quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Hoje tem visita! Já reagi a esse pensamento de tantas formas diferentes... Correndo entre minha casa e os campi, passando tempo com amigos ou namorada, pertubando os vizinhos tentando aprender a tocar bateria e até vivendo no meio de tudo isso. Quantos 30 minutos teriam passado desde a última visita até 30 minutos antes dessa de hoje? Difícil dizer. O fato é que o humor variou muito nesses tempos e estar “louco pra começar logo” ou “nem tão afim assim” não muda muita coisa, pois já passou da hora de começar a se arrumar. A roupa e a maquiagem não é a que eu idealizava, talvez nunca seja... enfim: -Boh simbora boh que nós tâmo atrasado!

Humanizar, horizontalizar as relações, melhorar o ambiente hospitalar. Com o tempo essas diretrizes tem se incorporado as minhas crenças mais firmes, sem dúvida. Mas a impressão que tenho é que sempre vai haver uma pontada de insegurança: - Meu Deus, quê que eu to fazendo aqui!? Meus amigos nunca riram muito das minhas piadas... e se não der certo hoje? – Te vira, Birimbelo! Qualquer coisa bota a culpa nos loucos que te selecionaram!

Tentamos então distrair, interagir, fazer rir: acompanhados, acompanhantes, cuidadores, guardas, mulher dos bomboms... Assim, como se fosse a coisa mais fácil do mundo. E quantas vezes não é nem um pouco fácil, hein? Mas, penso que mesmo quando a tentativa é frustada, quando aparentemente somos rejeitados, a mera tentativa de trazer a tona, por debaixo de tamanha carga de sentimentos ruins, um sorriso, será sempre louvável.

Mas de vez em quando tem Aquele Momento. Aquela hora que você brinca com qualquer coisa e sente os olhos a sua volta, falando com você. Eles anseiam por sua próxima ação, pela sua aproximação, de fato. E você, o que faz? Bom, ser você mesmo (você-Seu-palhaço) nunca foi uma opção tão boa, talvez simplesmente porque não exista outra mesmo...

E para a sensação que sentimos quando conseguimos realmente interagir com os pacientes ou acompanhantes, sentindo que eles estão curtindo de verdade, existe alguma palavra que explique de forma mais precisa do que inexplicável? Creio que não... Na capacitação, fomos orientados: “o palhaço sente todas as emoções no último nível, sempre no máximo, e com o corpo todo!” É engraçado como essa informação é automaticamente incorporada (de fato) à atitude do Ipsloniano na visita. Imersos num enovelado de euforia e energia que emana de nós palhaços e dos rostos que nos olham (ah! Como eles só precisavam de um toquezinho para emanar essa energia...), é fácil sentir e fazer tudo “no máximo”, simplesmente porque alí estamos nos fazendo intensidade, sendo ela. Não poderia ser diferente. Não quando feito com amor, de ambas as partes.

Então é isso: o quarto da enfermaria está preenchido totalmente por um ar que nitidamente já não é mais transparente: -Num tá vendo? – o ar está denso de tantos sentimentos leves e belos, não mais de tédio, desconforto e dor. – O Chefinho tá chamando! – despedidas rápidas disfarçam a falta que aquele momento vai fazer e a imensidão que ele representa. Sala do Y, paninhos umedecidos, roupa umedecida (por um líquido não tão cheiroso, é verdade), coração vazando de sentimentos positivos, tempestade de felicidade. Pena que acabou. Festa, por que semana que vem tem de novo.




Esse texto é do meio de 2009. Tava mexendo aqui e o encontrei. Resolvi postar. Beijos!
Humberto Miná (Dr. Birimbelo)

3 comentários:

Allan disse...

Que bom ver esse blog rodando de novo!!! É muito bom ter a culpa de ter selecionado vcs, Miná! Muito bom mesmo!

Gaby disse...

tradução perfeitaa!!
sim sim sim vamos reativYvar nosso blog!

Guilherme Muchale disse...

Muito bacana o texto \o/ Esse fim de semana, atuei sábado e domingo depois de um mês e meio de reciclagem, sem pisar no hospital. Saí do final de semana completamente esgotado, pq realmente foi hipercansativo depois de enfrentar uma semana corrida de trabalho. Mas enquanto o físico estava esgotado, na minha mente a cada minuto pulavam idéias e mais idéias, memórias de pequenos momentos destes atos, e um sorriso enorme se abria sempre, pois eram tantos esses momentos engraçados e idéias divertidas para se fazer em um próximo ato. É muito engraçado pois depois de cada ato, tu acaba ainda mais motivado para voltar lá o mais breve possível, esteja cansado como estiver.