O Sol é o ponto máximo de uma corda celeste. Aquele que divide ela ao meio. Nos dois extremos da corda, entidades brincam de fazer o tempo passar mais rápido, mais devagar. Cada perímetro que a corda solar varre, vem noite, vem dia. E lá se foram quatro pulos. Os dias pularam, e mal percebi quando toquei meus pés no chão.
A corda parecia ser largada, de repente. E como era no espaço, o Sol caía leve, como neve. Eu olhava o céu, sem desejar aquele roxo. Em breve seria noite, estaria morto para eles. Alguns passarinhos se despediam: passou, passou. Os grilos já estrilavam, as estrelas surgiriam.
Foi um dia sagrado. Foram quatro. Que fiz eu neste passado? Estive presente. E quase não me recordo de tudo. A função da memória é esquecer, seu tolo! E deixar ficar no jogo das lembranças apenas o que conta.
- O que conta de novo, homem?
Conto nove que chegaram. Noventa que partiram. Ânsia de quem vem. Ancestralidade de quem vai.
O canário canta insistente. Despede-se. Cala-te, infame! Se eu calar a despedida de tudo, a alma fica? Quem sabe?
- Vai, voa! Já me vou.
- Volta, estas nove sementes são nossas.
- Que sementes?
- Estas que vão, como quem não quer, no bolso.
- Ah! Estas aqui...
- Sim, estas. Precisamos delas.
- Tudo bem. Estão podres mesmo.
Retrocedo os passos com calma, olho para o público. Seguro cada semente no bolso. A mão as abraça por inteiro. Olho para o público. Revelo o punhado que se escondia no meu jogo.
- A terra é boa aqui, não é?
- É. Deixe-as aí.
- Não as queria mesmo. Como disse, estão podres.
Olho para o público, cavo a terra. Derrubo uma, duas, três... nove. Platéia. Terra. Platéia... Terra.
- Acabou?
- Sim.
- Tchau!
- Claro!
Tomo a mochila com o resto da vida dentro. Sussurro cá comigo: "Estão podres as sementes. Em breve arvorecerão. Crianças deitarão em suas sombras, e um riso farto acontecerá. Ora o que vejo? Um ninho em cada uma delas. Quem dentro? O canário."
Meu Deus, que tempo fugaz! O céu já está azul... infinito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário