Sempre conduzido de olhos molhados pelo escuro para onde queríamos. Um vórtice o joga no mundo e, de repente, meus grandes olhos a lhe fitar. Ele ainda flutuou a atenção pelo mundo, mas meus grunhidos o faziam voltar para mim.
Entregue aos meus braços, sem muita escolha senão neles deitar, repousava-o no seio materno para lambuzar sua boca. Ele não tateava para se aconchegar. O corpo inteiro, ele todo, em bloco, voltava a ela. Sua existência despencava na dela. E naquele instante, a dela era a dele.
Por dias tivemos que entender seu ritmo. O momento certo em que sua vontade casava com nossa ação. Relaxava, então, o choro, e alcançávamos, assim, o semblante sereno. Trocávamos olhares de consenso e paz.
***
À medida que Bernardo se distancia da mãe parece voltar a me encontrar. Nem sempre é o sorriso que nos une, mas o olhar. Dois olhos enormes olhando meu macaqueado. O que para o João é um riso fácil para ele não funciona. De tudo o que faço, e que não desisto, o riso mais certo é quando o encontro, de repente, ao descer a escada, ou eu cansado, ao voltar do dia. O riso mais certo é quando desisto de fazê-lo rir.
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O que fizemos hoje? Não ver e ser conduzido. Não ver e ser chamado. Entregar-se a braços. Despencar. Felicitarmo-nos por enxergar o outro. Encontrarmo-nos num milagre cujo acerto foi não ter acertado nada.
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