segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Carta ao meu nervosismo.

22 de agosto de 2016

Dra. Florida
Coração Palpiteiro
Rua Medo, Sem Número


Prezado Nervosismo,

Eu queria te dizer o quão ingênuo foi esses medos que você provocou, mas queria te mostrar o quão grande eles me fizeram sentir depois.  Eu queria te dizer o quão singular foi deixar cada gota de suor  fazendo aquela maquiagem e ansiando saber o que me esperava. Mal imaginava eu que a primeira porta aberta seria enfeitada com cantoria de palhaços. Cantamos parabéns para alguém, mas parecia mais uma felicitação a cada um que ali venceu seu medo e seu nervosismo, que juntou seus cacos e se fez inteiro para viver o nosso vysitao. 
Foi uma tarde intensa, prezado nervosismo. Três horas passaram, você se foi e eu nem vi. Ou vi? Ah! Eu vi e deixei você escoar no sorriso singelo do Gabriel, que desenhou o nariz amarelo da Dra Farrofas e pintou minha tatuagem com lápis cor roxa. Eu vi e deixei você ir embora junto com o medo do Lucas, que não conseguia respirar sem a máscara de oxigênio. Te deixei embora para conseguir segurar o Lucas no ombro e ajuda-lo a descer na cama. Eu te deixei ir embora porque naquela tarde o que me ocupou foi o conforto. Estranho, né? Como sentir conforto diante daquela criança que chorava quando eu aparecia no vidro da enfermaria? Conforto porque no final da tarde aquela mesma criança que chorava agora brincava com bolhas de sabão as quais eu não conseguia soprar,  mas o Dr. Noia conseguia fazer aquelas bolhas parecerem maiores que o mundo. Brincava eu de estourar bolhas com nariz de coração. Foi ali mesmo que residiu meu coração a tarde toda, a tarde toda no nariz vermelho.
Prezado nervorsismo, eu queria te dizer que naquela tarde eu me escrevi e me bordei de todos os meus sentidos. Eu me vi e revivi na memória cada olhinho espantado de criança ou sorriso pequeno nos lábios dos adultos. Eu te deixei de lado para me alimentar de brotos de fantasias que nascia nos olhos daqueles pequenos. Desde o garoto que tomou café quente e acreditou que barriga ia ferver à menininha que se assustou com a buzina do nariz vermelho. Eu te deixei de lado para entrar no mundo de fantasia meu, onde eu acredito que eu posso ser tudo que eu quiser, puder e imaginar. Eu te deixei chegar talvez desde o dia da primeira fase da seleção para poder te deixar e ir embora no momento onde algo melhor pudesse ocupar o seu lugar. Hoje eu sou ocupada, minha ocupação é levar minha fantasia para onde precisam dela. 



Atenciosamente,


Dra. Florida. 

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