domingo, 10 de agosto de 2014

Sobre a primeira vez, maracas e um Caju que finalmente apareceu.

Se a jogo começa ainda na fila,  o meu jogo começou vários dias antes da primeira visita. Esconde-esconde com o Caju.
    Por dias a fio vim o procurando dentro de mim, desde que o perdi. E a sensação de distância dele me provocava um medo enorme. Um insegurança sem tamanho. O que eu faria se não o encontrasse até o tão esperado Dia?
    Juntos, eu e Caju, esperamos muito pelo Grande Dia. Estávamos eufóricos para enfim visitar. Para nos banharmos um do outro. Para finalmente respirar através da Máscara das Máscaras. Sem máscaras nenhumas.

   Mas o Caju sumiu.

    Às vezes mostrava só um pouquinho de si, ou dava um grito pra que eu soubesse onde ele se escondia, mas, por mais que eu achasse que sabia onde ele estava, sempre acabava sozinho. Mesmo quando o achava por algum curto tempo, perdia-o de novo. E esse "esconde-esconde" foi ficando mais e mais cansativo. O medo do Caju não aparecer foi ficando mais e mais forte. E, na véspera e na manhã do Grande Dia, a certeza de que eu visitaria sozinho, sem ele, já me afligia muito.

    "Vamos nos encontrar em um bazar? A gente pode ver algumas roupas e tal..." disse uma veterana, na noite anterior ao Dia-Tão-Esperado (e que agora ele queria tanto adiar)

Bem, não tinha muito a perder. Até porquê nem sequer as roupas do Caju  eu havia achado. E, talvez, uma manhã com uma palhaça de longa data me inspirasse. Ou pelo menos me tirasse da tensão. "Vamos".

   Acordei cedo. Bem mais cedo do que o planejado. Me arrumei mais cedo do que o planejado. Comi mais cedo do que o planejado. Sai de casa bem mais tarde do que o planejado.

    No bazar, pouco mudara. Roupas, pessoas, uma palhaça de longa data com boas ideias, mas nada do Caju. Em lugar nenhum. Até que... "OLHA ESSE SHORT". Uma coceirinha na barriga dizia um tímido "talvez" e, olhando pro short vermelho de listras coloridas (que era curto demais pra ele [FANTÁSTICO!]) ele não conseguia parar de sorrir. "Talvez..."

   O tempo passou, andaram muiiiito em busca de mais coisas pros outros palhaços. Uma longa espera, uma caminhada longa, um transito longuíssimo. O cansaço foi tomando conta, a fome foi tirando ainda mais a paciência e a tranquilidade. "Puxa vida, vai dar mesmo pra alegrar alguém desse jeito?"

   Almoçamos, enfim (ALELÚIA). Até que fiquei um pouco menos impaciente. Ainda muito cansado. Ainda muito inseguro. Um Caju ainda perdido. 

No fusca rosa, começamos a viagem de ida pro Hospital, onde tudo deveria acontecer. Onde talvez não acontecesse. "É...ta ficando perto. Quase na hora". Cada quarteirão por onde passávamos me colocava mais perto dos meus medos. Do meu não achado.

   Coloquei Kids pra tocar no fusquinha. "Se isso não vai fazer o Caju aparecer, pelo menos deve me animar".
Não, não funcionou.

   Até que..."AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHH!!!! TIVE UMA IDEIA! VAMOS TOMAR SORVETE!" disse a palhaça mais velha.

Já eram 13:50 mas a ideia pareceu tão absurdamente fantástica que ninguém se preocupou muito com o atraso evidente que isso resultaria.

E, não mais que de repente, entre uma palhetada e outra, um cereal flocado com bastante chocolate dentro do sorvete e uma calda de chocolate caindo e sujando o short, um sorriso travesso começou a se mostrar. Ao sair da sorveteria, lavando o rosto, os cabelos já pareciam mais desajeitados e as sobrancelhas mais curvas. "Caju?". Uma vontade doida de dançar e pular tomando o corpo. Atravessar a rua correndo até o fusquinha só de diversão. O sorriso travesso dizendo "QUASE NA HORA! TA CHEGANDO!".

Chegaram, por fim... Senta. Respira. BÓ SE ARRUMAR, NEGADA!!

Peguei numa calça, peguei numa blusa...nada. Peguei no short vermelho com listras coloridas... "É...É ELE!!". A coceirinha na barriga gritou "CERTEZA QUE É!" e, quando o vesti, as coisas já ficaram diferentes. Vesti uma meia da cor do short e uma blusa toda amarrotada de tãããão velinha. Um friozinho na barriga...

 "Eu to me sentindo tão...haha! Que irado!"

Não tinha uma palavra boa para aquilo. Lembrou da primeira vez que se maquiou. Aquela sensação doida de euforia e medo e tensão e "let's do it" e "caraca eu to ficando doido" me inundou mais e mais e o Caju finalmente tinha saído do esconderijo. Ele finalmente tava aparecendo pra mim.

"É verdade, a maquiagem!"

A sensação sem nome crescendo e crescendo. Pulos e umas dancinhas sem jeito entre cada "me empresta o lápis?" ou "quem ta com o pancake?". A euforia tomando forma e o sorriso traquina sem sair da boca.

Cada olhada no espelho era motivo de profunda euforia. Motivo de um sorriso largo e fácil. Os dedos coçavam.

Maquiagem pronta. Só falta o meu... "MEU DEUS CADE MEU BONÉ?". Ufa, tava na bolsa.

Alguém balançou as maracas, do outro lado da mesa.
"Trouxeram minhas maracas!!!!" :D

E a euforia se transformou em música (?) quando o tremor das mãos virou chocalho dos instrumentos.
Uma sensação de pertença enorme e de...algo ainda não nomeável.

Fez-se Caju. Ou Caju o fez.
É difícil explicar. Mas a sensação de achar algo que você procurou por tanto tempo é sempre muito boa. Especialmente porquê o perdera a pouco tempo e sabia que precisava demais dele.

Acho que Caju me fez.

Só sei que a visita foi ótima. Eu e Caju brincamos, rimos, fomos bastante xingados e até nos descobrimos menos brancos do que pensávamos. E a marca de cada um daqueles sorrisos vai ficar conosco por um bom tempo. A marca de cada um daqueles que mudaram o nosso dia. Que fizeram com que, eu e Caju, nos conectássemos ainda mais um ao outro e ao mundo ao nosso redor.

Também nos encontramos nos nossos amigos. nas descobertas deles. Nos jogos que eles nos propuseram. Nos seus medos e inseguranças. Nos erros e no "meu deus tu ta tão linda!". Especialmente no de duas palhacinhas que passaram o dia com a gente. Uma super ultra Top Model internacional que deixava as mães boquiabertas e uma tal de Bauru que veio de lonjão pra cá cuidar de galinhas e tambores/bancos/qualquer-coisa e que, por mais que tivesse experiência, experimentava tudo tão intensamente e pela primeira vez quanto nós. Nos encontramos neles porque também éramos erros, medos, inseguranças e tudo o mais. 

Eu e Caju chegamos em casa cheios de histórias pra contar. Ainda vestia algumas das roupas dele e ele ainda vestia alguma das minhas. Alguns traços de maquiagem ainda no rosto. O boné ainda na cabeça. O corpo ainda se movimentando demais. A coceirinha na barriga virando fervilhão e aquela sensação engraçada e sem nome ainda pulsando forte. Os pés cansados ainda tinham vontade de dançar e pular. 

"Ta bom, Mayko, já pode deixar de ser palhaço", disse o irmão mais velho, durante a narrativa da extensa saga daquela tarde.
Podia mesmo?
Particularmente, acho que não.
Descobri que por mais que a gente se perca um do outro, o Caju ainda ta aqui em algum lugar. E eu vou sê-lo e ele me será enquanto, juntos, formos. Em cada palhetada de sorvete, em cada calda derramada no short, em cada passeio pelo centro num fusquinha cor-de-rosa, em cada sorriso que recebermos, em cada short colorido achado no meio do mar de roupas e em cada Kairós que se manifestar nele. Em mim. Em nós.

Sou Caju. 
Ele me é.
Somos.
Dancemos.



Deitado, antes de dormir, o som das nossas maracas ainda ecoavam, mais e mais, na nossa cabeça.
"To ficando doido... 
...Que sensação deliciosa!"


"Hear the shuffle of my dancing feet"



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