Deu
certo, sim! Foi mágico, foi sublime, foi a realização de um sonho, foi melhor
do que todos os meus pensamentos positivos juntos! Mas lógico, antes de todo o
final feliz, tem o medo. Dizia a mim mesmo que o medo não poderia me derrubar,
e me ensinaram que a gente deve brincar com o medo, assim como o rapaz brinca
com um cigarro de mentira entre os dedos. O medo, pra mim, é um eterno sinal de
alerta.
Sim, isso porque eu sou daqueles que é
movido pela emoção, e temo muito pela sistematização da vida. Sempre que subo
num palco, pra fazer qualquer apresentação, por mais que já seja um tanto
quanto acostumado, sempre escuto os outros falando num certo frio na barriga, o
qual eu também sinto. E quero sentir sempre, pois esse frio na barriga
representa medo, e no dia que eu perdê-lo, vou perceber que deixei a coisa
sistemática, e me decepcionarei comigo mesmo.
Mas não havia palco, nem platéia
definida. Não havia um protagonista, um diretor, um roteirista, figurinista,
paisagista, baixista, cotista, nada! Haviam palhaços, e pessoas, e corredores,
e portas, e janelas, e só. Não é preciso de muito, nem de coisas específicas
pra que a mágica aconteça. E as borboletas que roíam-me por dentro, de início
me tiraram a voz. PENSEI NO MEU PALHAÇO, MAS NUNCA PENSEI NA VOZ DELE, COMO
PODE?
Calei-me diante de tudo. Marmota
caminhava pelo hospital com seu andar típico: o que não faz sentido nenhum, mas
que mais parece que ele está todo assado. Não conseguia falar. Tinha medo. E
mais uma vez, brinquei com o medo, E FALEI. Era um simples “Olá”, cumprimentando quem
estivesse no corredor, levantando a perna direita que cambaleava enquanto o
Marmota andava. E assim surgiram onomatopeias, palavras com sentido, frases...
OS BENDITOS JOGOS SURGIRAM!
Fui a marmota que o Marmota sempre me
mostrou ser, com todas as palavras, e gestos, e danças, e olhares e tudo o que
ele sempre quis fazer. Marmota brincou com tudo e com todos, e foi feliz alí.
Na verdade, ele me fez feliz! Pelos olhos dele eu via crianças sorrindo, saindo
da monotonia e da monocromática daqueles quartos. As cores saíam dos seus olhos
e chegavam aos meus, mostrando como é esse sentimento aconchegante de ser
importante pra alguém.
Mas na verdade a felicidade maior, pelo
o que o Marmota me contou, não vinha das crianças, por mais que elas fossem as
que mais sorrissem. Mas vinham dos seus familiares. Mamães e papais que não
podem fazer muito por seus filhos doentes, a não ser entregar-los em suas
orações e ficar próximos para tentar ser um acalento pra dor. O palhaço parece
ser o remédio para a dor da criança e para todas as dores que as mamães e
papais tomaram delas pra si, implorando a um Deus que lhes tirassem aquele sofrimento
todo.
Marmota fez seu carnaval. Mas
infelizmente, seu desfile tinha um limite para poder findar-se. E findou, com a
boa e velha ligação do patrão. Do Chefe. E ele entendeu bem isso, de que toda
brincadeira precisa de um fim, pra que uma outra comece. Marmota nasceu, enfim.
E por mais que ainda não saiba andar direito, a vida é um eterno aprendizado.
Mas me desculpem: ele nunca vai andar direito.
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