domingo, 10 de agosto de 2014

O primeiro de muitos!

          Deu certo, sim! Foi mágico, foi sublime, foi a realização de um sonho, foi melhor do que todos os meus pensamentos positivos juntos! Mas lógico, antes de todo o final feliz, tem o medo. Dizia a mim mesmo que o medo não poderia me derrubar, e me ensinaram que a gente deve brincar com o medo, assim como o rapaz brinca com um cigarro de mentira entre os dedos. O medo, pra mim, é um eterno sinal de alerta.

         Sim, isso porque eu sou daqueles que é movido pela emoção, e temo muito pela sistematização da vida. Sempre que subo num palco, pra fazer qualquer apresentação, por mais que já seja um tanto quanto acostumado, sempre escuto os outros falando num certo frio na barriga, o qual eu também sinto. E quero sentir sempre, pois esse frio na barriga representa medo, e no dia que eu perdê-lo, vou perceber que deixei a coisa sistemática, e me decepcionarei comigo mesmo. 

         Mas não havia palco, nem platéia definida. Não havia um protagonista, um diretor, um roteirista, figurinista, paisagista, baixista, cotista, nada! Haviam palhaços, e pessoas, e corredores, e portas, e janelas, e só. Não é preciso de muito, nem de coisas específicas pra que a mágica aconteça. E as borboletas que roíam-me por dentro, de início me tiraram a voz. PENSEI NO MEU PALHAÇO, MAS NUNCA PENSEI NA VOZ DELE, COMO PODE?

         Calei-me diante de tudo. Marmota caminhava pelo hospital com seu andar típico: o que não faz sentido nenhum, mas que mais parece que ele está todo assado. Não conseguia falar. Tinha medo. E mais uma vez, brinquei com o medo, E FALEI. Era um simples “Olá”, cumprimentando quem estivesse no corredor, levantando a perna direita que cambaleava enquanto o Marmota andava. E assim surgiram onomatopeias, palavras com sentido, frases... OS BENDITOS JOGOS SURGIRAM!

         Fui a marmota que o Marmota sempre me mostrou ser, com todas as palavras, e gestos, e danças, e olhares e tudo o que ele sempre quis fazer. Marmota brincou com tudo e com todos, e foi feliz alí. Na verdade, ele me fez feliz! Pelos olhos dele eu via crianças sorrindo, saindo da monotonia e da monocromática daqueles quartos. As cores saíam dos seus olhos e chegavam aos meus, mostrando como é esse sentimento aconchegante de ser importante pra alguém.

         Mas na verdade a felicidade maior, pelo o que o Marmota me contou, não vinha das crianças, por mais que elas fossem as que mais sorrissem. Mas vinham dos seus familiares. Mamães e papais que não podem fazer muito por seus filhos doentes, a não ser entregar-los em suas orações e ficar próximos para tentar ser um acalento pra dor. O palhaço parece ser o remédio para a dor da criança e para todas as dores que as mamães e papais tomaram delas pra si, implorando a um Deus que lhes tirassem aquele sofrimento todo.


         Marmota fez seu carnaval. Mas infelizmente, seu desfile tinha um limite para poder findar-se. E findou, com a boa e velha ligação do patrão. Do Chefe. E ele entendeu bem isso, de que toda brincadeira precisa de um fim, pra que uma outra comece. Marmota nasceu, enfim. E por mais que ainda não saiba andar direito, a vida é um eterno aprendizado. Mas me desculpem: ele nunca vai andar direito. 


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