terça-feira, 19 de julho de 2016

Prymeiro dya: Sim, vamos começar!



Fico pensando o que deve passar na cabeça desses meus amigos, quando chego para dar a oficina no primeiro dia. Vim envelhecendo, me tornando casado, cada vez mais pai, e uma aura de (caduquice?) experiência vem mudando meu semblante. Aí, chego e digo, vamos começar!

Todavia, aparentemente não começa. Fico perambulando pelos corpos deles e tentando enxergá-los. É a espiral, o piercing, o anel grosso, a sapatilha de rendilha, o inusitado de ser comum (mas bem maior do que eu e com cachinhos), o bandaid no queixo (e a fibrilação no peito), o nome que poderia ser comum mas que ostenta um "e" ao final, a veia que salta na testa ao ficar constrangida, a moldura dos óculos, o brilho do cuidado das madeixas, o nome que parece um verbo substantivado, o nome que parece de um príncipe de Etérea. 

De repente, um pretexto. Acorda. Digo, a corda. A corda é um acordo para que acordemos uns para os outros. Diga aí que eles não se tocaram muito disso. Como todos vocês, eles ficam presos no objetivo, que deve ser perseguido, claro! Pular até o cinco, descer até o zero. A vida tem que ser obedecida. Mas, deve haver fendas na vida, como as de nossos joelhos que ralamos nas brincadeiras de esconde-esconde ao ir em busca da mancha. Vê. A brincadeira ordena que se esconde, mas quer que se ache. O que acontece entre estes dois pólos? Nós. 

Então, continuamos, agora eles junto comigo, a perambular pelos corpos deles. Descobrimos que a mão dela sua demais, que os gastrocnêmios dele são grossos e invejáveis, que aquele pula desengonçado, e que aquela pula graciosa. Vamos descobrindo o gritinho de susto, o gritão de desespero, o grito de seguir a norma. Revela-se o chatear-se, o entediar-se, o comprometer-se, o enfurecer-se aqui e ali, dessa e daquela pessoa. 

De novo: o objetivo final é aquele mesmo. Temos que pular até o cinco e descer até o zero. Mas, qual o objetivo final das alegrias que não querem ter fim, que não imaginavam nem ter começo? Eu falo dos mil risos gostosos que nascem espontâneos do meio. Qual o objetivo final do erro, do acidente? Não tem objetivo final, pois não tem nem objetivo. Erro e acidentes acontecem. Como acontecem os risos? São explosões de peito. 

Estar presente é muito importante. Segurar a mão. Agarrá-la. Dizer sim ao jogo. Veja que poderiam ter desistido. Ao contrário do que temia um dos joãos, não estamos mais em uma fase da seleção. Se você desistir da ofycyna, não quiser participar, achar tudo vão, não é mais critério de exclusão. O que está acontecendo aqui, já não é mais um processo decisório de uma cúpula superior para dizer quem fica. Vocês já estão aqui - dentro. O que essa ofycyna faz é tentar nos fazer entender qual o lugar em que você pode se aninhar nesse peyto.  

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