sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Sobre Palhaços Tristes

Me deu uma vontade de soltar um palavrão, daqueles bem caprichados.
Daqueles que explodem pra fora da boca da gente, de um jeito que todo mundo ao redor chega se assusta. 'Eita! E ele fala palavrão assim também, é?'
Ora po***, falo. Falo sim, ué. Depende um bocadinho do contexto, mas sim.
Agora por que diabos é que eu tô com essa vontade tão forte, tão urgente e tão sedenta por um grito?

Deixa eu me explicar.
Sempre gostei muito de um filme em específico do Selton Mello. 'O Palhaço' (risos, de uma ironia beeeem irônica e redundante). O pior é que já gostava muito desse filme bem antes de sequer pensar que eu era Mungango, e que Mungango era eu. Devia estar na plenitude (mentira) do Ensino Médio quando assisti ele pela primeira vez. E por quê eu gostei tanto desse filme?

Por que ele mostrava um palhaço triste.

Sim, ca*****, um palhaço triste. Arrisco até dizer que um palhaço numa depressão bem lascada de ruim. Quando comecei a escrever poesia, até fiz uma girando muito em torno disso.

"Se ele é quem faz todo mundo se abrir,
Quem é que vai fazer o palhaço sorrir?"

Talvez algum dia até poste ela inteira por aqui.

Tá, mas e daí, Dr. Mungango? Tu tá com vontade de sair xingando a torto e a direito por conta de um palhaço triste?

Pu** que pariu, não! (Mas sim, um pouco.)

Tu já parou pra pensar nisso? Em quantos palhaços tristes tu já viu na vida?
Eu te dou uns minutinhos pra pensar.

...

Pronto?
Pois é. Até tem, num é? Vez por outra aparece aqueles palhaços que têm umas lágrimas  marcadas no rosto. Mas, eita! Um palhaço triste?
Sim. Triste. Muito triste, pouco triste, numa depressão fu**** de lascada ou só meio cabisbaixo por que a torrada dele caiu no chão com a manteiga virada pra baixo.
Mas isso parece tão estranho!
Como que um palhaço vai ser um palhaço bom assim?
Ele não devia ser um epítome de felicidade e alegria? (Sim, eu fui pesquisar no Google o que era epítome - símbolo de ~ ou alguma coisa nesse sentido)

Que me***, ó. Não é bem por aí não.
O palhaço é gente como a gente. O palhaço ri com besteira, o palhaço chora quando bate o mindinho na quina daquele móvel (e pode xingar mais do que menino-véi-amarelo-do-buchão quando descobre que palavrão existe).
Palhaço solta pum. E nem adianta frescar por que eu sei que tu solta pum também, pode mentir pra todo mundo, mas a mim tu não engana.
E palhaço fica triste. Às vezes só um pouco, mas às vezes o negócio é tão pesado que parece que é difícil de levantar da cama todo dia de manhã.

Pois é.

Complicado, né?

Pois me diz, quem foi que te disse que não existe palhaço triste? Quem diabos que botou na tua cabeça que palhaço tem que ser 100% feliz contente e saltitante, o tempo todo? Porque não é bem assim que as coisas funcionam no mundo real. E é por isso que eu gostei do filme do Selton Mello. Porque ele era cru. Ele mostrava o palhaço como ele era. Com ou sem uma maquiagem. Com ou sem uma máscara.

Deixa eu te fazer um pedido, agora. Pensa em todos esses exemplos que eu te falei com "palhaço". Pensa neles, e troca todos esses "palhaços" por "uma pessoa", ou "alguém", ou um "a gente".

Um "você".
Ou um "eu".

Às vezes dói, né?
Às vezes não dá nem vontade de levantar da cama de manhã.
Talvez tenha um motivo bem claro pra essa dor aparecer, ou talvez a gente precise pensar bem muito até entender o que tá acontecendo.

Mas isso faz parte. Acontece, ué.

Com. Todo. Mundo.

E não tem por quê fingir que isso não acontece. Não te por quê achar que um palhaço tem que estar 100%, 100% do tempo. Não tem por quê pensar que qualquer pessoa neste mundo tem que estar feliz o tempo todo.

Me diz quem foi que disse que tristeza não é normal? Quem disse que não pode chorar? Quem disse que pra 'render' na sociedade e ser um membro exemplar da espécie humana você precisa estar sempre feliz?

Pois olha só, deixa eu te contar um segredo:
Se alguém já te disse essas coisas aí, é mentira, viu.
Mas pense numa mentira deslavada.

Agora vai assistir 'Divertidamente'. Vai lá assistir 'O Palhaço'. Vai assistir o filme em que o cachorrinho morre no final e todo mundo parece que chora até não ter mais uma gota véia miserável de água no corpo.
Pode chorar, pode ficar triste. Pode sentir.

Pode sentir.

Ok?
Pode sentir. E aí, quando você estiver um pouco melhor, cê volta aqui.
Aí você pega e junta todo o ar que conseguir dentro dos teus pulmões, toma fôlego até não caber mais, e diz um palavrão com todo o gosto.
Entendeu? Pode dizer, sim. Hoje em dia até as crianças véia de onze anos fala mais palavrão do que a gente.
Pode tomar teu espaço reservado se for o caso, colocar um *bip* no áudio ou pôr um monte de asteriscos.
Eu entendo.

Aí quando cê voltar aqui, pode pensar noutro título pra esse texto. Eu deixo tua cabeça bem livre pra inventar outro, tá? Mas deixo uma recomendação, já de cara:

Sobre Pessoas Que Também Falam Palavrão.

Pode ficar triste. Pode falar palavrão. E aí, quando as coisas melhorarem, porque eu sei que vão, tu vai ver como é ficar feliz de verdade.

E pode ficar pu** da vida com essa besteira toda de se dizer que 'as pessoas não podem ficar tristes'.

Att.,
Dr. Mungango.

P.S.: Desculpa o textão. É que eu realmente tava bem pu** mesmo.

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