quarta-feira, 1 de junho de 2011

Mais Silêncyo

Há muito pouco tempo, o Papa Bento XVI foi acometido por uma dor enorme que transbordou de sua fortaleza espiritual pelo envolvimento histórico de sua biografia profana com os eventos da última Grande Guerra.

“Num lugar como este, as palavras falham. No fim, só pode haver um terrível silêncio, um silêncio que é um sentido grito dirigido a Deus: Por que, Senhor, permaneceste em silêncio? Como pudeste tolerar isto? Onde estava Deus nesses dias? Porque esteve ele silencioso? Como pôde ele permitir esta matança sem fim, este triunfo do demônio?”disse ele em Auschwitz.

É uma angústia semeada no peito do jovem daquela época, desabrochando hoje em grito aos céus de uma fenda insuspeita no meio da, agora, pedra-angular. A questão do Silêncio.

Curioso que o pai de Jesus, pelo menos o pai cultural – embora eu acredite que tenha sido o pai mesmo, em todos os sentidos, sem originar mácula nenhuma nisso – o Seu José foi um cara bem silencioso nos evangelhos. O pai que faz sombra, vela, conduz o camelo no deserto, trabalha a madeira e provê o alimento, recobre Maria e o Menino contra o frio da noite.

Quem sou eu para falar contra ou a favor do discurso do Grande Silêncio? Dá pra se entender o mal estar desse vento uivando, da visão do Espírito ferido e sangrando enquanto roça seu corpo pelos escombros da ignorância, do fanatismo.

Dia desses, a Dra. Esmeraldyna sussurra uns dizeres possuída pelo o Amor do encontro com as crianças internadas no hospital:

“Para que palavras quando se tem os dedinhos da mão balançando freneticamente tentando dar conta de tantas bolhas de sabão e tanta felicidade? Para que palavras quando um dedinho percorre o rosto daquele outro, pega um pouco daquela maquiagem e passa no seu, gerando um sorriso de satisfação?”

Não ouso dizer que essa seja uma resposta definitiva. De qualquer forma é uma resposta, sem querer um dia ter querido ser resposta, e é poesia. Gostaria de focar na multyplycydade do discurso do Silêncio. Aqui, o Pequeno Silêncio.

Eu vejo como sendo um recomeço do nosso olhar.

“Para que palavras quando se tem aquele olhar inocente que parece invadir o lugar mais profundo do seu ser?”

Ali era o fim da história do grandioso, dos grandes sistemas, das totalidades, das colossais doutrinas, do semitismo, do arianismo, e, de quebra, do Espírito Absoluto que se revela na história das coisas, as dominando, seus significados.

“Para que palavras quando esse olhar parece entender exatamente o que se diz?”

Aqui é o renascimento do Espírito no seio da inocência, do novo sempre novo, da reapropriação do mundo, no berço do singular, das coisas miúdas sem história, onde todo significado é surpresa e escândalo para todo sistema de pré-concepções.

“Para que palavras quando se tem um sorriso sincero e singelo? Para que palavras quando o olhinho brilha, a boca não consegue disfarçar um sorriso e a mão teimosa insiste em se despedir?”

Uma borboleta que se desprende do casulo inflexível das teorias prontas a moldar o homem. Das grandiloqüências, dos edifícios suntuosos, dos tratados imponentes que pecavam por falar muito. Uma borboleta que se lança ao infinito das correntes dançantes de ar, onde ninguém sabe qual o próximo passo, a não ser que venha de um ruflar que bata conforme o ritmo do coração enclausurado no peito a pulsar insistentemente no compasso do universo.

“Para que palavras quando o silêncio fala muito mais que todas elas?”

Um comentário:

Patricia disse...

muito lindo, allan.
obrigada por compartilhar!