quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Sobre a primeira visita (e talvez um pouco mais)



Ultimamente, percebi que tendo a gostar mais de observar cenários do que de participar deles. Prefiro assistir à vida alheia a ser a estrela da minha. Essa é minha zona de conforto, em que apenas sou espectadora do espetáculo de terceiros. E, (in)felizmente, o palhaço Tenta me tirar dela.
Isso é o que amo e odeio nele. 
Minha primeira visita resumiu-se em tentativas. Tentar me sentir à vontade com o peso do nariz vermelho, que antes já me derrubara. Tentar não chorar de nervosismo. Tentar entrar em sintonia com algum dos outros tantos palhaços que lá estavam: uns pulavam, dançavam e se sentiam à vontade com as crianças; outros não entendiam as brincadeiras e perdiam a voz em meio ao fuzuê. E eu no meio de tudo isso, olhando, me juntando à plateia e aplaudindo meus companheiros. Com a certeza de que estava fazendo tudo errado, de que, se fosse para só assistir, podia muito bem ter ido de Amanda, sem a necessidade de me montar. E isso foi me trazendo um nervosismo antigo, uma sensação de não pertencer. De ser "outsider".
E aí houve a quebra. 
Os antigos acharam ruim, pois tivemos que "sair" do palhaço. Mas e quem nem tinha entrado? Para mim, foi um momento de alívio. Alívio de não mais ver o Dindim, mas o Vanildo. Não mais a Relogynho, mas a Rafa. Foi a hora de conseguir respirar com calma, de confessar para alguém que não tava rolando para mim, de inspirar fundo e de procurar coragem para voltar ao hospital. 
E, nessa volta, o dia se salvou. Ao nos separarmos nos andares do Sabin, fiquei com três palhaços com quem não imaginava ter tanta sintonia, em especial uma com um pitó no alto da cabeça que olhava direto para o relógio e agitava umas maracas. 
Houve momentos ruins e tensos, quando arrancaram meu nariz, e me joguei no chão porque não conseguia respirar, por exemplo. Mas também existiram aqueles que me fizeram ter vontade de continuar, como risadas e brincadeiras com pessoinhas miúdas e não-tão-miúdas e cumplicidade com meus colegas palhaços, quando nos olhávamos com surpresa, nossos olhos dizendo "caramba, tá rolando!".

Minha relação com o palhaço nunca foi de liberdade ou de espontaneidade, mas de desafio, de desconstrução e de ansiedade. Desafiar minha timidez e minhas limitações. Desconstruir meus conceitos de ridículo e minha necessidade de não passar vergonha. Ficar ansiosa pelo desconforto causado por tudo isso. 
Depois da primeira visita, porém, devo acrescentar a essa lista Gratidão e sensação de Querer Mais. Agradecer às crianças e aos outros palhaços pelos empurrõezinhos de incentivo (ou não) que recebi. Querer sentir cada vez mais tudo o que sinto quando coloco minha roupinha e meu nariz, seja algo bom ou ruim. 

Preta. 

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