quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Transportada pra fora de mim

Tudo começou pela simples vontade que esse dia não chegasse, faltar no dia e justificar seria uma boa ideia. Acordar às quatro e trinta da manhã com o estômago embrulhado, os pés e as mão tremendo não é fácil pra ninguém. OI, Ansiedade!! Já entendi que você está aqui.

Entrar naquela sala onde a gente ia se arrumar foi como estar na sala do começo. Uma vez que se entra não se pode mais voltar (era isso que eu achava, até que eu escutei um "VOLTA"). O medo, a ansiedade e o estômago estavam gritando dentro de mim, ao ponto do meu coração quase parar, refletindo nas mãos geladas de um novo agora, precisando, assim, de uma outra mão pra me aquecer (obrigado por isso).

Observar cada detalhe deles, das suas roupas, suas maquiagens, seus risos, me fez entender que eu não estava só nessa. Olhar naquele espelho que refletia a minha imagem, me fez ficar mais confusa, naquele momento a maquiagem era tão importante, ela me encorajava a ser eu.

Em um círculo que não tinha quebras, suas mãos me deram suporte e suas palavras chegaram aos meus ouvidos como uma música com vários tons. Chegou a hora então. O nariz não só no rosto, mas no coração. Conectados como vagões de um trem.

Esse momemnto eu chamo de gut-gut. Entrar devagar em um quarto sem choros... NOOOOSSAAAAA!!! Eles eram tão pequenos comparados a mim, mas me causavam uma imensidão sem fim. Falar na língua da Babyelândia foi a verdade mais pura que eu já vivi. Vivemos. Ele, seu pequeno violão e eu. Dançando no "passinho do bebê dorme" foi como dançar a música da vida.

 Esse momento eu chamo de Êxtase. Mirela ou Lelela, como ela se apresentou, com uma roupa rosa e seus cabelos cacheados que pareciam os meus. O seu beijo, na ponta do meu nariz vermelho, me paralisou, sua vontade de ir embora comigo e seu pedido para que eu fosse sua mãe me instigaram por alguns segundos aplanejar como roubaria ela daquele hospital.

João, ele que não queria falar comigo, que não olhava e nem deu bola, se envolveu nos meus gestos quando me desfiz das palavras faladas. Acreditar que um acesso era um relógio que marcava 27 horas, me fez entender que o tempo não importava, naquele momento, ele não existia e, que o agora é mais importante às 27 horas do dia 27 de agosto de 2017.

Queria tanto falar de todos eles, todos lindos, todos grandes, todos com seus detalhes que me chamavam atenção. No final disso tudo, percebi, então, que o nariz não pesou. Era como se fosse meu, não da cor da pele, mas, ainda assim, meu. A maquiagem nem importava mais, ela já tava toda derretida e, ao mesmo tempo que ela mostrava a Dra Palhaça que estou construindo, mostrava a Camila que sou.

 E o jogo? Eu nem percebi que tava jogando, eu nem o reconheci, eu só o vivi, eu só disse sYm. As minhas mãos, o meu corpo, o meu coração, a minha risada engraçada e as minhas desculpas disseram sYm.

Escrevo essas palavras com minhas última forças (por hoje) com os olhos chovendo e o coração, que quase parava, agora, tá batendo mais forte. A ansiedade e o medo foram passear, dando espaço para o amor e a paz.

            Termino esse texto com uma vírgula, para que não seja o fim, mas o começo,



Palavras de: Uma ansiedade
                                   Um medo
                                               Uma menina
                                                           Uma doutora palhaça sem nome
                                                                       Um coração que quase parou
                                                                              Um agora,


                                                                                                                                                Camila (A)

Nenhum comentário: