Convidaram-me para um congresso onde os palestrantes vieram falar sobre humanização, e alguns sobre a palhaçoterapia nesse contexto. Estamos em Cuiabá. Um destes palestrantes foi o fundador do projeto daqui: José Guilherme Schwam Júnior. Eu gosto de conhecer essas pessoas. Fico querendo ver as virtudes que levam alguém a conseguir um tal feito: fundar um projeto contra-hegemônico numa faculdade dura.
O jovem Schwam disse-nos que era um feito da turma dele. Eram pessoas disponíveis para o novo. Contudo, há uma aura no rapaz que denuncia uma liderança bem-vinda.
Fala fácil, pensamento rápido, presença de palco na vida. As poucas horas em que o vi existindo, vi-o apontado para o outro, resgatando saudades da cidade que entregou seu diploma de médico. Ia dizendo lugar por lugar, como que reconhecendo o território que um dia lhe acolheu, mas também revelando a intensidade com que viveu as amizades.
Um dos maiores temores enfrentado por estudantes da saúde, particularmente na medicina, que se dedicam à palhaçoterapia é o de esta ação prejudicar seus estudos. De tal forma, que quando eles encontram alguém que muito se dedicou ao projeto e hoje é um representante dessas especialidades difíceis, como neurocirurgia ou neurologia, ficam gratamente felizes.
Schwam é neurologista. Abriu este congresso com uma aula brilhante que começava apresentando o cérebro como órgão dos seus amores para então ir revelando como o palhaço que ele foi ajudou a incrementar seus conhecimentos médicos. Trouxe uma revisão de artigos, numa abordagem bem acadêmica, para fazer os caçadores de evidência se abrirem para esta práxis do riso. Encaixou piadas certas em momentos oportunos de forma equilibrada no discurso. A mensagem chegou ao público.
Esbelto, aprumado, penteado, cuidadosamente imberbe, fala bem pontuada, chegamos a pensar que é uma falsa modéstia sua advertência de nervosismo ao começo da palestra. Vamos assumindo que ele mais parece uma montanha com altura que impõe respeito, tamanha a intimidade com os circuitos complicados do cérebro. Até que entra nas mais belas histórias que viveu junto aos pacientes visitados pelos palhaços, avermelha os olhos, segura o choro. Não é uma montanha. É um menino. É a criança de que fala Nietzsche, com a qual deveria se parecer o homem do futuro, sucessor do camelo (carregador de fardos) e do leão (rugidor, esbofeteador e revolucionário). Um lado do cérebro alimenta-se de arte, o outro, de ciência, e estas duas são asas. Pesam para quem não as sabe usar. Do contrário, voam.
Schwam voou hoje e nos fez voar.
Um comentário:
Sem palavras para agradecer as suas palavras! Um prazer gigante “passar” por pessoas como você nesta vida. Continue voando! Grande abraço, meu amigo!
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