Antes de postar o relato queria pedir desculpas em avanço por qualquer ofença que eu possa causar. =P
Sinceramente, espero que isso não aconteça. Qualquer generalização é mera licença poética. xD
"Bafo. Desabafo.
O que existe debaixo dessa máscara?! Bem, minha mãe sempre me disse que eu tenho mal hálito, um verdadeiro bafo, pela manhã. E assim eu acordo com o descomforto do meu hálito e dessa pergunta. A resposta é fácil. Um abismo. Trágico, não é mesmo?! Porque ninguém o vê?! Porque a máscara o disfarça. Um abismo no qual não desabo pelo simples fato de estar acostumado a ficar pendurado em sua beirada. O que me segura?! As interacções.
E por sinal a primeira, entre farofa de biscoito, amor e muita saliva, ocorre. Entretanto, ela não é vista. Ou melhor, não é sentida. Mas como não, se ela foi logo à altura dos seus olhos?! Será que a ela faltou algo?! Será que em mim faltou algo?!
É melhor esperar para descobrir o que me falta. Vamos seguir o caminho até o fim e ver o que me espera. Vamos seguir a listra amarela.
Mas até nesse simples gesto descobrimos o quão a vida é mesmo sem sentido, traiçoeira. Que nada é completo. Porque a listra amarela, embora um guia, lhe segue só até certo ponto da jornada, e então ela lhe abandona, acaba, do nada.
Você se sente desamparado, sem conhecer nada nem ninguém. Sem ideia de onde está nem de para onde ir. "Onde, em minha jornada, foi que eu errei?! Porque você teve que ir!? Como foi que eu vim parar aqui?!"
Cada passo parece em falso. Cada segundo desamparado cresce a certeza de que se está no caminho errado. Então um frio percorre a tua espinha. E é nesse momento que você descobre o quão grande é a sua força interior, mesmo com as adversidade e incertezas, para continuar adiante. Sempre radiante.
E então aparece a luz no fim do túnel. As luzes da cidade. Da cidade da criança. As luzes são seus habitantes. Rostos conhecidos, brilhantes mesmo na claridade da manhã. E então você percebe que não está mais sozinho e talvez nunca tenha estado. A verdade é que, ofuscado pelo medo, você simplesmente não queria enxergar. Talvez era isso o que me faltava, ou o que faltaram a mim, a visão.
E então começa a correria. E aqui confirmo minha teoria. Estou rodeado por cegos. Cegos que, como qualquer deficiente, procuram a sua cura. Cegos que, mesmo sem saber, são a minha cura. Mal percebem eles que o que mais procuram está logo em baixo dos seus narizes. Ou melhor dizendo. São os seus narizes.
E assim, entre lápis preto, amor e tinta, muita tinta, começa a terapia comunitária. As vozes vão afinando, os narizes vão aparecendo e as interacções, antes ignoradas, agora começam a serem vistas e sentidas! E assim, com os seus narizes, é que finalmente eles me encontram. Só com os narizes eu consigo ser visto!
Então adentramos o hospital. A linha amarela está lá novamente. Mas dessa vez, ninguém se importa com ela. Porque não mais estamos preocupados com o nosso destino. Qualquer lugar é justamente onde queremos estar. Em casa, juntos, no nosso lar.
E eu vou te contar, essa casa nossa tá com uma praga que é de todo tipo e tá em todo lugar. São os palhaços. E parece que eles vieram pra ficar. E aqui mais uma vez reforço a minha teoria. Só tinha um requisito pra ser palhaço, bastava ser gente! E agora, que alegria!, todos viam o mesmo. Todos os palhaços reconheciam os palhaços! Sempre soube que o que falta ao mundo é reconhecimento.
E assim a manhã veio, e, juntos, enxergamos esse mundo maravilhoso que nos cerca. Mas infelizmente o tempo não quis ficar ao nosso lado e foi embora. E a manhã acabou. E então, curiosamente, alguns voltaram a procurar a linha amarela. E as pessoas começaram a tirar seus óculos. Desculpem, quero dizer, seus narizes. E simples assim, alguns palhaços foram embora, ficando somente os que já povoavam aquela nossa nova casa antes da nossa chegada.
Minto. Todos os palhaços continuavam lá. O que aconteceu é que os que perderam os seus narizes ficaram cegos novamente! E além de cegos, parece que ainda perderam a memória! Será que elas esqueceram que todos os outros palhaços do hospital não tinham narizes?!
Esta é a minha teoria. Esses narizes são mágicos. Na verdade, eles são óculos especiais, que permitem o seu usuário ver através da máscara do próximo e enxergar, além do seu próprio nariz, o nariz alheio. Mas é engraçado, essa é uma habilidade inerente ao ser humano. Porque então ele precisa que alguém use um nariz pra poder usá-la?! Porque você nega o seu nariz?! Ele ainda estão aí, eu o vejo mesmo através de sua máscara, e ele está bem fixo ao seu rosto, ele é o seu rosto. Será que você não consegue senti-lo?!
Não deixem que a sociedade lhes dite a normalidade, pois esta é uma ilusão imbecil e estéril. Não deixem que a sociedade diga que as palhaçadas, ou as interações, sem um nariz para tal, são, na verdade, aberrações. Engraçado, isso. Quando se tem um palhaço por perto, todos se permitem e querem ser palhaços. Mas quando o palhaço está ausente, todos tem medo de serem os palhaços.
Por isso, os suplico mais uma vez. Não deixem que a sociedade tire de você o seu nariz. Não deixe, nem por um segundo, de enxergar ele. Na verdade, seja como o Rudolph. Deixe o seu nariz bilhar, vermelho e intenso. Faça questão que o mundo o veja e que ele lhe seja motivo de orgulho. E ajude o mundo a ver que ele também tem o seu próprio nariz, e que ele é lindo!
E, mais importante ainda, nunca deixe de enxergar e reconhecer o nariz do próximo. Pois, talvez, esse nariz seja a única coisa que ele tem e que o mantêm seguro à beira do abismo.
Cá estou novamente. Por uma máscara tornado invisível em meio a uma multidão de cegos. Por quanto tempo?! Pelo tempo que meu naryz me sustentar.
Bar. Desabar."
Dr. Zynho
Dr. Zynho
4 comentários:
dr. zynho mais zynho do que nunca! parabéns, zynho pyolho! beijo grande, Lôra.
noossa, Macedovski! voce até que serve para escrever, hein??? Muuuuito lindo! fikei assim orgulhosíssima de voce, meu querido! beyjos da Florysbela, o prazer é todo seu =O)
É outro Zinho, Florys! Outro Zynho... Que bom vê-la por aqui.
Da série The GodNose! ^^
Rebys. =0)
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