Escrevo com dois filhos ao lado. Brinca um de digitar no computador, o outro de morder um pote. Mal sabem que, entre eles, onze pessoas estão comigo (Chaves, Sombra, Cá, Joyce, Tainah, Ana, Serafim, Ingrid, Ívina, Arthur, Mayko).
Há um infinito acontecendo em cada um de nós três. O Bernardo desafia as leis da gravidade repetida e ininterruptamente, jogando tudo ao chão. Eu apanho, coloco de volto e devolvo-me à escrita. O João, que estava digitando há pouco, toma o gosto de querer chamar minha atenção e começa a me arremessar objetos. E assim... esse texto é uma escrita. E é um fluxo, feito a corda ao final.
Mas, percebe que tudo fluiu quase sem lacunas. Peço perdão - embora não me sinta tendo pecado - por ter olhado o corpo de vocês e exposto tantos detalhes. Aqui uma petéquia, ali um joelho eritematoso, um quadríceps torneado, os cabelos preenchidos de vazio, o arame do óculos delineando a sobrancelha ou mesmo os cachos se confundindo na blusa, a assimetria e a simetria dos esmaltes, a calma tatuada na pele, a simplicidade da cerimônia, o quartzo.
(João decide andar de triciclo ali no quintal, os ataques amenizam, "papai" é chamado com apelo, "deixa eu terminar de escrever, filho").
Deixa eu terminar de lembrar como as pessoas diziam o nome uma das outras alternando toques em um ritmo que quase gera violência.
A vida vem violenta com alguns. Chacoalha-nos até a vertigem. E eu propondo que passem pela corda, de novo e de novo. A corda gira como a vida. Das virtudes da corda, uma delas é que não tem piedade. Devora-nos um a um. Ou você passa com galhardia ou todos voltam. Dois loucos conversam ao extremo sobre prosódia e onomatopéia. Não há como parar para os escutar. Quem vem empurra, quem já foi convoca.
(Interrupção de escrita. Marília me chamou lá em cima. Havia algo urgente. Tinha que me enrolar com papel higiênico junto com o João para fazer o papai de múmia).
Liberto, prossigo algo preso a vocês desde às oito horas da manhã. O impulso de meus dedos acabará por chegar aos olhos de alguns. Conectados por não sei o que. Grávidos do amanhã.
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