domingo, 2 de novembro de 2014

Nove anynhos



Fui dar uma palestra ontem sobre Política de Humanização. Encontrei uma pessoa muito querida que foi meu parceiro de palco. A fala dele o define bem: "Sou marxista. Não sou dos pós-críticos, para quem entende o que é isso. Sou marxista." E ele era extremamente engajado com o movimento estudantil, membro ativo de um partido político de esquerda, barbudo...

O movimento estudantil e Marx sempre me foram muito assustadores. Porque passam uma obrigação moral de que devemos ser engajados na transformação do mundo, se valendo de todos os argumentos ácidos que devem ferir nossa atual civilização até que, implodida, uma outra renasça, mais justa. Era o sentimento que eu tinha, pelo menos. 

Mas, o Y me conquistou de forma sorrateira, "ele não me trouxe nada, também nada perguntou", e, nas suas bobas pretensões, me mostrou o quanto se pode mudar o mundo sem querer destruir o que já está aí. Pelo contrário, o quanto se pode mudar o mundo revelando o muito mais que o mundo que existe nesse mundo. As realidades escondidas: os braços que se abrem, os dentes por trás dos lábios, as lógicas pervertidas, os significados velados, as crianças internadas, as crianças externadas, o doutor enarigado, o palhaço enjalecado, as tintas da pele, as peles de tinta, a família, o amor (a mais boba de todas as coisas), vocês (os mais bobos). 

Meus últimos meses foram percorrendo o que escrevemos nos últimos anos. Os últimos anos foram extremamente preciosos, quero que saibam. 

Os últimos anos foram extremamente preciosos e o mundo é o mesmo, e vocês já existiam nele. Os últimos anos foram extremamente preciosos e o mundo não é mais o mesmo, por causa de cada um de vocês. Parabéns, querydos!

Allan Denyzard 
(Dr. Acerola)

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