terça-feira, 18 de agosto de 2015

Primeira visyta

Foi tanta coisa misturada que eu nem sei por onde começar. De primeira rezar pra que dê tudo certo, de segunda repensar na maquiagem, de terça recolocar a roupa só pra garantir que tá tudo bem, de quarta o dia que chega. Foi numa quarta-feira. Quase tão difícil pra marcar a data foi convencer a médica de que tínhamos combinado nesse dia. Começamos já com alguns “não”: Não vai entrar... Não vai visitar... Não tem muito tempo. Entramos, visitamos e olha que foi por um bom tempo! Quando todos colocaram o nariz e olhei ao redor, por um momento fiquei de plateia, assistindo as brincadeiras e pensando no que eu ia fazer. Até que fui indo, fluindo, aos poucos.

Outro “não”. Esse me quebrou um pouco. “Tá, com licença” e um empurrãozinho só pra garantir que o palhaço não vai atrapalhar aquele ambiente sério onde só se pensa em correr de um lado pro outro. Quase parei ali mesmo. Mas tudo bem né, é a vida e vai continuar acontecendo.

Passamos tanto tempo no térreo que parece que esquecemos de subir, o problema é que não tinha mais tempo.... Decidimos levar as bolsas pros carros pra podermos ficar mais. Há quem diga que esse momento foi uma quebra e que dificultou a volta pro hospital. Pois eu digo que sou grata por esse momento! Nesse caminho no meio da rua eu pude me soltar mais, brincar e me sentir começando a construir minha doutora-palhaça. Quando voltamos ao hospital entramos por outro lado onde tinha bem mais crianças e eu ouvi uma frase de alívio “ah, aqui estão as crianças!” a você que disse isso: sinto-me contemplada. Quando subimos e nos dividimos nos andares foi a parte que me fez não achar tão ruim o primeiro percurso. Existem pessoas que querem brincar em um ambiente sério onde só se pensa em correr de um lado pro outro.

Queria falar de cada coisa que aconteceu lá, mas sei que é sem condições escrever tudo aqui, então, vou me deter em duas de forma mais específica. Como relatado acima, antes de irmos deixar as bolsas nos carros, foi um momento não muito legal, eu cheguei a pensar no porquê que esse projeto existe, entenda que não era o porquê que estou no projeto, é o que fazemos demais em um hospital, quem sabe a gente só estava atrapalhando mesmo. Até que uma mãe parabenizou pelo trabalho e disse que era ótimo a gente estar ali já que antes eram elas que tinham que animar as crianças. Nesse momento eu entendi que a gente tinha sim importância ali dentro, mesmo que algumas pessoas não enxergassem. Outro ponto foi quando um menino que a mãe disse que tinha medo de palhaço deixou que eu e outra doutora-palhaça estrássemos no quarto. Foi um momento de enxergar o “sim” por detrás do “não”, colocar em prática o palhaço de hospital que não chega cuspindo fogo, ocupar os espaços chegando numa velocidade baixinha até bem pertinho do menino. Perguntar se pode continuar e a cabeça dele balançar dizendo que sim. Um sim arriscado, mas quando que o palhaço não arrisca?


Talvez um dia eu seja grata pelos “não” que eu recebi. Mas eu sou grata de verdade pelos “sim”, seja daquela funcionária que mal olhava pra mim, mas dava uma risadinha sempre que eu falava com ela, seja daquele menino que tava doido por uma disputa de dança, da menina que adorava fazer intriga e dizer que meu nariz não era meu, da tia que me prometeu um sanduíche de laranja. Do menino que me deixou chegar perto, da mãe que me devolveu o sentido do projeto que acabei de entrar.


Rafaela Medeiros

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