sábado, 21 de maio de 2011

RebYs e Pipoca

Certo estava aquele que proferiu: Nem só de alegrias viverá o palhaço. Acontece que hoje o nariz pesou, a maquiagem derreteu e o coração apertou.

Disseram-me uma vez algo como que o acontecimento de uma simbiose mágica e praticamente instantânea entre o clown e o sujeito não clown. Um entrelaçamento de identidades, quando um mostra o que o outro é, enquanto o outro, quando outro, esconde. Uma coisa assim, tão assim, que as fronteiras de cada um começam a se esfarelar, os contornos vão ficando indefinidos, fraquinhos, desalinhados, cada vez mais tênues. Aí o que acontece é que o sorriso de um, vira o sorriso de dois, as brincadeiras de um, as brincadeiras de dois. E, dessa forma, os corredores e as enfermarias vão sendo perpassados por uma figura serelepe, travessa, alegre e colorida, exteriormente simples e bem delimitada. Mas ah se soubessem do processo todo, da fusão mágica que acontece entre, por exemplo, a RebYs e a Drª Pipoca! Aí sim os olhinhos ficariam ainda mais maravilhados. Aí sim o espetáculo seria mais bonito, aí sim, aí sim. Talvez essa parte do show não possa ser claramente demonstrada. Mas, pensando bem, na verdade, eu não sei. Talvez algo escape e, talvez de novo, seja exatamente esse algo fugidio o responsável pelos sorrisos, e eu é que não sei e fico achando que são meus encantos palhacionais que tornam as coisas mais felizes. Isso é algo a se pensar. Contudo, o que realmente me inquieta, agora, é o grau de intensidade, de imbricação entre o clown e o não clown. Diante de uma situação bastante triste e tensa, a Drª Pipoca não conseguiu sustentar o peso da contradição de sua figura dentro do hospital e tirou o nariz. Foi sim, foi sim, ela confessa (ou condena): RebYs tirou o nariz da Drª Pipoca dentro do hospital! E as duas agora não sabem exatamente dizer se o que aconteceu naquele momento foi uma falha na transferência da seriedade da RebYs para a Drª Pipoca ou se, na verdade, a Drª Pipoca nem precisava dessa parte da RebYs porque ela também tem uma partezinha assim dentro dela, mas, naquele momento, ela não soube encontrar. Deve ter até procurado, mas não encontrou e, diante da urgência do momento, não havia tempo para buscas de seriedade em meio àquele vestidinho amarelo de São João e dentro dos bolsos do jaleco. Foi aí que a Drª Pipoca pediu penico e disse: RebYs, vai você segurar a mão dela porque, sem a seriedade, que eu não encontrei dentro de mim, fica difícil sustentar tanta contradição! E a Rebys, confusazinha, tirou o nariz da Drª Pipoca, o seu gigolé, e assumiu o posto. Aí, ficou uma coisa assim, confusa, sabe! A RebYs e a Pipoca são uma só? A RebYs e a Pipoca são duas que, quando estão em sintonia, funcionam como uma só? Ou, na verdade, a RebYs complementa a Pipoca e a Pipoca complementa a RebYs, havendo, assim, um espaçozinho, ainda que pequeno, entre a RebYs e a Pipoca? Em minha opinião, eu não sei! Só sei que, em meio àquela angústia toda, foi bom sentir que a RebYs podia ajudar a Pipoca, oferecendo a ela o que ela não pôde encontrar naquele momento e, dessa forma, retribuindo um pouquinho de todas as incontáveis benesses que a Pipoca vem oferecendo a RebYs no decorrer desses quase dois anos.

3 comentários:

Patricia disse...

amei esse relato! essa dicotomia que a rebys e a pipoca tem entre si é uma coisa tão verdadeira, né? eu e a patolyna temos um esquema desse também. e ainda bem que a rebys tava lá né, pra ajudar a pipoca nessa hora tão necessária :~


lindo o texto, lindas vocês! :D

Gaby disse...

:~~ lindas!

Allan Denizard disse...

F-A-N-T-Á-S-T-Y-C-O-! Em que outro mundo a gente teria tanta matérya-pryma para falar sobre a incoerência nossa de cada dya? A gente usa muitas máscaras o dia todo, mas no palhaço isso acontece de forma consciente. E se a colocação dela nos faz melhor encarar nossa máscara cotidiana, que estranho fenômeno deve ter se processado diante da negação dela!!! Mas também da assunção de que ela sempre te fez muito bem!!!