Eu tinha uma missão simples: colar os cartazes de procura-se do coelho da Páscoa na pediatria do hospital. Resolvi ir de palhaço, mesmo não tendo outro palhaço pra visitar comigo.
Short, meia, tênis novo, maquiagem, cabelo, nariz, maracas. Jaleco por último. Prontíssimo!
Fui. Passei rápido, sem brincar muito. Ninguém tinha visto o coelho, então fui pra pediatria logo.
Logo no primeiro quarto encontrei um menino todo enrolado, só com a cabeça de fora, assistindo eu pregar o cartaz na porta, sem falar nada, como se nem tivesse ali, de palhaço. Todo mundo esperando que eu fizesse alguma coisa. Fiz menção de sair, depois que terminei de colar o cartaz na porta, ignorando todo mundo. Mas alguém disse "hey". Eu tava esperando por isso. Mas, claro, fingi que não. Voltei. Todos com cara de sim pro jogo.
Conversei com todo mundo e fui pra perto do menino enrolado.
-Oitudobommeunomeécajusoumedicoespecialistaemmarmotistaformadonacuspvimaquisó.... (respirei, sem ar)... Oi
-Oi (sorriso)
-Por que que tu tá todo enrolado?
-...
-ta com frio é?
- (balança a cabeça afirmativamente)
-Pois deixa eu te assoprar! AFUUUUUUU
Passou?
-(Balança a cabeça negativamente. Sorriso)
-Teeeem certeza? Sempre que eu tô com frio eu assopro e melhora. Pera, vou tentar de novo AFUUUUUU...Passou?
-(balança a cabeça afirmativamente. Sorriso.)
-Pois te desenrola macho!
-Oi (sorriso)
-Por que que tu tá todo enrolado?
-...
-ta com frio é?
- (balança a cabeça afirmativamente)
-Pois deixa eu te assoprar! AFUUUUUUU
Passou?
-(Balança a cabeça negativamente. Sorriso)
-Teeeem certeza? Sempre que eu tô com frio eu assopro e melhora. Pera, vou tentar de novo AFUUUUUU...Passou?
-(balança a cabeça afirmativamente. Sorriso.)
-Pois te desenrola macho!
Olhei pra mãe dele que tava do lado desde o começo, e eu ainda não tinha falado com ela. Pensei em fazer ela entrar dentro do jogo, mas ela tava olhando pra mim com uma cara de reprovação bem séria. Achei que ela podia não gostar de palhaço. Pensei em sair. Olhei pro menino. Ele continuava sorrindo e esperando alguma coisa. Daí vi o pé dele. Tava roxo. Bem roxinho. Na verdade eu não sei se era roxo, pois tenho umas coisa estranha nos olhos que num enxergo as cor direito, mas era uma cor assim... talvez meio roxa. Entendi a cara da mãe. Pensei em parar de brincar mas...
-Sim ma, tu não te descobriu ainda? Pois bora fazer assim, eu me descubro e tu se descobre tá bom?
- tá...
- tá...
Tirei as maracas do bolso e pedi pra ele segurar. Tirei o Jaleco e coloquei em cima da cadeira.
-Pronto, tua vez
Meio hesitante ele foi tirando o pano. Todo o corpo tava roxo. Ele olhou pra mim esperando eu ter alguma reação. Eu continuei olhando pra cara dele, agora esperando algo dele.
- E agora? Ele perguntou.
-Quer brincar de que?
-Quer brincar de que?
Olhei pra mãe. A cara de desaprovação tinha virado sorriso tímido. Pediu pra tirar fotos. Pedi pra ela me ajudar com os cartazes.
Iai a visita seguiu. Arrumei um companheiro de pele roxa pra me ajudar a colar os cartazes e que me seguiu a visita toda. Ele não ligava pro meu nariz vermelho, eu não ligava pra pele roxa. Era o nosso trato silencioso. Mais tarde eu até vesti o Jaleco de novo, mas o menino tímido coberto de panos que eu tinha encontrado não precisava mais se cobrir. Inclusive foi todo exibido provar que sabia sim dançar no quarto das meninas.
Voltei pra casa pensando que a gente devia se descobrir mais, as vezes.
Caju - Mayko
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