segunda-feira, 16 de abril de 2018

A farmacêutica

Desde o início do projeto Y discutimos que estudante de qual profissão poderia se beneficiar do que a palhaçoterapia traria para a formação do indivíduo. Assim, tendo sido formado inicialmente por medicina, enfermagem e psicologia, a fisioterapia e a odontologia foram incorporadas em seguida. Mas nunca a farmacologia. Reinava uma obviedade de que os farmacêuticos lidam apenas com substâncias e não com pessoas, ou pelo menos, não tanto assim para precisar das experiências que o palhaço trás. Nestes últimos três dias eu conheci um argumento vivo que deve fazer cair por terra esta obviedade. Seu nome é Ziliane.

Farmacêutica de formação, foi a coordenadora burocrática do I Congresso de Humanização e Palhaçoterapia que acabei de participar. É também a coordenadora de mais uma dúzia de projetos que pulsam na Federal do Mato Grosso. Sua capacidade de materializar desejos me faz pensar na força de um taurino, cuja presença em seu mapa natal deve estar iluminada com importantes astros.

Sorriso farto e fácil no rosto, passo firme, firme passo, olhar receptivo, como que a deixar o interlocutor à vontade em sua casa, Ziliane é um nome de conquistas. Todas as pendências maçantes do evento ela tinha na palma da mão. Antecipou todas as intercorrências que pude perceber, agilizou relatórios de viagens que certamente iriam me deixar desnorteados. O grupo de palhaçoterapia do lugar é por ela orquestrado sem parecer invasão.

O meu encontro com esta guerreira me veio em momento oportuno, quando por estes tempos estou mais ciente de como a farmaco-lógica das substâncias dialoga com a lógica das almas, em uma palavra, alquimia.

O pensamento alquímico é alienígena para a química moderna porque é integrador demais, e possuía zonas ocultas que apenas os iniciados tinham acesso. Hoje, as mais diversas revelações de escavações interpretativas nos permitem enxergar que as transmutações das substâncias tinham correspondência direta com a da alma de quem o praticava. Ir do chumbo ao ouro era uma busca na matéria e no espírito. O poder do mercúrio reagindo com o do enxofre (fase nigredo) formando o sal (fase albedo) tem a mesma estrutura explicativa que nos fala do espírito que cai no corpo gerando o humano. Contudo, a combustão dos dias, a água coletada do primeiro orvalho da manhã, a favorável conjunção estelar, todos estes aspectos deveriam ser buscados para fazer purificar o sal rumo ao surgimento do rubedo, a sublimação vermelha, passo perto para a formação do ouro. É a que Ziliane se dedica entre os estudantes. E eu descobri seu segredo.

Dar vazão para toda essa gama de experiências promovidas pelo palhaço (nariz rubro) é permitir a transmutação de almas rumo ao ouro que iluminará a sociedade.

Digressões esotéricas à parte, essas minhas reflexões são fruto da tentativa de materializar no meu entendimento a nobreza desta mulher que encontrei.

Um comentário:

Unknown disse...

Menino você é maravilhoso! É mestre, é médico, é artista, é poeta, é humano...que prazer conhecê-lo! Nunca fui tão bem descrita, sou transparente mesmo e você leu a minha alma!😍 Que lindo este universo que conspira para que eu encontre pessoas como vc! Organizei um congresso e tive a honra de conhecer o admirável Allan! Obrigada pelo carinho! Amei a descrição 😍😍😍😘😘😘