Falamos muito dentro do Y acerca do significado místico do três, e como ele casou perfeitamente conosco.
À época do Orkut criamos até um tópico de discussão para alimentarmos tudo o que se mostrava como três: as trindades, as tríades, as trilogias de toda ordem.
Contudo, momento revelador, se o três é o símbolo da estabilidade fundamental, pois é de três pontos que se define qualquer plano, o quatro é a perfeição que o transcende. O quatro é o ponto que desloca o observador do plano do três para olhar além.
Não havia pensado nisso à época da dissertação, mas, de novo, a mística se faz presente nos caminhos do Y. O quarto capítulo é aquele em que me desloco do plano em que estávamos para olhá-los de cima.
Um dos símbolos da maçonaria é o olho que tudo vê. Este olho está no topo de uma pirâmide. O vértice que aponta a transcendência em relação ao plano da terra, sem, todavia, se desconectar dela.
Logo ao início do capítulo, é preciso que eu lhe conduza por uma imagem: a do caminho do Y. Aqui temos pelo menos quatro significados nele incrustado:
- é o caminho que cada indivíduo percorre entre a salinha de figurinização e a enfermaria;
- é o caminho que cada indivíduo percorre entre a laicidade e o profissionalismo;
- é o caminho que cada indivíduo percorre entre a infância e a velhice;
- é o caminho que o espírito percorre entre a simplicidade de um eu ingênuo e a unidade de um eu pleno.
É verdade! Essa leitura não é só possível como é desejável. Veja, por exemplo, que quando falo sobre as amarras que as pessoas disseram existir em suas vidas, saímos das história individuais e chegamos até a teoria do poder onipresente defendido por Foucault. Quando falamos sobre a criança, tem-se aquela que somos, a que buscamos fazer sorrir, as que Korczak decidiu acalmar em uma câmara de gás nazista, voltando, então, para a enfermaria onde o projeto atua, com a descrição de crianças que despertam o divino em nós.
Logo no começo há a fala de Am, outro exemplo, que queria apenas confessar o amor pela família, mas trouxe reflexões sobre amor, liberdade, tradição, aceitação, serenidade.
Mas, não nos percamos na viagem. Feito a história de Sendak, "Onde vivem os monstros", com a qual dialogamos também, por mais que tenhamos percorrido mares para além de nossa ilha, vendo o quão vasto era o mundo, sempre era imperioso voltar para o nosso lugar onde deveria estar esperando um leite quentinho no colo da mãe. O sempre e terno retorno para a salinha onde retirávamos as máscaras era um treino ininterrupto para o dia em que não mais precisaríamos tirá-la, por ela não mais existir.
- O que você levou do Y?
- Levei ele comigo. E você?
- Não levei nada, decidi ficar.
Não levar nada, decidir ficar. Quando não mais se leva, quando se fica, é que se está onde se deveria estar. Analise isso nas quatro perspectivas, e seja feliz.
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