quinta-feira, 2 de julho de 2015

Moscas de Fruta não valem nada

Estamos ao segundo dia da ofycyna. Estou mais bruto, mais branco. Estou com cabelos mais brancos, com mais bucho. Não estou sozinho. 

Bonito ver que a corda gira, o tempo passa, e a solidão não aumenta. As horas despendidas girando o mundo nos converteram em maior amante da esperança de que há como alegrar-se fora dela. Fora de quem? Dela, da esperança. Da espera de que tudo mude. Vou me alegrando com o próprio girar do mundo. 

- Que vão! Que tolo!

Em breve meu filho terá 50 anos, selará meus olhos com um beijo, espetará a barba numa pele fria. Será minha vez de ser conduzido num giro, atravessando o umbral de um pórtico em que antes, logo antes, estava escrito "nunca mais", "no more...". Antes de entrar lá, um vento lambe o rosto, uma mosca de fruta sobrevoa os olhos. 

- Onde estão todos, meu Deus! 

É Deus quem responde:

- Estamos aqui!

Encaro o outro lado, que sempre se agitou na frente destes olhos de carne, ainda que cegos, e o que vejo? Velas amorosas a me ferir os olhos, e todos que até bem pouco eram meu apoio, minha mancha, minha marca, meu porto seguro, a me acolher de novo e com palmas e com um artesanal bolo de limão, cuja calda escorre feito o véu da vida, devassada pelos mil dedos dos gulosos.

Sabe como estamos apreendendo as coisas? Com os nervos e as entranhas. O corpo dói, a queimadura não fecha, e essa brecha emenda com a abertura que nos transpassa e provoca vômito. Uma garota havia definido bem, em outra geração: vomito de arco-irís. Difícil definir o encontro das cores, esmaecem-se até se fundir no todo.

Roda o arco-íris feito toposférica corda. As estrelas contornam os corpos, deixam-nos pontilhados. Leveza. Quero ajudá-los a passar pela corda. Maldita mosca! Sua existência é dizer em meu ouvido:

- Deixe-nozzzzzz zzzzzzentir a corda...

Fico me perguntando até onde a inutilidade essencial dessa mosca vai me levar, já que me trouxe de tanto lugar. Lá!

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