sábado, 16 de setembro de 2017

Subo as escadas do meu prédio com as pernas trêmulas, sem sequer estar voltando da academia.
Sinto o peso da velhice do palhaço me visitar. E quero relutar contra isso, afinal tenho muito a aprender, muito a conhecer e desbravar por essas enveredas que escolhi 3 anos atrás. Contudo, senti muito medo por eles e por mim. E mesmo sabendo que era inconcebível, peguei a responsabilidade de deixá-los bem. Quem sou eu para isso, afinal? Ninguém. E ainda bem que percebi a tempo que não iria fazer isso sozinha. Lá estavam elas...
Crianças! Os melhores palhaços do jogo! Crianças, muitas crianças. Ingenuamente, não sabia que o SOPAI era um hospital DELAS! Apenas delas. E, ao passar pelo terceiro visitão, meus olhos de palhaça não eram mais os mesmos. Trazem a senescência, o orgulho de ver os novos se virando com suas piadas, abraços e histórias. Minha vontade era sentar numa cadeira de balanço e ser plateia dessa leva, dessa geração massa que é a Mafa!
Meus olhos apurados também enxergavam demandas das crianças, sejam elas de carência, violência, atenção. Senti que estava ali para que se qualquer coisa desse merda ou não. Os seios de uma palhaça viraram balão, e assim, para que eles não fossem estourados, a barriga de outro palhaço virou a explosão. Em outra situação, uma palhaça parecia ser a senhora elástico, e ali eu vi que seu poder era se esticar sem ao menos tirar o sorriso do rosto. Fez-me lembrar de outros amigos, de outras gerações, que eram sempre espancados por uma leva de "monstros".
Reparei que o esconderijo de um deles foi a casinha do bebedouro, e quão foi confortante a esse o momento de contar uma história na brinquedoteca.
Via tombos e uma montanha de crianças por cima de alguns e sarcasticamente ria da situação. Estava tudo sob controle aparentemente sob minha visão (ou não).
Ao pegar essa "responsabilidade" de deixá-los bem naquela situação de risco, quem ficou bem fui eu.
Me senti plena ao saber que escolhemos pessoinhas certas para entrar nesse mundo de uma letra única, mas tão inteira e intensa!
Vou ficando por aqui. O cansaço me ocupa de uma forma transcendental neste momento, mas junto dele a sensação de leveza, ao vislumbrar as belas asas desses novos seres planando sob narizes, corações vermelhos e pulsantes!

Crystalina.
Pra vc, Crystal! :)

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