Todos os integrantes do Y passaram, ao entrar, por um ritual de ynycyação que também era preparação para que eles reconhecessem o eu-palhaço.
Esses rituais são ofycynas de arte que nos introduzem aos princípios do palhaço, seu grande corpo, seus muitos sentidos, seu exagero de linguagem, seu gritante silêncio.
Um dos exercícios que mais causa estranhamento é a interação com um objeto morto. Pedimos para que cada integrante na sua vez vá lá na frente de todos e interaja com um objeto, por exemplo, o clássico copo.
O grande segredo da interação não é a invenção de histórias com o objeto, mas a subjugação hipnótica por parte do objeto a que a pessoa se submete. Entende? Devemos praticar uma interação tão intensa que a pessoa se sinta copo!
Claro que esse segredo nós revelamos aos poucos, na medida em que as interações vão se sucedendo sem êxito, ou com êxitos esparsos. Até porque esse segredo é difícil de passar com linguagem compreensível de primeira. Quando um dos novos integrantes replicou:
- Mas, o copo está parado!
Dissemos:
- Isso! Esplêndido! Você entendeu!
Teatro do absurdo? Não. Com o tempo conseguimos entender que interagir com o copo é um mar aberto que nos ajuda a entender o outro e com ele viver na vida dele. O palhaço, especialmente o de hospital, nos ajuda a penetrar naquela vida adiante, não forçando nada que não seja movimento da própria vida dela. Isso dá mais vida a vida que se nos apresenta doída de tanto ser cortada.
Ouvimos nessa última oficina a profunda frase de uma jovem que disse:
- Eu não posso morrer, porque minha mãe me ama!
Percebam que não há um nexo lógico racional nessa frase. Todos podemos morrer. Independente de sermos amados ou não. A morte é um evento inevitável. E ainda os ícones de nossas religiões, vou me reportar ao maior deles aqui pelo ocidente, morreu antes de ressuscitar. Sua ressurreição não teria sido tão importante se ele antes não tivesse morrido. Isso é óbvio! A relação entre a morte e o amor é outra. Sempre procuramos a salvação desse desfecho. Ou quase sempre. É um arquétipo humano os seres imortais. E entre as muitas tentativas filosóficas de nos livrarem do medo da morte, a resposta mais cativante foi a promessa de permanecermos vivos nos olhos de quem nos ama. Uma promessa algo tola, mas de uma fortaleza grandiosa – até o momento que se quebra.
Na paixão, sentimos plenos na vivência do amor, e essa plenitude é imortalidade. Instantânea. A pior das misérias é a vida intensa que desfrutamos no amor-paixão. Porque extremamente instável, mas de um gosto de “eterno retorno”. Por mais que nos faça sofrer, não há quem resista a tentação de repetir.
Eis os olhos maternos que imortalizam os filhos no seu amor.
E o copo? Se praticássemos a liberdade de nos deixar ser conduzidos pelo copo, nos passos que ele dança enquanto o descobrimos, perceberíamos, enfim, que há nosso reflexo agigantado no seu corpo. Ser o copo nos traz de volta ao contato da natureza que é tudo que nos circunda e é nossa também, a nossa própria.
E o amor?
Pergunte para a menyna que chorou com a rachadura no seu copo que carregava desde os dois anos, tão logo largou o peito da mãe. Esse texto é uma homenagem ao copo dela, que tinha mais vida do que muito ser vivente, em seu coração.
2 comentários:
eu tb tenho um copo dsd minha linda infancia, antes dos meus olhos e minhas pernas entortarem...
mas ele eh de aluminio soh assim tah vivo ateh hj... só nao sei aonde, mas tá sim =P
"E entre as muitas tentativas filosóficas de nos livrarem do medo da morte, a resposta mais cativante foi a promessa de permanecermos vivos nos olhos de quem nos ama." Isso foi lindo.
Postar um comentário