- O que é Ypud? perguntei, ignorante
- Y por um dia, Mayko. Sussurraram, em resposta.
- Ah, valeu... ér...EU QUERO!
Na época agi por um impulso meio doido. Tinha acabado de chegar no projeto. Afinal, o que eu queria ajudando a coordenar uma das principais atividades do Projeto? Sei lá.
Colocaram o meu nome.
Fiquei feliz.
Lembrei de 2013. Ano que entrei na faculdade. Um primeiro semestre MEGA conturbado, um mundo novo, morar sozinho, se adaptar, novos amigos, nova casa, nova cidade, mil nomes de ossos pra lembrar e... BUM! Eis que surge a possibilidade de me juntar, nem que só por um dia, à turma dos caras descolados que se vestiam de palhaço e iam visitar as crianças no hospital. "ér... EU QUERO!"
E deu certo, na época. Aliás, deu muito certo.
Na época também foi impulso (afinal, estamos falando de mim). Eu mal conhecia o projeto e não tinha ideia da dimensão do que aquela experiência significaria. Mesmo assim, parecia uma ideia legal.
"Puts! Esqueci que eu sou péssimo pra ser engraçado --'
"Puts! Esqueci que eu sou péssimo pra ser engraçado --'
Tudo bem... eles disseram na apresentação do projeto que não precisava ser engraçado. Se tudo for muito mal, eu congelo lá na hora ou saio abraçando as pessoas e distribuindo bom-dias (obrigado ABS-1)."
Enfim, dando certo, fui pra capacitação. "Caraca, já vou pro hospital próxima semana D: "
Da capacitação em si lembro de pouca coisa, pra ser bem sincero. Slides sobre "how-to-do", coisas que poderíamos enfrentar e dicas bem gerais. Lembro mesmo das dinâmicas. De um abraço apertado e demorado no escuro. De andar feito doido, sem direção nenhuma, ocupando os espaços. "Que coisa abstrata e doida é essa?". Lembro de ter saído com o sentimento de "meu deus, o que vai ser dessa bagaça? Esse treco vai dar certo não. Aprendi quase nada ):" Mal sabia eu que tinha aprendido tanto. Ou não, né? Enfim.
Da primeira visyta: um palhaço com nome improvisado de últimos 10 minutos e uma gag que falava muito mais sobre mim do que eu suspeitei, na época. Uma criança que tinha acabado de convulsionar. Eu, de frente com mãe e com criança pós-convulsionada que não parava de chorar. Flauta transversal na mão. Colocando toda a minha concentração em dedilhar uma música alto o suficiente pra ser ouvido e baixo o suficiente pra não perturbar a criança. A criança para de chorar e dorme. A mãe me abraça e diz obrigado. Eu chorando, emocionado, só um pouquinho no corredor antes de voltar pra dançar "Ah Lek Lek" com umas crianças hiperativas. Chegar em casa morto de cansado e tendo certeza que tinha vivenciado uma das coisas fantásticas que a faculdade poderia me proporcionar.
Da primeira visyta: um palhaço com nome improvisado de últimos 10 minutos e uma gag que falava muito mais sobre mim do que eu suspeitei, na época. Uma criança que tinha acabado de convulsionar. Eu, de frente com mãe e com criança pós-convulsionada que não parava de chorar. Flauta transversal na mão. Colocando toda a minha concentração em dedilhar uma música alto o suficiente pra ser ouvido e baixo o suficiente pra não perturbar a criança. A criança para de chorar e dorme. A mãe me abraça e diz obrigado. Eu chorando, emocionado, só um pouquinho no corredor antes de voltar pra dançar "Ah Lek Lek" com umas crianças hiperativas. Chegar em casa morto de cansado e tendo certeza que tinha vivenciado uma das coisas fantásticas que a faculdade poderia me proporcionar.
Mas esse texto também não é sobre isso.
Esse ano, membro do projeto, a capacitação dos Y Por Um Dia foi diferente. Ou fui diferente? Tanto faz. Provavelmente os dois.
Mas dessa vez eu tava lá na frente, perto dos veteranos que apresentavam a capacitação. Meio inseguro por ter acabado de chegar e já estar ali. Meio feliz por ter acabado de chegar e já poder estar ali. E ninguém agiu como se eu não pudesse. Na verdade, era tão normal pra todo mundo eu estar ali que me assustava, um pouco. Mas esse também não é o ponto.
O ponto é que estar ali, mudando completamente de local em apenas um ano, foi um plot twist muito irado. E dessa vez, andar aleatoriamente pela sala, se permitir dançar e vestir o nariz tinham significados enormes pra mim. Absolutamente enormes. Eu sentia muito mais tudo aquilo. E isso era muito bom.
Melhor que tudo isso, porém, era ser plateia de uma dúzia de desejos que assistiam a gente falando. De uma dúzia de cabeças balançando entusiasmadas, ou bocas sussurrando "sim's" e sorrisos de empolgação se abrindo cada vez que a gente falava sobre sensibilidade, ou sobre os sorrisos das crianças, ou sobre como é forte a conexão que se estabelece com elas. Definitivamente, a melhor parte de tudo foi ser plateia desse sentimento que eu vi tão forte neles. Aquilo me inspirou muito. Muito.
Depois, nas dinâmicas, vi várias criatividades absurdamente diferentes nos instigarem com jogos que até então não tínhamos pensado. Ou pelo menos eu não tinha pensado. E, teoricamente, eles não passaram por capacitação alguma. Provavelmente não foram estimulados a "escovar os dentes no nível 5" antes. E mesmo assim fizeram-no com toda a des-maestria que um bom palhaço poderia ter. Uns mais que outros, é claro. Alguns eram mais tímidos e retraídos. Mas todos pareceram se divertir com aquilo. Todos me fizeram rir gostosamente.
"Cara, colocar o nariz é muito irado, saca? Eu me senti muito diferente" Disse um deles.
"Meu deus, que fantástico!" pensei. "Eles já sentem isso desse jeito? Essa liberdade? Esse poder incrível que eu descobri no nariz a tão pouco tempo..."
Talvez eu que seja lento demais, mas, na minha época de YPUD, o nariz era mais um crachá do que um "Eu me sinto tão diferente". Vim acessar esse sentimento a poucas semanas atrás.
Ver eles sentindo e se permitindo, com o nariz, me fascinou.
Me fascinei com a arte que eles tinham dentro deles.
Me fascinei com os olhares de fascínio com os quais eles olharam pra nós quando, na verdade, eles estavam fazendo o maior espetáculo.
Talvez eu que seja lento demais, mas, na minha época de YPUD, o nariz era mais um crachá do que um "Eu me sinto tão diferente". Vim acessar esse sentimento a poucas semanas atrás.
Ver eles sentindo e se permitindo, com o nariz, me fascinou.
Me fascinei com a arte que eles tinham dentro deles.
Me fascinei com os olhares de fascínio com os quais eles olharam pra nós quando, na verdade, eles estavam fazendo o maior espetáculo.
Me senti tão coadjuvante. E isso foi tão bom. Mesmo assim eles nos olhavam como se olhassem pra grandes clowns. Ri disso a semana toda. Lembrei que já tive (e que ainda tenho) esse olhar pra muitos dos velhos. Lembrei que alguns dos velhos que estavam lá na frente comigo dessa vez, também estavam no meu tempo de YPUD, a long time ago, no ano passado.
Memórias quentes.
Memórias quentes.
Lembro agora, enquanto penso no título pra esse texto, de algo que escreveram quando eu entrei no Y. Algo que EU VI, com meus próprios dois olhos que ostento embaixo dessa testa gigantesca.
"Não precisa estar no projeto pra ser Y"
A dúzia (ou pouco mais, desculpem a falha na matemática) que eu vi, na quinta feira, são Y desde sempre, muito provavelmente. Eles tem o Y dentro deles.
Com certeza, tem.
Com certeza, tem.
Ouso dizer que penso que ser Y não se resume a ir de palhaço pro Hospital. É mais sobre o SIM constante ao jogo. E o jogo tá por toda parte. Eles não são ou serão Y só por um dia, no fim das contas. Já carregam o Y dentro deles, deus sabe a quanto tempo e por quanto tempo mais. E talvez o verbo correto nem seja Ser, mas Ter. Visto que o Y é algo que antes se carrega consigo, para depois se fazer Ser.
Mas enfim, isso é divagar.
Obrigado, YPUDs, por renovar o meu Y.
Por me mostrar o Y de vocês.
Obrigado pelos olhares, sorrisos, dúvidas e por me conectar ao Dr Carequinha que eu tinha esquecido lá em 2013, cheio de dúvidas, medos, improvisos e lágrimas depois de uma música e um "Obrigado" materno.
Por me conectar ao Mayko e ao Caju, igualmente cheios de dúvidas, medos e de todo esse rico resto.
Obrigado pelas memórias quentes.
Espero que vocês desfrutem cada segundo da visyta. E que cada segundo disso mude completamente o dia, ou melhor, os dias de vocês assim como mudaram os meus. Assim como ainda mudam os meus.
Um abraço bem grande e apertado. Com gosto de muito obrigado, conforto e "vai dar tudo certo".
Vai dar tudo maravilhosamente certo!
Inté!
Não morram!
Não morram!
Mayko - Caju
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