sexta-feira, 4 de abril de 2014

GagAllan


Vai ter feijoada! Horário marcado, lugar escolhido, caronas combinadas, todo mundo de fardinha sorrindo e o chefynho a caminho.
Todo mundo reunido, papo vai e papo vem, estresse evapora, risadas regadas a rodadas e rodadas de frutilly. Obrigada, Gerlânia, Gerlúcia, Gerlídia... Gerlândia! Todo mundo relaxado? Vamos trabalhar!
Trabalho sério a gente faz a portas fechadas, né? Cof, Cof. Errado. Se faz no meio de um parque, com o portão aberto, com o pé na grama, com plateia diversificada e sob a sombra de um baobá. 

“Movimentos Brownianos”, grita o Allan (Não lembra quem é? Clica aqui!). Todo mundo obedece, foi uma ordem sensata. De repente surge uma vergonha, ninguém faz contato visual, consegue-se sentir os olhares dos alunos que estão tendo aula de campo ali no Passeio Público, alguns velhinhos param pra tentar descobrir o que esse grupo estranho e heterogêneo visualmente faz ali. Mas com o tempo vai passando a vergonha, vai-se inovando.          
Andar de costas, rir do amigo, um beliscão naquele que passou, um risada por motivo algum, primeiro as lagartas, que flor linda, opa, quase pisei na fronteira, corre corre, inventa uma ponta de pé... ESTÁTUA!
Todo mundo muito confortável, ou seja, tinha alguma coisa errada. Vamos facilitar! Agora a vida tem meio que uma escada, você pode ser quem quiser como quiser, pode ser gigante, nível Miná, pode ser tamanho de gente pequena com olho de bila, nível Kaká, e pode ser também Pequeno-Polegar se estiver achando que tem espaço sobrando sem necessidade, nível Polegar. E vamos e vamos e fomos. Era um sobe e desce e pára e vira dinossauro T-Rex, e bailarina e pula e grand plié e dinossauro de novo, repetindo e rindo e chorando e torturando até todo mundo ter malhado bem os glúteos. Mas cadê ritmo, aquilo não era aleatório, vamo tentar todo mundo junto! Não deu. De novo. Não deu. De novo! Não deu. De novo!! Não deu. Bateu desespero. Cadê a sintonia, o vento tá levando embora?

Mudamos de exercício, a gente resolveu procurar esse ritmo coletivo que tinha se escondido. Mãos dadas, respira, presta atenção. O jogo é o seguinte: a gente tem que passar a bola imaginária, cuidado que ela volta, ela quica, ela dribla, ela sai da roda. A gente se concentrou, ninguém errava, perfeição, aêêêêêê, tudo certinho, atletas maravilhosos! Resultado: Ninguém riu, nem sorriu. Aí uma dupla errou. “Pega a bola. Pega tu! Mas eu não quero! Problema teu! Toma! Não quero! Aff, tá.” Todo mundo riu, foram dois joelhos dialogando, um quase deu na patela do outro. Taí o ritmo, ninguém quis roubar a bola, a gente sabia onde a bola estava e soube esperar, vamos tentar de novo os níveis?

Vamos e vamos e fomos! Todo mundo ficou mais tenso, né. Oura, poxa! O orientador faz um exercício pra gente melhorar e a gente piora? Cadê a vergonha desses palhaços? Não tava dando, desistir não era uma opção, ninguém queria parar de jogar, então a vida tava obrigando a gente a trapacear e deu certo! Todo mundo riu da honestidade daquela trapaça. O alívio foi contagiante, mas não tinha acabado. A gente tava suado? SIM! A gente tava cansado? SIM! O Passeio Público ia fechar e seríamos assaltados? SIM! (OPA, Não, foi revitalizado, todo mundo visitando que o novo Passeio Público tá show de bola! Até guarda tem, minha gente! Não acredita? Clica aqui!)Enfim... Todo mundo de dupla? Pronto. Então vamos tentar equilibrar a caneta (batom, galho, garrafa, diabaquatro), caíu, finge que não. Deu cãimbra, finge que não. Tropeçou, levanta. Engarrafamento, faz ponte, passa por túnel, improvisa uma quadrilha junina, mas vai vai e foi!

E a gente parou pra refletir. Não tem problema errar. Não tem problema não causar risada. Mas essas coisas não funcionam sozinhas, a gente precisa de alguém. Da dupla, da platéia, do vento, da criança, do erro, do defeito, do acerto, da bobagem, da coisa séria. O sol desceu e a gente entendeu: não era questão de tentar fazer o certo ou fazer o errado, não era empurrar a alegria porta adentro. O negócio era explorar, prestar atenção, sentir o vento e escutar ele sussurrando: “Vai, menino. Vai, menina.” Aquela sensação de coincidência. Aquela alegria incontrolável e infantil de achar uma alma gêmea por meio milésimo de segundo. A tarde toda e eu finalmente lembrei de como era bom brincar de verdeclic com meu irmão: AHÁ! FALAMOS IGUAL E EU PEGUEI NO VERDE! VERDECLIC! AGORA SÓ PODE FALAR QUANDO EU DISSER TEU NOME.

Senti saudades de ficar presa no jogo. Agora não é questão de ganhar ou perder, porque aí o jogo acaba.

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