter um contato maior com as técnicas de palhaços de hospitais, além de saber melhor utilizar a música, os sons, a contação de estórias, os fantoches, enfim, outras modalidades artísticas, de modo que as visitas se tornem mais organizadas e tenhamos mais segurança em relação a determinadas situações mais difíceis, como pouca receptividade do paciente ou do acompanhante.
Além disso, apesar do pouco tempo de projeto, já nos deparamos com diversas situações que fazem surgir por trás do nariz de palhaço, o medo e com ele diversos questionamentos sobre como agir, desde situações aparentemente simples como a seriedade de uma criança, até um algo mais sério, como um óbito em horário de visita. Já nos vimos bastante confusos diante dessas experiências, percebendo a grande importância de uma orientação psicológica, de que estamos carentes.
Acreditamos que os Doutores da Alegria podem nos ajudar de forma concreta em relação ao âmbito artístico, afinal, são todos profissionais e o que puderem nos passar dos seus conhecimentos e experiências será, sem dúvida, um aprendizado que auxiliará fortemente na qualidade de nossas visitas e, o mais importante, repercutirá sobremaneira na geração de sorrisos mais e mais alegres.
No campo psicológico, não há dúvida de que o tempo de atuação dos Doutores da Alegria e estudo sobre a relação do palhaço com a criança poderá nos proporcionar a resposta às muitas perguntas interiores surgidas durante nossas vivências e dessa forma acabará com nossos medos e angústias que por vezes nos deixam ansiosos e inseguros no hospital.
Isso tudo nos auxiliará a voltarmos das visitas com uma certeza maior de que estamos atingindo nossos objetivos e irá, sem dúvida, nos ajudar a ficar mais consolidados no trabalho a fim de pensarmos com maior confiança nos objetivos já traçados para o futuro, como a realização de pesquisas acerca das conseqüências do nosso trabalho.
Queremos que vocês escolham a gente porque nos espelhamos na forma como atuam , na forma como vocês são capazes de enxergar os pacientes. É essa visão integral do ser humano que esperamos ter como futuros profissionais médicos, enfermeiros e psicólogos. E muito mais que isso, queremos contagiar esse idéia , ou melhor, esse ideal por toda a comunidade acadêmica , quebrando paradigmas! É muito bom perceber que não sonhamos sozinhos e que somos capazes de fazer uma medicina de diferente, que somos capazes de fazer saúde sorrindo ! E é incrível como essa relação do palhaço nas nossas vidas tem sido terapêutica para nós mesmos, na medida em que muitas vezes estressados e desmotivados com relação às aulas da faculdade, depois de uma visita no hospital nos sentimos verdadeiramente revigorados ! E isso com todas as nossas limitações, imagina quando aprendermos muito mais com vocês !


Freqüentemente somos questionados acerca de nossa participação em um grupo que leva palhaços aos hospitais. E não raro, o diálogo costuma ser mais ou menos assim:
- E como é isso?- Cada integrante do grupo tem o seu palhaço, descoberta própria. Algo do tipo.- E então...- Então a gente vai pra enfermaria de Pediatria e trava contato com as crianças.- Só isso?!
“Travar contato com as crianças” é uma forma mais culta de dizer brincar. Camufla-se, assim, a simplicidade que caracteriza o nosso trabalho. Brincar, por causa de toda a carga de falta de seriedade que essa palavra traz, nos faz querer escondê-la. Poderíamos fazer todo um livro tentando convencer o mundo que brincar não é antônimo de seriedade. É perfeitamente possível brincar de forma séria. O esforço de querer conjugar esses dois universos, o do brincar e o da seriedade, é tentar formar um híbrido que tenha o melhor dos dois. Brincar, embora traga alegria, descontração; apesar de permitir o desenvolvimento de muitos aspectos cognitivos; ainda que crie e fortaleça amizades, traz o estigma da falta de compromisso, da falta de produção. As pessoas brincam enquanto estão no intervalo, não durante o trabalho. E, para nossa sociedade, da forma como ela está estruturada hoje, uma atividade que não tenha nenhuma produção não tem valia. Mas, mantendo-se longe de análises metafísicas (o que vale dizer poéticas e filosóficas), o brincar serve, notoriamente, para descansar os trabalhadores e fazê-los retornar com mais disposição para a esteira de produção. Indiretamente, portanto, brincar incrementa a produção. Não passaríamos, então, de um bobo da corte que entretém as pessoas, fazendo-as esquecer da opressão da empresa. Quem se esquece da opressão não se revolta contra ela. No nosso caso, a empresa é o corpo adoentado. O produto é a saúde. O trabalhador é a criança. O chefe são os profissionais de saúde. A criança não pode se revoltar com a rotina do trabalho de fabricar sua saúde no seu corpo. Pausa para o intervalo, volta para os remédios. Vocês dirão: “É verdade. Como a Medicina é desumana!”. Mais balelas. A Medicina não é desumana. É por ela ser tão demasiadamente humana que ela tem todas essas características. Resta saber se a nossa forma de humanidade está nos fazendo bem. Baseado em tudo que até agora eu já sabemos e já experienciamos, escolhemos uma posição diante do mundo. Essa posição não é uma posição racional, embora tenha bases racionais. Essa escolha é fé. Essa é a parte que o nosso cérebro cala e o nosso coração fala. Os raciocínios que enchem e esgotam nossas sinapses fazem bater o nosso coração de ansiedade. Ânsia por atitude. E para agir preciso de um credo.Cremos que a forma como nós vivemos hoje não nos satisfaz. Cremos que a vida não é feita só de resultados. Cremos na significação das coisas pequenas. Cremos que um doente precisa de muito mais do que remédios. Cremos no poder infinito de uma relação. Cremos na cegueira da ciência para captar a infinidade dessa relação. Cremos na veracidade da poesia que fala de amor, essa abstração imensurável! E por crer em tudo isso é que colocamos um nariz vermelho no rosto e vamos brincar, essa coisa pouca.
Diz-se que o filósofo era um pobre rico, porque, das poucas coisas que a vida lhe dava, ele conseguia extrair uma riqueza de significados. O palhaço é um filósofo, então. Citemos as poucas coisas que essa experiência nos ofereceu em poucas linhas.O cumprimento espontâneo e risonho…A curiosidade dos olhares…O sorriso gratuito…O riso conquistado…Os abraços…O “quando é que você vai voltar?” seguido de um doce desgosto “só próxima semana?!”- É, meu pequeno, só! Esse “só isso” que eu faço, só poderei de novo fazer, só na próxima semana. Mas não se preocupe, porque não virei só.




terça-feira, 20 de março de 2007

Sonho bom...



Imaginem um menino.
É. Um menino por volta dos seus 6 anos.
Certamente, vocês irão supor uma criança com todos os seus atributos naturais.
Agitação, alegria, fantasia, teimosia, danações...
E por essa insaciável vontade de brincar, de conhecer o mundo da sua imaginação,
ela é por vezes repreendida pelos pais...
Nada estranho...nada anormal...
Uma criança saudável.

Tive um sonho.
Ao primeiro olhar, um tanto bobo...
Nele esse menino era protagonista.
Eu o observava.
Brincadeira, pulos, travessuras!
Eu o observava com muito prazer no coração.

Até que ele é repreendido pela mãe...
Pela mãe de verdade!
E eu?
Fico ainda mais feliz!
Aliás...é aí, nesse momento, que fico realmente feliz!

É que no meu sonho esse menino era mais que uma criança saudável...
Sim...ele era totalmente saudável!
Ele era o Wellington, meus querydos...

É...conheci-o sem aquelas feridas...
Sem aquelas feridas
que o impedem de ser repreendido simplesmente por coisas de crianças...
mas porque ele pode machucá-las.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Palhaço é um homem todo pintado de piadas...



Eu Não Sei Na Verdade Quem Eu Sou
O Teatro Mágico
Composição: Fernando Anitelli

Eu não sei na verdade quem eu sou
já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro um sorriso e o meu paraíso é onde estou
Por que a gente é desse jeito?
criando conceito pra tudo que restou

Meninas... são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro

Eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro um sorriso...
e o meu paraíso é onde estou

Eu não sei... na verdade quem eu sou
Descobrir... da onde veio a vida
por onde entrei... deve haver uma saída
e tudo fica sustentado... pela fé
Na verdade ninguém... sabe o que é

Velhinhos são crianças nascidas faz tempo
com água e farinha colo figurinha e foto em documento
Escola! É onde a gente aprende palavrão...
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração

Eu não sei na verdade quem eu sou
Já tentei calcular o meu valor
Mas sempre encontro sorriso... e o meu paraíso é onde estou
Eu não sei... na verdade quem eu sou

Percebi que a cada minuto
Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
Tem louco pulando o muro, em corpo pegando doença
Tem gente trepando no escuro, tem gente sentido ausência

Meninas... são bruxas e fadas
Palhaço é um homem todo pintado de piadas
Céu azul é o telhado do mundo inteiro
Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro.


Essa, narygudos, foi uma música feita pelo Teatro Mágico em homenagem aos Doutores da Alegria. Posto aqui porque ela acaba se direcionando a todos os palhaços de hospital, portanto, Ypsilonianos, sintam-se, por favor, também contemplados!!! ;O)

RrRrrRrrespeitável público, O Teatro Mágico: http://www.youtube.com/watch?v=aQ2RwcDst-s

sexta-feira, 16 de março de 2007

O que é o Y?


TREYS FLORES PARA O Y

Difícil não falar: que lindas!
Poderia tal beleza ser menor?
Imagine-as isoladas.
Poderia tal beleza ser maior?
Imagine-as em um ambiente tão belo quanto.
O Y é como o conjunto dessas flores
E cada um de nós somos uma delas.
Diferentes.
Importantes.
A beleza só se completa
com a união das flores.
Mas isso não basta.
Assim como um jardim
É ofuscado pela casa mal cuidada,
O Y não é tão belo
se não zelarmos pelo lugar onde costruimos nosso sonho.
Lutamos pelo o que nos impede de pelo menos tentar prolongar tal beleza
Então não vale a pena?
Olhe para elas...
Por Mya

quinta-feira, 15 de março de 2007

Fotos da visita de 07/03/07 (Ver relato "Retorno à cirurgia")






O que é o Y?



O Y foi o símbolo mais perfeito para o nosso projeto. Ele é cheio de significado - como todo símbolo ¬¬. Mas é muito significado mesmo. Parece uma coisa boba - como nosso projeto. Mas é tagarela no seu silêncio - como um bom clown. E começaremos a postar aqui as muitas nuanças que ele pode ter. Aí está nossa primeira contribuição.

segunda-feira, 12 de março de 2007

nã nã nã nã Nã!


Pra quem não sabe esses são Marmota e Cenoura e estão juntos aqui porque... enfim, são eles. :o)

quinta-feira, 8 de março de 2007

07/03/07 (Retorno à enfermaria da Cirurgia)

Minha intenção com este relato seria fazer com que as pessoas que o irão ler pudessem sentir pelo menos um pouco de toda a emoção que sinto quando estou fazendo visita. Mas acredito que meu poder de descrição não é bom o suficiente pra traduzir toda a magia de ser livre quando se está no palhaço e de ver nossa liberdade gerando sorrisos em rostinhos tão puros, tão inocentes, mas tão sofridos...

A visita de hoje foi feita pela Dra Fulô, Dra Marmota, Dra Mentirinha e também pelo Daniel, que foi um grande companheiro, mesmo não estando como Dr Cenoura. Ah! A pressa (como quase sempre) também nos acompanhava. Pense numa chata!

O caminho em direção às enfermarias da cirurgia foi novo... Pra mim, o caminho é fundamental. Ele nos prepara para a missão.
Nele, encontramos amigos que, ao mesmo tempo em que reconheciam a pessoa comum por trás do palhaço, mostravam sorrisos admirados conosco. Encontramos tb gente q parece desprezar nossa presença (ainda bem que esses são poucos!). No caminho, teve elevador travado por causa da imprudência da Fulô, falta de ar quando o nariz da Marmota se escondeu atrás da cabeça dela (ufa! Ainda bem q a Mentirinha conseguiu fazer a operação de recolocação de nariz com sucesso!), teve até as calças da Fulô caindo (ô bicha lesada, nã!). E teve tb, como sempre, os olhares dos pacientes adultos que estavam nos leitos enquanto passávamos pelo corredor. Quem dera a pressa não estivesse conosco e nos deixasse conhecer a cada um deles! São adultos, mas sofrem como crianças (ou até mais)...

Finalmente, chegamos ao nosso destino: a enfermaria onde estavam as crianças. Lá estavam o Welyngton (nosso anjYnho, todo cheio de manchas e feridas na pele, com a cabeça enfaixada devido à cirurgia q fez da retirada de um olho), a Andressa (q não podia falar por causa da cirurgia na garganta), o Ítalo (q tava na cadeira de rodas) e uma outra criança pequenininha cujo nome não sei, pois só sei do seu belo olhar, cheio de vida e de expressão. Um deles tinha mancha e não tinha um olho, outro não falava, outro mal podia se mexer... Quem olha por cima pensa q eu tô valorizando as enfermidades deles. Mas, ao contrário, a minha intenção é torná-las desprezíveis diante da maneira como testemunhei a imensa vitalidade de seus corações, de suas reações, de seus desejos, de suas emoções, de suas capacidades e habilidades.

O Welyngton, como já diziam o ysilonianos mais antigos, consegue fazer com que os palhaços sejam um só com ele. É uma comunhão. Primeiro, ele demonstra muita felicidade ao nos ver, aperta nossas mãos com toda força que ele tem, a qual (na verdade) não é muito grande, mas que é intensificada pelo palhaço (“Ai minha mão! Meus dedos tão quebrando! Ai, ai, ai...”). Depois, ele nos alerta quanto aos buracos existentes no chão da sala. Pra não cair tem q pisar na linha. “Mas é difícil de se equilibrar” – dizem as palhaças. “Eu te seguro. Me dá tua mão.” – ele respondia. E, com a sua grande força pequena, ele não deixava que caíssemos.
A pobre da Mentirinha, coitada, ficava com sono quando a musiquinha tocava... Aí, ela foi traída pelas suas próprias companheiras da Palhaçolândya! Tcs, tcs, tcs... Coisa feia, hein, Dras Fulô e Marmota? “Ah! Fazer o q se o Welyngton queria dar injeção de pum na boca da Mentirinha enquanto ela dormia? O jeito foi ajudar... :)”

Quando a Mentirinha se recuperou “da trama q foi tramada” contra ela, perdoou tudo e carregou o Welyngton nos seus pés; a Fulô tentou carregar a Marmota nos pés tb, mas não deu (pense numa criatura pesada!).

Mentirinha e Fulô foram falar com a Andressa. Mas a Andressa não falava... Então, as palhaças não podiam falar tb... Tinha q ser comunicação corporal. A verdade é q a Andressa se comunicava mais com o olhar. A mãe dela se divertia muito.

Aí, o Welyngton quis ser fotógrafo. Pegou o celular do Daniel e tirou foto de todos nós. Todo mundo adorou. Todos disseram X com muito gosto (devia ser Y, né?). O Ítalo e sua mãe foram muito solícitos, a Andressa tb gostou de posar, e a avó do Welyngton deixou até q a Fulô tirasse foto sentada no colo dela.

A pressa fez com q a Mentirinha fosse embora mais cedo. Mas a Marmota e a Fulô ficaram ainda um bom pedaço. Enquanto a Marmota tentava convencer a Andressa a tomar muito “combustível gelado” (pq fazia bem pra garganta dela), conversava com o Ítalo e cantava o ♫Padapadó♫ pra ele com a ajuda do Junin (Palhaço Maluco, q apareceu por lá de Dr de verdade), a Fulô era quebrada e remendada o tempo todo pelo Welyngton (e o Daniel bem q o ajudou a maltratar a pobrezinha da Fulôzinha... Snif!).

Na hora da despedida, todos perguntavam se eles iriam voltar logo. “Amanhã vcs vêm de novo?” Era duro dizer pras mães e, principalmente pras crianças, q talvez não, q talvez só na outra semana. Mas o melhor, pra Fulô e pra Nayan, foi ganhar o abraço do Welyngton, foi tão sincero...

Na volta à sala Y, Gabriela, Daniel e Nayan estavam com os corações repletos de amor e de sensibilidade, e com as cabeças cheias de experiências novas, ainda meio confusas, mas que apontavam à conclusão de que nosso trabalho é muito importante, claro que necessitado de muitos aperfeiçoamentos, mas muito importante, pois é preciso q todas as pessoas, não só os palhaços, enxerguem que há muito mais em uma criança do que uma pele manchada, a falta de um olho, uma voz muda ou membros que não se mexem...
Nayan Cristina (Dra Fulô)

sábado, 3 de março de 2007

Tá, tá, tá eu sei que está longo, mas eu precisava compartilhar com vcs a visita que fizemos! ;o)

Fortaleza, 1 de março
Hoje a visita foi especial . Conheci o tão falado anjinho do Y , q , até então, acreditávamos estar no céu. Ao saber da incrível notícia de q houvera um mal entendido quanto a sua morte, eu e a Mia fomos na Cirurgia a procura do Wellington. Já no corredor podíamos ouvir os prantos dele, que estava tendo sua cabecinha raspada. Fomos perguntar o que estava acontecendo. Câncer no olho. Ele tinha que raspar a cabeça, faria uma cirurgia de retirada no olho naquele mesmo dia. Como se já não bastasse a lenta e progressiva mutilação causada pelo xeroderma pigmentoso. Passamos alguns instantes ali observando aquela cena , que para mim, por não ter vivido situação parecida, foi chocante, não sabia como reagir. Parece que eu e a Mia, como que em sintonia pensamos a mesma coisa. Vamos trazer a Dra. Marmota e a Dra. Tampynha para visitá-lo! Dra. Fulô estava pelas redondezas da palhaçolandYa e tb foi fazer a visita. Apesar do nervosismo unânime de todas três, fomos interagindo com quase todos nos corredores do hospital ( o porteiro Sr. Otacílio comentou que nunca mais tínhamos ido ao hospital ... será que fazemos falta mesmo?!!?) até chegarmos ao leito do Wellington, que estava em um quarto com mais duas crianças (a Dieli e o Felipe). As enfermeiras , uma especial a Lili (nos recebeu mto bem!), vibraram com nossa chegada . “Vcs caíram do céu ! Hj está sendo um dia mto difícil para o Wellington ... ele vai tirar o olho ... a cirurgia será 14h.”
12h, essa foi a hora que chegamos lá , 14:00 a hora que saímos. Duas horas intensas e cheias de vida ! Isso mesmo , de vida ! Nunca vi criança tão cheia de vida. Assim que chegamos lá ele sorriu como que reconhecendo a Dra. Tampynha, que logo apresentou a Marmota e a Fulô. Com os bracinhos abertos ele nos recebeu e, estranhamente, como que puxando assunto com as doutoras palhaças mostrou sua mãozinha, dizendo que suas unhas estavam grandes! Ora, era isso que naquele momento parecia incomodá-lo ... suas unhas ! (??) Justificou que não havia dado tempo de cortá-las. A Marmota mostrou as suas (eita, estavam grandes mesmo!) e ele : “é ... até que as minhas não estão tão grandes assim !” . Daí surgiram muitos jogos. E a gente não precisou fazer nenhum esforço para criá-los.
Até que a avó dele disse que ele precisava ir tomar banho. “Olha , esperem aí, volto já, prometo, não vão embora! Sentem nessa cadeira azul!” .
Enquanto isso interagimos um pouco com as outras crianças no quarto .A Dieli (14 anos) estava com dificuldade para comer. Conseguimos convencê-la de tentar comer pelo menos um pouquinho, a Tampynha colocou um tempero mágico na comida e a Marmota ensinou um jeito marmotoso mais divertido de mastigar ! O Felipe estava um pouco sonolento, mas demonstrou encantamento com as bolhinhas de sabão.
O Welllington voltou, ainda mais empolgado para brincar. Em alguns momentos interrompia a brincadeira para limpar a secreção que saia de seu olho. Fazia isso de forma fria, naturalmente ... não reclamava de dor ou qualquer outro incômodo (Meu Deus ele ia tirar o olho! E, naquele momento, nós, sua avó e as enfermeiras ali presentes pareciamos estar mais nervosas e ansiosas que ele) .
A Fulô levou uma injeção gigante ( a bombinha de encher balões!), deu uma de pneumologista (sugava e tirava pneuzinhos das pessoas!)! Depois a injeção foi usada pela Marmota e pelo Wellington para injetar dentre puns e outras coisitas mais, trimiliques no corpo da Tampynha que só voltava ao normal qd tocava uma muzquinha. E td isso era idéia dele! “Se aqueta, menino, vc vai se operar!” Dizia sua avó.
Momento de partir, o maqueiro chegou. O rostinho dele se transformou, o que será q se passava pela sua cabecinha de menino de 7 anos de idade?
O acompanhamos até o Centro Cirúrgico, cantando, brincando, tentando fazer algo para amenizar aquele inevitável momento de tensão. Ele colocou a mãozinha no rosto ... esconder algumas lágrimas ?? Talvez ... nos despedimos com o “PApaDOpaDa ...” .
Ah! Dp que o Wellington entrou, a Marmota e a TampYnha tentaram entrar no Centro Cirúrgico ( a Espaçonave!) O maqueiro até empurrou a maca (o foguete!). De súbito, veio um médico ( vestido de alface , ou seria ervilha , abacate ??) ... as palhaças entreolharam-se, temendo uma repreensão, mas surpreendentemente o médico, simpaticamente, disse: “Já estava na hora de vcs terem chegado né!? Mtos aqui precisando de sorriso!”
Não pudemos entrar pois estávamos contaminadas ... mas foi bem diferente a experiência de termos ido ao Centro Cirúrgico e sermos recebidas daquele jeito! Foi ... recompensador! Isso! Deu mais vontade ainda de pensar em melhorar nossas visitas!
Saímos do hospital exaustas , mas felizes e revigoradas ... felize
s por termos conseguido alegrar pelo menos um pouquinho o menino anjo e revigoradas pela contagiante vontade de viver daquela criança, mais forte e madura que nós!

Dra. Marmota