quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Sobre o meu primeiro curso de Clown - Dia 5

Último dia. Fui feliz e triste. Com as costas e pernas e joelhos doendo, mas quase esperando que tivessem mais dias de Yoga locão pela frente. Fui. Mochila cheia. Roupas do palhaço, nariz, tênis e as bolinhas que eles deram pra gente aprender malabares, no segundo dia, e que eu já tava bolado por ter que me despedir (sem aprender a fazer os truques que o Danilo [o cara das garrafas de malabares na bolsa, no primeiro dia] me ensinou).

Meio que da vontade de começar a narrar pelo fim. Por como foi difícil me despedir da galera. Como foi massa o abraço coletivo no fim e tal. Como eu voltei pra casa com aquela sensação muito boa de cansaço que você tem quando tem um dia super produtivo e pleno. Mas vou tentar começar pelo começo.

A gente chegou e a vibe já era diferente. Dos 27 que começaram o curso sobraram nem 20 direito. Eram menos dreads, tatuagens, piercings e roupas alternativas e agora eram mais amigos e camaradas. Rolaram umas piadas sobre eu fazer medicina e tal. Rolou bandinha improvisada enquanto os facilitadores não chegavam. Todo mundo já vestido e maquiado, alguns já até de nariz, dançando o reggae que a gente tava tocando lá. Uma vez surrupiadas minhas maracas tive que me virar com o Gogó e uma concha de feijão e uma caneta. Foi tão foda :')

Eles chegaram. Viram todo mundo pronto. Ficaram putos hehe. Maldito trânsito. Tava rolando umas manifestações no centro. Tiro, bomba e pneu queimado. Tava difícil chegar no teatro. Muita gente se atrasou. Muita gente chegou suado. Eu nem sabia o que tinha rolado. Soube na hora.

A ideia inicial era todo mundo se arrumar de palhaço e ir pro Mercado Central. Desconstruir um lugar que já é uma desconstrução do cenário normal (mas que é algo "habitual" em fortaleza. Algo com que já nos acostumamos.) A manifestação ia atrapalhar nossos planos. Mas, aparentemente já tinha diminuído quando todo mundo se aprontou. Além do mais, NINGUÉM AQUI TEM MEDO DE POLIÇA NÃO RAPÁ! Acabamos saindo do teatro. Eu tava com a sensação de que éramos ousado demais. mas ia ser massa.

Fomos por dentro do parquezinho lá do Teatro Antonieta Noronha. Aparentemente, o parque é dividido entre o teatro, a secretaria de cultura da cidade um palácio lá não sei das quantas que é importante também. Fomos por dentro. Infiltrados. Os facilitadores, vestidos de gente, ficavam falando pra não vacilar com polícia. Se acontecesse algo agrupar e tal. Tive a sensação de que todo mundo alí já tinha participado de manifestações e ri, comigo mesmo.

De boas, 20 palhaços no parque e desce dois poliça com uma espingarda do tamanho do meu braço e um spray de pimenta que parecia uma garrafa de dois litros. Todo mundo lembrou do Stop! na hora. Exceto uns que se esconderam e subiram arquibancada com tudo Uns mais ousados falaram alguma coisa. Eles fingiram que nem viram a gente. Eu fiquei bolado porquê meu Bom dia foi ignorado. Acho que a espingarda devia ser muito pesada e deve ser difícil falar segurando aquele treco.
Saímos de fininho, marcha lenta. Até que chega outro policial. Para. Encara a gente. Continua encarando. Liga o rádio:
-Volta pessoal. Não eram manifestante invadindo o parque não. É o pessoal do teatro.

Todo mundo infarta de rir. Uns morrem de verdade. Continuamos no jogo de "escapar da polícia" e saímos de fininho, suspeitos. Muito jogo e interação até chegar no mercado. Os facilitadores aprenderam a valiosa lição de que Siga o Mestre nem sempre é uma boa brincadeira se você tem 20 palhaços completamente diferentes no meio da rua. Foco não é bem um dom inato.

O mercado foi um brain storm de vida real. Ao mesmo tempo em que eu tava doido pra atuar eu tava doido pra ver a atuação dos outros. Mil palhaços diferentes. Eu ansioso pra jogar com a maioria deles. Mas acaba que o Mercado tem seus próprios palhaços e aquilo é tão enorme e gigante. Sim. Enorme e gigante. O Mercado é um universo. Sério. Realidade dilatada. Não dá pra dizer que a gente ficou só uma hora e meia lá dentro. Até porquê eu sai de lá completamente banhado de suor. Exausto. Dolorido. Mas super excitado. A rua é muito fantástica. Uma vibe muito diferente do hospital. E um ambiente muito mais duro de quebrar, algumas vezes. Mesmo o Mercado...

Não sei explicar. Não da pra narrar direito tudo o que aconteceu lá. Só sei que vivi jogos completamente diferentes dos que já tinha vivido e que eu vi, num público real, os truques que aprendi funcionarem. Fiquei triste por não ter mais palhaços que eu conhecia lá. E fiquei meio bolado com os facilitadores, que ainda tavam insistindo um pouco na vibe do Siga o Mestre quando tinham 20 palhaços com TDAH e Transtorno de Ansiedade Generalizada doidos pra conhecer o mundo infinito que era o mercado naquele intervalo de duas horas.



E ai, terminou. Abraço, beijo, massagem nas costas, "vamos combinar de sair" e a promessa de nos encontrarmos no Passeio Público dia 22 pra apresentarmos atos num palco improvisado. Vou sentir falta de muita coisa. Provavelmente não do Yoga locão. Mas foram cinco dias incríveis. E, se eu não tiver me tornado um palhaço melhor, posso dizer que ao menos me diverti pra caralho e vivi muita coisa. Vivi muita gente. Me vivi muito. Sei lá.

(Meus joelhos continuam inchados)

Mayko - Caju

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